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CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA


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Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.

Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:

Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 

Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.

Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;

Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;

Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;

Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;

Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;

Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;

Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;

Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        

Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.

Gllbertinho, pescador da Amazônia  

  

         

 

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Parabéns pelo tópico cara!

 

Na minha opinião só ficou faltando um tópico de extrema importância, INGERIR BEBIDA ALCOÓLICA E PILOTAR! Não tenho receio em falar que é o maior causador de acidentes fatais e não fatais. 

 

Assim como álcool e volante não combinam no asfalto na água também não, e não importa se você ta guiando ou não, um tripulante bêbado pode por em risco a segurança dos demais.

 

Boa pescarias.

 

Abraços

 

 

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4 horas atrás, Joao Manoel Leonello Lucas disse:

Parabéns pelo tópico cara!

 

Na minha opinião só ficou faltando um tópico de extrema importância, INGERIR BEBIDA ALCOÓLICA E PILOTAR! Não tenho receio em falar que é o maior causador de acidentes fatais e não fatais. 

 

Assim como álcool e volante não combinam no asfalto na água também não, e não importa se você ta guiando ou não, um tripulante bêbado pode por em risco a segurança dos demais.

 

Boa pescarias.

 

Abraços

 

 

Joãozinho,

Você está pra lá de certo. Deve ter notado que no final do post me comprometi a retomar o assunto, listando outras situações de risco que conheço e que a gente pode mitigar ou resolver. Uma delas, sem dúvida, é a do excesso da bebida quando no controle da embarcação, mas o assunto do álcool vai além disso. Abordarei essa questão com os acréscimos necessários, que se somarão a outras contribuições da turma.

Agradeço pela importante observação, que vem de encontro com o objetivo do post, que é o de disseminar o máximo de experiências e informações que contribuam para nossa segurança nas pescarias.

Forte Abraço.  

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Muito bom , isso é coisa que pelo menos eu , nunca paro para refletir o que pode ocorrer de ruim durante uma pescaria . Lendo isso , percebo que muito coisa pode ser feito para evitar muitos acidentes . 

Gostei muito parabéns !!

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23 horas atrás, Anderson Luis Ribeiro Blas disse:

Muito bom , isso é coisa que pelo menos eu , nunca paro para refletir o que pode ocorrer de ruim durante uma pescaria . Lendo isso , percebo que muito coisa pode ser feito para evitar muitos acidentes . 

Gostei muito parabéns !!

Anderson, o que nos torna mais fortes e preparados são pequenas coisas como as que postei. Fico por demais feliz por suas palavras, e sempre que puder contribuir pra que gente como nós volte sempre são e salvo das aventuras que fazem parte de nossa vida, valerá demais a pena. Loguinho vou dar sequência ao post, como prometido. Há outros perigos na Amazônia que quero abordar para os colegas do Fórum.  

Muito obrigado e um forte abraço.

Gilbertinho da Amazônia 

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showw amigo, muitas vezes quando temos que arrastar o barco, para entrar em lagos, tem que passar por cima de troncos, que sempre fico bem ligado, cobras venenosas, ficam por ali, uma vez num barco hotel, quando entramos na voadeira para ir pescar, o piloteiro tinha deixado uma toalha em cima da geleira de plásticos, que levam bebidas, ai pedi uma agua, e o cara foi pegar, não tinha uma jararaca em baixo do pano... o piloteiro PIQUIA, tomou um susto daqueles... e eu pulei longe rsrsrs... sempre e bom deixar as portas dos quartos do barco hotel, fechadas, acordar com uma dentro do quarto não e nada bom...showw de post MEU AMIGO

ue, vc não e mais o pescador de lobo graúdo da AMAZONIA ahahhahhah

boas pescarias

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1 hora atrás, FabianoTucunare disse:

showw amigo, muitas vezes quando temos que arrastar o barco, para entrar em lagos, tem que passar por cima de troncos, que sempre fico bem ligado, cobras venenosas, ficam por ali, uma vez num barco hotel, quando entramos na voadeira para ir pescar, o piloteiro tinha deixado uma toalha em cima da geleira de plásticos, que levam bebidas, ai pedi uma agua, e o cara foi pegar, não tinha uma jararaca em baixo do pano... o piloteiro PIQUIA, tomou um susto daqueles... e eu pulei longe rsrsrs... sempre e bom deixar as portas dos quartos do barco hotel, fechadas, acordar com uma dentro do quarto não e nada bom...showw de post MEU AMIGO

ue, vc não e mais o pescador de lobo graúdo da AMAZONIA ahahhahhah

boas pescarias

Fabiano, agradeço pela gentileza das palavras. É sempre bom sentir-se útil para alguém. Cara, o problema da classificação como pescador de lobó doeu, veterano e navegante como sou. Daí resolvi que se fosse assim identificado, que fosse para pescador de lobó graúdo, já que aqui tem o trairão de montão em alguns rios e represas, pelo menos não me sentiria tão diminuído. Há alguns dias, o sistema (agora tudo é sistema) me promoveu, aí não tive saída, tive de suprimir o "lobó graúdo".

Outra coisa que quero observar, é que eu contava (ou provocava) gente como você, que já passou por situação de risco, pra trazer ao conhecimento da galera. Isso é pra lá de bom, é mais uma experiência e um alerta que o pessoal (inclusive eu) deve ter em conta, e não digo isso somente em relação ao episódio da cobra no bote (aqui chamamos de voadeira). Já topei com essas bichinhas dentro de barcos, quartos e banheiros, por aqui elas são muito "abusadas". Logo, o negócio é fechar tudo, mesmo durante o dia, quando se ausentar para pescar. Valeu mesmo.

Forte Abraço, amigão.

        

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Em 10/11/2016 at 04:53, Gilbertinho disse:

Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.

Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:

Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 

Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.

Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;

Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;

Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;

Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;

Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;

Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;

Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;

Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        

Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.

Gllbertinho, pescador da Amazônia  

  

         

 

Muito Bom Gilbertinho. Valeu por compartilhar. Boas dicas para nós da cidade grande principalmente. Grande abraço

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Grande Gilbertinho, ainda sem avatar... :blush:

Na mesma finalidade de prevenção, não é incomum voltarmos para o barco hotel, ou acampamento, já no "lusco fusco" do entardecer, onde a claridade é pequena e a escuridão da noite ainda não se apresentou de forma contundente ! Este é um dos horários mais complicados para se navegar, mesmo com a perícia do "guia de pesca" (ou piloteiro), que comumente acha conhecer "os caminhos" do rio, sejam as localizações dos canais, sejam os bancos de areia ou margens assoreadas... Via de regra esta é uma realidade para quem faz isso praticamente ao longo da vida, PORÉM existem situações inesperadas onde o descuido pode gerar um baita acidente !

Pois então (acho até que já escrevi isso num dos relatos postados na sala "vintage"), voltávamos para o regional (impossível classificá-lo como barco hotel), parado na boca do rio Curuá-Una (PA), naquele "lusco fusco" já assinalado, e o piloteiro vinha de motor aberto (25 HP), comigo e meus dois irmãos (todos pesos pesados) riscando as águas no "zigue zague" que poderia indicar o local por onde passava o canal de um rio bastante seco ! O horizonte acinzentado combinava com o tom parecido das águas no início da noite, e dentre as curvas feita pela pequena embarcação, não mais do que de repente um safanão de 90º no leme do motor quase no faz voar dentro d'água, não estivéssemos bem sentados na embarcação ! Materializou-se na nossa frente, não mais do que há uns 5 metros de distância, um grupo de búfalos (seriam uns 15 ou mais) atravessando placidamente um local mais estreito do rio ! Não fosse essa manobra (e sorte que tivemos) do piloteiro, poderíamos sim, ter sofrido um belo acidente. Claro que depois disso, o ritmo para o "regional" (já próximo) foi outro, mas a lição ficou, e sempre que existe uma situação assemelhada, pedir para ir mais devagar é sempre algo praticado, pois mais que antes, a segurança passou a ser o foco permanente nessas aventuras. :amigo:   

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Muito bom Gilbertinho,lendo teu tópico relembrei várias situações que já aconteceram comigo e/ou com parceiros.Leitura obrigatória!!

Indio/ribeirinho não gosta de acampar em praia,por conta da sombra e da proteção do vento,prefere barranco.Toda vez que os pego de guia , os caras ficam forçando para parar nos portos deles.....fica aquele aqui não...aqui sim....:gorfei:

Justamente por causa de animais peçonhentos e insetos forço a barra mesmo......é praia!!!Segurança é tudo,duas horas de cara amarrada não mata ninguém,mas uma picada pode fazer um estrago incalculável.

Abs.

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