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Gilbertinho

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    Gilbertinho recebeu reputação de Junos em Final de 2016...   
    Amigos,
    O Começo e o término de cada ano é apenas referência temporal, a vida segue sempre em frente, com sucessos e fracassos ou, se preferirem, de alegrias e tristezas. "Pegamos" muitos peixes pelo caminho, mas também quebramos muitos anzóis e linhas. Na caminhada do tempo, como pais, avós e bisavós, perdemos pessoas que nos foram muito caras, mas também vimos surgir novas carinhas, vidas novas que preencheram vazios dos nossos corações. Quando chegar o fim do nosso tempo, deixaremos as dores e as alegrias de lado, e passaremos assumir o protagonismo da nossa história. Os que ficarem continuarão nos amando e nos honrando por muito tempo, quiçá por toda a eternidade.
    Sempre contamos com o tempo para edificarmos passo a passo nosso verdadeiro eu, revelarmos a nós mesmos e aos outros quem somos e o que somos. Essa é a condição sine qua non para sermos lembrados com amor e carinho ou com tristezas e más recordações. Tudo gira em torno de valores e desvalores, o que nos exige a constante busca pela integridade, honra, coragem e ao trabalho e à família, sem perder de vista as crenças religiosas que nos auxiliam na busca pelos bons caminhos, na solução de nossas dúvidas, angústias e dores e também nos prometem a vida eterna. De certa forma, ser sempre lembrado é uma forma de ver eternizada a existência de cada um de nós.
    O Natal não é um simples feriado, todos sabem. Nesse dia, há um aniversariante especial a ser festejado. Nunca deixo passar a oportunidade de ficar maior do que sou. Nessas ocasiões, ao ajoelhar-me diante da cruz e parabenizar e agradecer, em oração, sinto-me engrandecido, diante de Jesus Cristo, Nosso Senhor, e Maria, sua mãe.
    Finalmente, desejo que todos os membros do Fórum, independentemente de aspectos religiosos, tenham um Natal repleto de boas surpresas e muita alegria e um Feliz 2017 e, se possível, que nos lembremos com carinho e gratidão do aniversariante do dia, ainda que por um único segundo.
    Abraços do Gilbertinho, pescadrr da Amazônia   
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    Gilbertinho recebeu reputação de Walter Lembi em Usina de Belo Monte. A fraude amazônica.   
    Fabrício,
    Em meu ponto de vista, o assunto deve ser dividido em três frentes:
    A primeira, inconcebível, é de natureza criminal. Não é possível tolerar um país eivado de tanta corrupção. Penso que não haverá laja-jato suficiente para levar essa sujeira toda a um nível suportável, já que corrupção é uma praga universal, que no Brasil não encontra limites.
    A segunda, respeita à capacidade de geração de Belo Monte, a dimensão de seu lago e seus impactos ambientais. De início, o país precisa ter eletricidade em volumes que assegurem o fornecimento contínuo para uma população crescente e também para a indústria, atualmente estagnada. A energia hidráulica é nossa principal matriz energética, por vocação.
    Terceira, é irrelevante quantos Maracanãs caberiam na área inundada pela represa, considerando a extensão territorial da Amazônia e do país como um todo. Essa conta não fecha diante das necessidades energéticas de todos nós. Veja que muitos dos que se queixam dos impactos ambientais reclamam dos apagões do sistema elétrico nacional, todo interligado, e quase todos derivam da escassez de energia em certos períodos do ano.  Para finalizar, vejo as opiniões dos midiáticos, famosos e intelectuais como manifestações sem relevância alguma, só o fazem porque nada tem a dizer de útil ou construtivo para a população, melhor seria que fizessem apenas o que sabem fazer, e criticar governos não é uma delas.
    Me vejo como ambientalista de carteirinha, porém não posso ignorar as necessidades humanas. Como geógrafo, entendo que o que há no planeta está a disposição do homem, desde que explorado de modo sustentável. O resto é hipocrisia de quem usa e reclama se não tiver para usar.
    Peço desculpas por contrariar a maioria dos colegas.
    Gilbertinho 
    Após este manifesto, li na uol um artigo sobre as previsões de Nikola Tesla para o século 21, que vem de encontro aos meus argumentos. Transcrevo a seguir:
    "Muito antes do início do próximo século, o reflorestamento sistemático e o gerenciamento científico de recursos naturais terão trazido um fim para todas as secas, incêndios florestais e inundações devastadoras. A utilização universal da energia hidroelétrica e sua transmissão à longa distância vai abastecer todas residências com energia barata e dispensará a necessidade de queimar combustíveis. Sendo que a luta existencial será diminuída, deve haver desenvolvimento motivado por ideais e não questões materiais."    
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    Gilbertinho recebeu reputação de Marcelo Terra em QUEM JÁ FEZ USO DE CHATA 6M   
    Amigo, você está coberto de razão. Adoro um cinquinho para adentrar os lagos de boca franca e os igarapés da região quando invento de ir pescar, e ainda quebra o galho quando o levo como barco de apoio nas longas viagens de trabalho que faço, cobrindo de 600 a 800 quilômetros de rio numa só tacada. É que não resisti à tentação de brincar com você por causa do cinquinho, espero que me perdoe. Ah, me enquadro perfeitamente no perfil que você traçou dos usuários habituais dos pequenos motores: tenho quase 70 anos, sou aposentado, tenho 2 casas na beira de rios (Xeriuini e Jufari). A diferença é que meus outros barcos (lanchas), apesar de não serem tão grandes (6 e 7,50 m), são estruturados para permitir o pouso de até 4 pessoas e cozinhar, já os banhos e as necessidades fisiológicas 1 e 2 vão direto pro rio. Logo abaixo, vou postar imagens da mais recente incorporação náutica, a caçulinha Marajó 5 m, que comprei bem surrada e a redesenhei por completo, em minha casa mesmo, já que tenho os meios para tanto. Fica um tanto descaracterizada da original,  mas irá me proteger bem do sol e da chuva em minhas viagens, e ainda dá pra 2 pessoas dormirem, sem prejuízo da pesca nossa de cada dia.
    Vai um abração.      
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    Gilbertinho recebeu reputação de Wagner Balen em Pescaria em RR - Caracarai (aluguel de barcos e pousada)   
    Pessoal,
    Moro em Caracaraí e sou vinculado a atividades de pesca esportiva desde 1.999 quando, na condição de titular da pasta de meio ambiente e turismo, condição que ocupei até o final de 2012, criei unidade de conservação centrada na implantação do modelo de pesca atualmente vigente na região Sul, onde se concentram as maiores e melhores bacias hidrográficas e os grandes cardumes de peixes de interesse da pesca esportiva.
    Dito isso, a primeira informação que passo é que o Defeso (Piracema) no Estado se inicia em primeiro de março. Logo, apenas a pesca de subsistência pode ser praticada. Esse período se estende até 30 de junho. Nesses dias estarei enviando uma consulta formal aos órgãos de controle no Estado (Ibama, Femarh e Semma), para obter esclarecimentos formais quanto à possibilidade da continuidade da pesca esportiva (também chamada Cota Zero) durante o Defeso. Terei essa informação (ou autorização) dentro de 15/20 dias, e posso transmiti-la, caso haja interesse.
    Quanto a pousadas de Pesca, o Código Municipal de Meio Ambiente, por mim elaborado em 2008, proíbe a instalação de qualquer estrutura hoteleira ou assemelhada juntos aos rios do município, de modo a evitar que empresários tenham os rios como de sua propriedade, gerando conflitos com os demais usuários dos recursos pesqueiros ou ainda impedir o livre trânsito de embarcações. Diante disso, informo que não há em Caracaraí pousada de pesca que possa hospedar o amigo.
    Os barcos-hotéis e acampamentos flutuantes que operam na região interrompem suas atividades em Fevereiro, e cobrem a calha do Branco e as sub-bacias do Água Boa, Matá-Matá, Curiucu, Itapará, Xeriuini, Amajaú e Jufari. O Curiucu e o Itapará são tributários do Branco, porém no território de Rorainópolis.
    Conheço muitas empresas e pessoas envolvidas com a pesca esportiva em Caracaraí, contudo, não conheço a pessoa do Sr. Randerson, o que me impede de dar qualquer tipo de informação ou referência sobre ele. Pode até se tratar de algum novo operador ou agente do turismo da pesca, não sei dizer.
    Marcos, aqui na cidade você pode encontrar facilmente barcos que poderão atendê-lo. Pelo tempo que você dispõe para pescar (2 dias), não recomendaria descer o Branco até os principais afluentes, bastante piscosos, porém bem distantes da sede (o Água Boa é o mais próximo, e fica a 4/5 horas de voadeira). O custo seria elevado, restando pouco tempo para pescar. Se eu estivesse em seu lugar, optaria por pescar na região das corredeiras do Bem-Querer, bem próxima da cidade (10 km), com a possibilidade de pescar bons Aracus (Piaus), Matrinxãs e algumas espécies de couro, como Pirararas. De qualquer modo, o problema do Defeso teria de estar resolvido, senão...
    Posso ajudá-lo quando estiver por aqui. Caso queira, responda esta mensagem que vamos tratando do assunto, adiantando desde logo que meu apoio não terá custo algum.
    Abraço do Gilbertinho da Amazônia      
       
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    Gilbertinho recebeu reputação de Fernando_Oliveira em Exagero nas fotos - peixes deformados   
    Fernandão;
    Tô com você. Vá lá que a gente goste de exagerar um pouquinho o tamanho dos peixes que "pegamos", é a raiz da nossa fama de mentirosos.
    Mas mesmo a mentira deve ser escalonada, partindo de uma lorotinha marota a uma mentira de tal modo exagerada e concebida que ao final nos diverte, e esse era o seu propósito.
    Contudo, "esticar" o peixe ou curvá-lo para fazê-lo parecer maior é forçar a barra. Creio que há alguns que recorrem até ao Photoshop para esnobar.
    De qualquer modo, você está certo. Não que tenhamos de mudar a fama de mentirosos (bons) que nos caracteriza, afinal, exagerar um pouquinho quando relatamos uma pescaria é normal, divertido e bem aceito, como no caso do Pantaleão, personagem do saudoso Chico Anísio. Agora, produzir ou processar imagens com o fito de se vangloriar, além de reprovável, chega a ser vergonhoso.
    Já que falei do Pantaleão, talvez se lembre da ocasião em que ele, rodeado por amigos e por Terta, sua esposa, contava ter pescado um Lambari de 99 metros, quando dona Terta interveio: "porque não fala logo 100?" E ele respondeu: "Vou mentir pra que?"
    Olha, finalizando, vejo também as aberrações a que você se refere. Isso só desvaloriza o conceito que faço de quem age assim. Onde moro, já fisguei até Pirarucus, e nem por isso postei qualquer foto no Fórum, precisamente por entender que não devo esnobar ninguém.
    Abraço do Gilbertinho da Amazônia.    
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    Gilbertinho recebeu reputação de Lúcio Rezende Ferreira em COMO FAZER REDE DE PESCA PASSO -A-PASSO   
    Lúcio,
    Vi que você levou bordoada de todo lado no Fórum. De fato, ninguém por aqui aprecia redes de pesca ou tarrafas, gostaríamos mesmo que elas não existissem. Porém, acho que o aprendizado que você propõe é interessante para que aprendamos a fazer redes de descanso ou outras utilidades. Afinal, quem sabe se um dia alguém se perca no mato e tenha um belo carretel de cordinha na mochila. Pode até fazer uma rede e nela dormir com bastante segurança. Vou mais longe: tenho certeza de que a maioria dos membros do Fórum não domina essa arte, o que não é o meu caso.
    Fique firme, apenas mude a abordagem (de rede para pesca para rede de dormir), aí a turma vai aplaudir, até porque conhecimento multidisciplinar tem a ver com evolução.
    Abraço do Gilbertinho  
  7. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Elias Neto em Motor johnson 14   
    Rapaziada,
    Tempinho atrás estava eu visitando uma senhora viúva onde moro (não havia segundas intenções), na companhia de um conhecido dela. No quintal, jogado como uma casca de banana, vi o que restava de um Johnson 45 HP. Pedi permissão para olhar de pertinho, e me surpreendi com a qualidade do que antes se fazia. Não há uma só peça de plástico externamente, tudo é na base do alumínio fundido, pesa paca. Empolgado, perguntei se ela o vendia, e ela respondeu que pertencera ao finado e que poderia levar de graça, só pra desocupar espaço. Trouxe para casa, chequei muita coisa, comprei várias peças pela web, inclusive o kit de partida elétrica, e logo essa raridade retornará à vida. A quem perguntar o que eu quero com essa "tranqueira", já que tenho motores seminovos de maior potência instalados em meus barcos, a resposta é bem fácil, é um misto de saudosismo e orgulho de ter em meu acervo náutico o que poucos podem se gabar de ter. 
    Dito isso, sugiro que o amigo não desanime, cuide com carinho dessa preciosa máquina.
    Abraço do Gilbertinho, pescador da Amazônia. 
       
  8. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de João Reis em Boat a Home. Já pensou termos um destes?!?!   
    Fabrício,
    Vi coisa parecida numa empresa de turismo em Salvador. O barco tinha um design muito semelhante, praticamente sem proa e passadiço lateral, lembrava até uma Kombi no formato. O interessante é que cada centímetro do casco é utilizado, enquanto nos acostumamos a perder muitos espaços principalmente na proa e na popa. Venho fazendo meus próprios barcos em alumínio, e já pensei em fazer algo bem parecido com o motor home que tenho (plataforma VW 8.150). Nesse caso, o Boat Home seria tocado por uma parelha ou mais motores de popa, como se vê nos EUA. Deve dar um trabalho enorme e um custo maior ainda, embora os desafios técnicos não me assustem. Vamos ver o que o futuro reserva. Por enquanto, sigo tocando as "bicicletas" cabinadas que tenho, uma de 5,50 e outra de 7,50 metros, esta última ainda em finalização. Em termos de conforto, estão a anos-luz do que você postou, mas o que se há de fazer? Uma hora dessas talvez eu endoide e me enterre de cabeça no projeto. Aguarde pra ver.
    Abraço do Gilbertinho  
  9. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Fernando Ehlers em Modelo de barco de aluminio x potência de motor de popa   
    Prezado Astra,
    Pergunto respeitosamente qual a diferença entre as respostas do Rennó e a minha quanto à pergunta objetiva do Flávio, já que o amigo concorda literalmente com um e discorda literalmente de outro. Se eu não estiver pirando, as respostas objetivas são exatamente as mesmas, exceto pelo Rennó haver citado (corretamente) que o comando deveria ser no manche, aspecto que não adentrei em razão de o Savage ser fabricado sem console (modelo 5513, de 5 metros de comprimento e 1,68 de boca, como referido pelo Flávio).
    O segundo comentário do Rennó não respeita à pergunta feita pelo Flávio, só adentra outras possibilidades de aquisição, o que não foi objeto da pergunta e, caso fosse, aconselharia o Campineiro, da Mogi-Mirim (se tiver as mesmas características da versão tradicional da Levefort), que me serviu muito bem quando pescava nas corredeiras do Itiquira, em Mato Grosso, onde morei por duas décadas. Pra ter uma ligeira ideia, um bote com motor 15 com 2 pessoas não conseguia subir, só deslizava lateralmente ao sabor das pontas d'água. Já um 25 permitia ir a montante com boa margem de manobra e segurança.
    Gilbertinho 
    Gilbertinho
  10. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Elias Neto em Pintura motor de popa   
    Amigo velho, 
    Considere em primeiro lugar que vamos falar de pintura que até você mesmo pode fazer em casa.
    Basicamente, há 3 tipos de tinta automotiva que você pode utilizar.
    A primeira, mais "vagabunda", é o esmalte sintético, embora bem brilhoso (ou brilhante). É como a garota da obra de Osvaldo Rodrigues, Bonitinha mas Ordinária.
    A segunda, mais moderninha e de base acrílica, é a  PU, que vem acompanhada de um pequeno frasco de calatisador, que você vai adicionando à tinta para que ela seque num maior ou menor tempo, depende da quantidade que você coloque. Essa propriedade química impõe que nunca dever catalisar tinta PU para usar noutra oportunidade. Catalise sempre o que vai usar, dispense o que sobrar da catalisada. É bem mais resistente e bem brilhosa que a sintética, e você pode acentuar seu brilho misturando a última camada (ou demão) de tinta uma igual porcentagem de verniz PU, tudo catalisado. Seca bem rápido e fica 10.
    A terceira, é a tradicional Duco, da Dupont, é laca a base de nitrocelulose. Não tem brilho, mas seca rápido e é bem resistente, talvez mais que a PU. Se resolver seguir por esse caminho, observo que após a pintura de 5 ou 6 demãos alternadas (camadas), você deve lixá-la com lixa d'água 800 ou 1.000 e aplicar algumas demãos do verniz Duco, polindo em seguida (polindo, não encerando, são coisas diferentes).
    Elimine a primeira opção, que só mencionei por se tratar de tinta bem comum e bem barata. Mas o importante para o sucesso da pintura é sua preparação e o uso de materiais corretos. A preparação requer o desengraxamento de tudo que será pintado (gasolina quebra o galho), o lixamento com lixa d'água 300, e a aplicação de fundo (ou primer) do mesmo tipo da tinta que será utilizada. Aplique de 3 a 4 demãos de primer e lixe tudo de novo com lixa 600. Lave após o lixamento e deixe secar, se quiser acelerar o processo e atingir pontos de secagem mais demorados, um jato de ar ajuda bastante. A seguir, pregue fogo na pintura, tomando cuidado para ir cobrindo aos poucos e alternando o curso da pintura, uma na vertical, outra na horizontal, e sempre assim. Não dê menos de 5 demãos, independente da tinta que usará. O macete da mistura do verniz PU na tinta PU (última camada) já foi dado também por amigos do Fórum. Importante ainda é que você utilize os solventes de acordo com a tinta que vai usar, caso contrário o resultado pode ser decepcionante.
    Quanto ao capô ou tampa do motor, a receita é a mesma, exceto no que respeita aos adesivos (marca, potência, tipo, etc), que você compra pela Web. Opte por aqueles que podem receber verniz automotivo pós colagem.
    Finalmente, desde que goste de aprender e fazer coisas em casa, como eu, veja que o que você vai gastar em mão-de-obra paga um compressor portátil tipo Tufão e uma pistola de pintura de baixa pressão, oportunizando que você mesmo faça suas cagadas em casa, sem ter de pagar ninguém para fazê-las. Pode ser que os resultados às vezes sejam apenas razoáveis, mas lhe trarão enorme satisfação e orgulho. Vamos em frente, o Universo é o limite!
    Qualquer coisa, estou por aqui.
    Abraço do Gilbertinho, pescador da Amazônia
  11. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Marcelo Pupim em Motor MERCURY 40HP com comando. Como pilotar sem power trim?   
    Marcelão,
    Também tenho um quarentinha EO 2T da Mercury, e piloto com ele destravado, como sempre fiz com motores de menor potência que tive.  Tenho motores de maior potência, todos com trim, que permite um ajuste fino da máquina, otimizando velocidade e desempenho. Porém, esse recurso mantém o motor travado, e uma batida na rabeta pode trazer sérias consequências. Já pensei em modificar o trim deixando a rabeta destravada para prevenir esse risco nesses motores maiores.
    Em relação à sua preocupação com a ré no motor destravado, nunca tive problemas com isso, mesmo em motores de menor potência, é ir com cuidado, acelerando de leve. Leve também em conta que ninguém usa a ré com aceleração alta, até em função do perfil da popa.
    Assim, considero desnecessário o trim em motores até 40 HP, e creio que a Mercury pensa do mesmo modo, caso contrário teriam colocado nos 40. 
    Vai um abraço do
    Gilbertinho, pescador da Amazônia 
  12. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em Nova porcentagem de etanol   
    Lamana,
    Como nossa "mijolina" da Dilma tem pra lá de 27% de álcool, aprendi e venho fazendo o seguinte: compro a gasolina comum, coloco-a num vasilhame translúcido com outro tanto de água, agito um pouco e deixo repousar por uns 5 minutos. O que não for gasolina decanta, e sob ela fica uma substância esbranquiçada e leitosa, é o álcool (etanol), detergentes e outros. Enfio uma mangueira fina no recipiente (uso garrafão de água) e dreno o que tiver sob a gasolina, daí a utilizo em qualquer motor a gasolina que tenho, inclusive os motores de popa. Tudo funciona bem melhor, rendimento idem, e olha que percorro distâncias fluviais de até 700 km quando em serviço. Com isso, afasto manutenções mais frequentes e não gasto com peças corroídas pelo álcool. A linha de combustível também agradece, fica tudo sem obstruções e borras. Experimente para ver se aprova. Ia me esquecendo: de cada litro de gasosa que você compra e processa, vai perder algo em torno de 30%, que é o percentual de porcarias que ela tem. Não ligo para isso, porque as vantagens compensam, sob qualquer ângulo de análise. 
    Abs
    Gilbertinho da Amazônia  
  13. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Andrey W em Classificação/Rankin - Aproveitadores do FTB.   
    Gilbertinho fala, Gilbertinho ouve.
    Novato no FTB, foi a primeira vez que me interessei em cadastrar-de num sitio desse perfil. A motivação era (e é e será) ensinar o que sei e aprender o que não sei, e confesso haver me deparado com abordagens muito interessantes, ora coadunadas com o que sei sobre um dado tema, ora estranhos ao meu conhecimento, mas o certo é que tem valido a pena. Como aposentado, já com 68 anos, tenho tempo para dar uma sapeada no Fórum praticamente todos os dias, buscando informações e conhecimentos de sabiás e pardais ou melhor, da turma dos lobós aos super-pescadores. Todos ensinam todos, quase sempre, e também contribuo com o que sei.
    Nessa linha, às vezes me deparo com algumas jabuticabas ditas por alguns membros, mas o melhor do Fórum é de fato contar um bom causo, falar de segurança na pesca, ler e falar sobre náutica, que é minha paixão desde moleque, quando só tinha grana para dar uma voltinha na represa de Guarapiranga (SP), numa das lanchas de aluguel com motor do saudoso DKW. Pesquei demais na vida, num modelo muito diferente do que se vê hoje. Muito anzol de galho no Pantanal, freezer cheio de cacharas, surubins e pacus, principalmente. Isso há coisa de 16, 17 anos. Desde então, ao me mudar para o Norte-Amazônico, perdi a tesão pela pesca, mas fiz crescer pra valer meu acervo náutico, especialmente porque viajo bastante por estas bandas desde 1.997, como gestor público de meio ambiente, inicialmente, e atualmente como consultor técnico e jurídico de operadoras de pesca no extremo sul de Roraima. Pesco só pra comer nessas ocasiões e, claro, diante de tanta diversidade, dá pra escolher o que comer, e os melhores não são os grandões, como muita gente pensa. Os pacuzinhos, seguidos dos aracus (piaus) e das matrinxãs bem fritinhos são os melhores. Também não dispenso uma manta de pirarucu quando me oferecem na região. Como podem perceber, começo a falar de assuntos periféricos e acabo por esquecer do principal. Não reparem, é que carrego essa coisa de barcos, represas, rios e peixes há 50 anos, e foi isso me me transformou de paulistano a mato-grossense, amazonense a agora em macuxi (roraimense). E depois dizem as más línguas que paulistano é covarde, nasce e morre em Sampa. Sou prova ainda viva em contrário
    Voltando ao tema de onde não deveria ter me desviado, é o seguinte: quando me cadastrei no Fórum, recebi de cara a merecida classificação de "pescador de lobó". Merecida porque o sistema foi concebido dentro de uma certa lógica, obedecendo a um comando em que a classificação evolui conforme o grau de contribuição (ou pontuação) que cada membro presta ou recebe. Tudo bem que não há sistema sem falha, mas me parece justo, e deve ser levado na esportiva. O que não aprovo, é que certos colegas vejam nisso uma espécie de competição ou status, e para isso sacam assuntos que a meu modesto juízo não atendem interesses nem preenchem vazios do conhecimento de temas indispensáveis ao universo que cerca os amantes da pesca. Pura bobagem. Vejam os amigos que desde meu ingresso abordo assuntos que considero de interesse geral, centrando-me basicamente em questões jurídico-normativas da pesca, segurança pessoal no geral e em informações da Amazônia Ocidental que podem ser úteis a quem a visita ou pretenda visitá-la. É meu modo de ser e viver este magnífico espaço de interação. Todo o resto, especialmente classificações pessoais, além de bobagem envolvem vaidades e desperdício de tempo. O negócio mesmo, pra valer, é sentir-se útil para alguns e aprender com outros.
    Falando em críticas, aproveito para alertar nossos moderadores quanto a postagens de negociantes travestidos de pescadores, que se valem do Fórum para divulgar testes e comparativos de seus produtos em espaços reservados para outros temas. Mais adequado seria que o fizessem no espaços de classificados ou anunciantes, privando-nos do desprazer de conceitua-los como pessoas anti-éticas e que cultuam a "Lei de Gerson", em que o negócio é levar vantagem em tudo.     
    No mais, aos colegas que necessitarem de informações sobre minha região, ou o melhor tipo de embarcação para estas águas, ou ainda onde, como e quando podem fazer uma boa e segura aventura de pesca, estou a disposição.
    Abraço do Gilbertinho, pescador da Amazônia.                
     
  14. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Tiago Dominicci em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA II   
    Olá pessoal;
    Dias atrás, postei um tópico que aborda aspectos de segurança que a gente pode e deve adotar para evitar a ocorrência de acidentes nas aventuras de pesca, quer enquanto navegamos, quer quando fundeados esperando o peixe bater. Inclui, a exemplo do tópico original, outras particularidades que envolvem animaizinhos problemáticos da Amazônia, onde resido. Recomendo que os amigos que ainda não leram o tópico original, que o façam, visto que a pretensão é transferir e acumular experiências, conhecimentos e situações que devemos ter em conta para nossa própria segurança nas aventuras em que nos metemos e também para a tranquilidade de nossos familiares, que ficam em casa pedindo a Deus para que nada de mal nos aconteça nessas ocasiões. Lembro também que ambos os tópicos não constituem propriedade intelectual de ninguém, gostaria muito de contar com a colaboração dos membros da comunidade FTB, no sentido de que construíssemos um verdadeiro compêndio ou manual de segurança nas pescarias. Dito isso, vamos dar continuidade à lista de situações de risco que listei no tópico original, a começar pelo item 11 (ver anteriores no primeiro tópico):
    Situação 11 - Motores Problemáticos 1: Lá pelos anos 90, em pleno Pantanal Mato-Grossense, me encontrava com amigos pescando no Rio São Lourenço, afluente do Cuiabá. Na época eu morava em Rondonópolis, e minhas idas com a turma ao Itiquira e São Lourenço eram bastante frequentes. Nessa ocasião, chegou uma comitiva de pescadores oriundos da Capital de São Paulo, fazendo-nos antever que haveria algo de interessante pra gente ver, e não deu outra: colocados os botes na água, a galera toda logo acorreu para ligar as máquinas e fazer um tour pelo rio. Com essa turma, veio também um senhor já de meia-idade, pai de um cara apelidado Nenê, que logo convidou o pai para dar uma voltinha no rio. O Velho, todo preocupado e confessando nunca haver entrado num barco, acabou por ceder aos insistentes apelos do filho. Lá foram então o Nenê e o velho para o bote, e a coisa começou a ficar engraçada, porque o velho, como todos os que não tem prática em movimentar-se em barcos, dava passadas bem largas no interior do bote, ora num bordo, ora noutro, e parecia que a coisa iria emborcar mesmo amarrado na margem. Sob orientação do filho Nenê, foi logo para o banco da frente, onde agarrou-se firmemente onde podia, sem mover um músculo sequer a partir daí. Quer dizer, pescoço duro, não olhava para lado algum, só mirava o que via em frente. Bem, o Nenê soltou o barco a deriva, sentou-se no banco da popa e meteu o braço na cordinha. E nada. afogava, desafogava, engatava, desengatava, acelerava, e nada. E o velho firme como uma pedra, só olhando por cima da proa. O Nenê se enervou com a teimosia do antigo Johnson 25 e resolver ficar de frente para o crime: levantou-se e encarou com mais veemência a difícil tarefa de fazer funcionar a máquina. Tudo de novo. Mexe aqui, mexe ali, puxa corda pra valer, até que o "pé de ferro" pegou acelerado e engatado para a frente, saindo disparado rio afora  Como não poderia ser diferente, o tranco fez com que o Nenê passasse por cima do motor e caísse de cara n'água. O bote, à toda, seguiu em frente. O velho gritava "Nenê, tira a força, olha a praia" O Nenê, nessa altura, já ia subindo o barranco da outra margem para buscar socorro. Praia se aproximando cada vez mais, e o velho berrando cada vez mais, até que o bote subiu com tudo praia adentro, arremessando o velho como um estilingue, fazendo-o sair como um tiro praia adentro, catando galinhas, até estatelar-se de cara na areia. De longe ouvimos o velho gritar: "Nenê, seu filho da p..., não te falei pra tirar a força?", até que se apercebeu que estava sozinho no barco e o Nenê já vinha chegando com um colega para socorrê-lo.
    O que se extrai de fatos dessa natureza é que, especialmente nessas circunstâncias, sob hipótese alguma devemos mexer na alavanca de câmbio do motor. Ao contrário, devemos observar se ela está no neutro, e ter em mente que ela nada tem a ver com problemas do motor ligar ou não. Mais ainda, a mesma providência deve ser adotada em qualquer caso, não apenas em motores com problemas de partida.
    Situação 12 - Motores Problemáticos. Acidente fatal: Também em meados de 1990, um cara de prenome Paulo Japonês, morador de Cuiabá e mecânico de mão-cheia, teve o mesmo tipo de problema, desta feita com um motor 15 HP, não sei dizer a marca. Igualzinho ao Nenê, ficou de pé de frente para o motor e fuçou tanto que a cordinha da partida rompeu-se. Daí teve de retirar a cobertura de proteção do volante do motor, enrolando nele a cordinha reserva que vem em seu kit. Do mesmo modo, não checou se o câmbio estava engatado, e estava. Puxa daqui, puxa dali, até que o motor pegou, jogando-o do mesmo modo pela popa. O problema é que como havia retirado a proteção do volante, caiu com o abdome sobre ele em alta rotação. O final não é preciso contar, ainda me dá arrepios até hoje. Desse caso, e na mesma circunstância, extraio que vale demais a pena reforçar a mesma medida preventiva que no caso anterior: Nunca deixe de verificar se a alavanca do câmbio está em Neutro.
    Situação 13 - Jacarezinhos do Amazonas - Perigo: Amigos, vocês já perceberam que eu vivi um bom tempo pescando no Pantanal de Mato Grosso. É verdade, foi até o que me fez me mudar de Sampa para lá, isso no início da década de 1980. Toda hora estava no Pantanal, era programa obrigatório de todo fim-de-semana, a gente deixava pra saber o resultado do futebol quando chegava em casa. Os Jacarés-Tinga do Pantanal eram pra lá de abundantes, a gente saía pelas praias logo cedinho chutando a bunda deles só por diversão, para vê-los saindo com tudo no rumo da água. E diz a poetisa que jacaré não tem cadeira porque não tem bunda pra sentar. Pode até ser, mas pra chutar tem. Mas vamos lá. Quando me mudei para o norte-amazônico, na primeira incursão de pesca que fiz à noitinha vi alguns olhinhos vermelhos sob a luz do holofote. Em meu imaginário, logo deduzi que se tratavam dos mesmos jacarezinhos sub-nutridos do Pantanal. Não os incomodei nem fui incomodado. Com o tempo fui me inteirando do assunto, daí aprendi que aqui na Amazônia o que impera são os jacarés-açu, muito assemelhados aos crocodilos do Nilo, tanto em tamanho e peso quanto em relação ao perigo que representam para animais de grande porte e pessoas (pescadores esportistas inclusos). Tanto é verdade, que há pouco mais de um mês, um pescador artesanal aqui de Caracaraí se meteu em confusão com um bicho desses no Rio Anauá. Resultado: partes de seu corpo foram encontradas dias depois, não dá pra brincar, é coisa séria. Lá pelas bandas do Negro, onde vivi por uns dois anos, de quando em vez via a turma de Novo Airão sair armada até os dentes para matar esses bichos, já acostumados a devorar bezerros e pessoas em certos lugares mais recônditos. O que devemos extrair dessa condição única, já que os açús (jacarés, bem entendido) vivem unicamente na bacia amazônica, não há replay em nenhum outro lugar do Brasil: Primeiro, você deve apagar da memória tudo o que sabe sobre jacarés quando vier para a Amazônia. A coisa é grande e feia e se facilitar o bicho pega. Mantenha uma distância prudente deles, e nunca se atreva a provocá-los, tem alguns que chegam a ter quase um metro de largura na parte central de seu corpo, é jacaré sobrando e risco certo de desastre.
    Situação 14 - Sucuris e Sucurijus: Com certeza, todo já ouviu falar, assistiu documentários e muitos até já viram essas bichinhas em rios e lagos. Uma e outra são a mesma espécie, só muda o nome daí para cá, de Sucuri para Sucuriju. Todos sabem dos riscos que elas representam, assim como as demais serpentes constritoras. Há muitas histórias a respeito, e vou contar duas a um só tempo, pra economizar a atenção da turma. A primeira foi comigo: durante uma seca violenta, em 2012, logramos capturar uma de 5 metros, atravessando o asfalto da BR 174. Enchemos ela de pancadas, amarramos uma corda no pescoço e levamos para o sítio, bem próximo do local da captura, visando medi-la e extrair sua banha (santo remédio). Amarramos a corda bem curta numa árvore e nos dispomos a estirá-la para medir. Estava ainda viva, apesar das pancadas que levou. Passei uma corda no "rabo" da bicha, passei numa arvorezinha e mandei a turma esticá-la para a medição. Conforme a turma puxava, ela cedia um pouco e eu encurtava a corda, ela fazendo força em contrário. Até que num dado momento, ouvi a arvorezinha estralar rompendo raízes em razão da força de tração extrema do animal, que não media mais que 5 metros, e aqui ouvimos falar em exemplares de 8 a 12 metros, dá pra imaginar a força que devem ter. Emendo essa situação com o que vi acontecer no Rio Alalaú, que divide Roraima e Amazonas. Seguindo viagem de carro pela BR 174, deparei com algumas pessoas olhando o rio e gesticulando. Curioso, fui ver do que se tratava. Ainda deu pra ver um índio da tribo waimiri-atroari embolado com uma sucuriju descendo rio abaixo. Por certo, ela o atacou quando se encontrava lidando com algum barco que a tribo mantém sob a ponte. O certo é que ele foi comer capim pela raiz, disso não há dúvida. O que extraímos de episódios como esse, aliás ocorrentes em várias partes do Brasil, segundo a história, é que sempre que possível devemos evitar a criação de condições para encontros com essas bichinhas. Isso significa nunca entrar n'água em locais onde sabemos que elas habitam e, na dúvida se elas ocorrem ou não noutros locais, é melhor prevenir, ficar no seco. Se tiver de tomar um banho, inclusive para espantar o calor, utilize um balde ou coisa parecida, mas não vacile entrando na água. Se estiver pescando no barranco ou no bote, fique atento: a única coisa que denuncia a aproximação delas são as marolinhas e bolhas que vem em sua direção. Como diz a gauchada, fica "veiáco", tchê, senão o jacaré te abraça.
    Situação 15 - Os Morcegos Hematófagos: Diferentemente do que se vê na maior parte do país, aqui na Amazònia ocorrem morcegos hematófagos que apreciam muito o sangue humano. Vou contar um caso que vivenciei no final de 1999, ano em que criei uma unidade de conservação exclusiva para exploração do turismo de pesca esportiva no extremo sul de Roraima (APA Xeriuini). Interessado em conseguir um empresa para desenvolver operações de pesca na Bacia do Xeriuini, uma das seis da unidade, logrei contato com um empresário do setor instalado em Sampa, o nome é (ou era) Paulo Polimeni, algum de vocês deve ter ouvido falar. Decidimos seguir viagem numa lancha para vencer os 300 quilômetros que separam a comunidade de Terra Preta e a sede de Caracaraí, onde moro até hoje. Nosso piloto, um crioulo de nome Chico Martins, era morador daquela localidade, que há época tinha em torno de 35 famílias. Bacia visitada, Paulo Polimeni empolgado com o potencial do local. À noitinha, fomos jantar e dormir na casa do Chico, uma palafita de madeira de dois andares e dois cômodos bem simples. Embaixo a cozinha, e no andar de cima o quarto coletivo, onde dormiam ele, sua mulher e 4 filhos pequenos. Jantamos ensopado de Piranha com Chibé, que ainda hoje é o básico daquela gente (chibé é água com farinha de mandioca brava), e daí armamos as redes para dormir. Chico e família no andar de cima e eu e o Paulo na cozinha. Lá pelas tantas, percebemos que algo estava nos molhando, o que era estranho, já que além de estarmos no térreo de uma palafita, não estava chovendo. Só no amanhecer é que ficamos sabendo que no quarto não havia banheiro, e a turma do Chico urinava direto sobre o assoalho, daí o que nos molhava era mijo puro, e não água. Mas a coisa não parou por aí. O Paulo Polimeni, fazendo um auto-exame logo cedinho, disse num dado momento: "acho que me machuquei ontem, olha como meu dedão está sangrando!" Aí o Chico caiu na gargalhada e esclareceu: "que nada, foi o morcego que chupou seu dedo". Apavorado, o Paulo pediu urgência no regresso, por saber que esses bichinhos são transmissores do vírus da raiva. Após algumas semanas, exames feitos, o Paulo mandou por correio um amontoado de prospectos sobre a raiva transmitida pelos morcegos, e nunca mais apareceu por aqui. Dito isso, se vier pescar por nessas bandas, se for dormir em camarote, mantenha porta e janela fechadas. Se preferir dormir em rede no convés do barco-hotel, nunca dispense um mosquiteiro, senão você pode ter de visitar um hospital bem mais cedo do que pensa e acabar com a pescaria.
    Situação 16 - A Marvada Pinga: No tópico original, listei duas situações de alto risco envolvendo a navegação sob galhadas baixas em rios e lagos. Providencialmente, um dos membros do FTG deu uma excelente colaboração ao lembrar que situações assim podem também ser causadas pelo álcool, quer dizer, pelo excesso de álcool que eventualmente alguém venha a ingerir nessas ocasiões, que também foram feitas pra gente tomar umas a mais na beira do rio, o que é lógico e compreensível. Porém, ouso dar um acréscimo ao acréscimo, abordando outras situações de risco que o excesso de álcool pode produzir. Antes, creio que todo mundo concorda que o álcool produz diferentes efeitos nas pessoas. Umas ficam chorosas, outras valentes, outras desinibidas e finalmente as que ficam corajosas. Logicamente, as mais ameaçadas estão no grupo das valentes e das corajosas. Umas porque querem brigar com quem que que seja e por qualquer motivo, o que pode acabar com uma pescaria ou até mesmo dissolver um bom grupo de amigos de pesca. Outras porque perdem o senso do perigo, levando-as a fazer o que não deve, a exemplo da condução de barcos de forma imprudente em qualquer lugar. Porém há mais: alguns resolvem nadar em locais perigosos ou desconhecidos, outros decidem caminhar em praias inundadas sem considerar o risco de ser ferroado por arraias, pra ficar no básico. Nesse último caso, creio que ninguém ignora o que significa ser ferroado por uma desses bichinhas. Pra resumir, é o fim da pescaria. O que se extrai, então, é que devemos encher a cara (é opcional) à noitinha, quando nos reunimos pra falar do dia e depois ir pra caminha. Nada de beber em excesso quando estiver pescando, seja dia ou noite.
    Pessoal, reforço uma vez mais que apreciaria bastante conhecer experiências e causus relacionados a acidentes e os modos de preveni-los. Este espaço é comum de todos, e todos devem explorá-lo até o limite de seus conhecimentos, sem dia, hora e tempo para sua definitiva conclusão, ainda porque, como no direito, pescar é também uma ciência da semântica, que evolui sistematicamente ao longo do tempo e dos lugares, ao sabor das regras ditadas pela mãe natureza.
    Deixo um forte abraço a todos da comunidade do FTB.
    Gilbertinho da Amazônia.                                              
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  15. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA II   
    Olá pessoal;
    Dias atrás, postei um tópico que aborda aspectos de segurança que a gente pode e deve adotar para evitar a ocorrência de acidentes nas aventuras de pesca, quer enquanto navegamos, quer quando fundeados esperando o peixe bater. Inclui, a exemplo do tópico original, outras particularidades que envolvem animaizinhos problemáticos da Amazônia, onde resido. Recomendo que os amigos que ainda não leram o tópico original, que o façam, visto que a pretensão é transferir e acumular experiências, conhecimentos e situações que devemos ter em conta para nossa própria segurança nas aventuras em que nos metemos e também para a tranquilidade de nossos familiares, que ficam em casa pedindo a Deus para que nada de mal nos aconteça nessas ocasiões. Lembro também que ambos os tópicos não constituem propriedade intelectual de ninguém, gostaria muito de contar com a colaboração dos membros da comunidade FTB, no sentido de que construíssemos um verdadeiro compêndio ou manual de segurança nas pescarias. Dito isso, vamos dar continuidade à lista de situações de risco que listei no tópico original, a começar pelo item 11 (ver anteriores no primeiro tópico):
    Situação 11 - Motores Problemáticos 1: Lá pelos anos 90, em pleno Pantanal Mato-Grossense, me encontrava com amigos pescando no Rio São Lourenço, afluente do Cuiabá. Na época eu morava em Rondonópolis, e minhas idas com a turma ao Itiquira e São Lourenço eram bastante frequentes. Nessa ocasião, chegou uma comitiva de pescadores oriundos da Capital de São Paulo, fazendo-nos antever que haveria algo de interessante pra gente ver, e não deu outra: colocados os botes na água, a galera toda logo acorreu para ligar as máquinas e fazer um tour pelo rio. Com essa turma, veio também um senhor já de meia-idade, pai de um cara apelidado Nenê, que logo convidou o pai para dar uma voltinha no rio. O Velho, todo preocupado e confessando nunca haver entrado num barco, acabou por ceder aos insistentes apelos do filho. Lá foram então o Nenê e o velho para o bote, e a coisa começou a ficar engraçada, porque o velho, como todos os que não tem prática em movimentar-se em barcos, dava passadas bem largas no interior do bote, ora num bordo, ora noutro, e parecia que a coisa iria emborcar mesmo amarrado na margem. Sob orientação do filho Nenê, foi logo para o banco da frente, onde agarrou-se firmemente onde podia, sem mover um músculo sequer a partir daí. Quer dizer, pescoço duro, não olhava para lado algum, só mirava o que via em frente. Bem, o Nenê soltou o barco a deriva, sentou-se no banco da popa e meteu o braço na cordinha. E nada. afogava, desafogava, engatava, desengatava, acelerava, e nada. E o velho firme como uma pedra, só olhando por cima da proa. O Nenê se enervou com a teimosia do antigo Johnson 25 e resolver ficar de frente para o crime: levantou-se e encarou com mais veemência a difícil tarefa de fazer funcionar a máquina. Tudo de novo. Mexe aqui, mexe ali, puxa corda pra valer, até que o "pé de ferro" pegou acelerado e engatado para a frente, saindo disparado rio afora  Como não poderia ser diferente, o tranco fez com que o Nenê passasse por cima do motor e caísse de cara n'água. O bote, à toda, seguiu em frente. O velho gritava "Nenê, tira a força, olha a praia" O Nenê, nessa altura, já ia subindo o barranco da outra margem para buscar socorro. Praia se aproximando cada vez mais, e o velho berrando cada vez mais, até que o bote subiu com tudo praia adentro, arremessando o velho como um estilingue, fazendo-o sair como um tiro praia adentro, catando galinhas, até estatelar-se de cara na areia. De longe ouvimos o velho gritar: "Nenê, seu filho da p..., não te falei pra tirar a força?", até que se apercebeu que estava sozinho no barco e o Nenê já vinha chegando com um colega para socorrê-lo.
    O que se extrai de fatos dessa natureza é que, especialmente nessas circunstâncias, sob hipótese alguma devemos mexer na alavanca de câmbio do motor. Ao contrário, devemos observar se ela está no neutro, e ter em mente que ela nada tem a ver com problemas do motor ligar ou não. Mais ainda, a mesma providência deve ser adotada em qualquer caso, não apenas em motores com problemas de partida.
    Situação 12 - Motores Problemáticos. Acidente fatal: Também em meados de 1990, um cara de prenome Paulo Japonês, morador de Cuiabá e mecânico de mão-cheia, teve o mesmo tipo de problema, desta feita com um motor 15 HP, não sei dizer a marca. Igualzinho ao Nenê, ficou de pé de frente para o motor e fuçou tanto que a cordinha da partida rompeu-se. Daí teve de retirar a cobertura de proteção do volante do motor, enrolando nele a cordinha reserva que vem em seu kit. Do mesmo modo, não checou se o câmbio estava engatado, e estava. Puxa daqui, puxa dali, até que o motor pegou, jogando-o do mesmo modo pela popa. O problema é que como havia retirado a proteção do volante, caiu com o abdome sobre ele em alta rotação. O final não é preciso contar, ainda me dá arrepios até hoje. Desse caso, e na mesma circunstância, extraio que vale demais a pena reforçar a mesma medida preventiva que no caso anterior: Nunca deixe de verificar se a alavanca do câmbio está em Neutro.
    Situação 13 - Jacarezinhos do Amazonas - Perigo: Amigos, vocês já perceberam que eu vivi um bom tempo pescando no Pantanal de Mato Grosso. É verdade, foi até o que me fez me mudar de Sampa para lá, isso no início da década de 1980. Toda hora estava no Pantanal, era programa obrigatório de todo fim-de-semana, a gente deixava pra saber o resultado do futebol quando chegava em casa. Os Jacarés-Tinga do Pantanal eram pra lá de abundantes, a gente saía pelas praias logo cedinho chutando a bunda deles só por diversão, para vê-los saindo com tudo no rumo da água. E diz a poetisa que jacaré não tem cadeira porque não tem bunda pra sentar. Pode até ser, mas pra chutar tem. Mas vamos lá. Quando me mudei para o norte-amazônico, na primeira incursão de pesca que fiz à noitinha vi alguns olhinhos vermelhos sob a luz do holofote. Em meu imaginário, logo deduzi que se tratavam dos mesmos jacarezinhos sub-nutridos do Pantanal. Não os incomodei nem fui incomodado. Com o tempo fui me inteirando do assunto, daí aprendi que aqui na Amazônia o que impera são os jacarés-açu, muito assemelhados aos crocodilos do Nilo, tanto em tamanho e peso quanto em relação ao perigo que representam para animais de grande porte e pessoas (pescadores esportistas inclusos). Tanto é verdade, que há pouco mais de um mês, um pescador artesanal aqui de Caracaraí se meteu em confusão com um bicho desses no Rio Anauá. Resultado: partes de seu corpo foram encontradas dias depois, não dá pra brincar, é coisa séria. Lá pelas bandas do Negro, onde vivi por uns dois anos, de quando em vez via a turma de Novo Airão sair armada até os dentes para matar esses bichos, já acostumados a devorar bezerros e pessoas em certos lugares mais recônditos. O que devemos extrair dessa condição única, já que os açús (jacarés, bem entendido) vivem unicamente na bacia amazônica, não há replay em nenhum outro lugar do Brasil: Primeiro, você deve apagar da memória tudo o que sabe sobre jacarés quando vier para a Amazônia. A coisa é grande e feia e se facilitar o bicho pega. Mantenha uma distância prudente deles, e nunca se atreva a provocá-los, tem alguns que chegam a ter quase um metro de largura na parte central de seu corpo, é jacaré sobrando e risco certo de desastre.
    Situação 14 - Sucuris e Sucurijus: Com certeza, todo já ouviu falar, assistiu documentários e muitos até já viram essas bichinhas em rios e lagos. Uma e outra são a mesma espécie, só muda o nome daí para cá, de Sucuri para Sucuriju. Todos sabem dos riscos que elas representam, assim como as demais serpentes constritoras. Há muitas histórias a respeito, e vou contar duas a um só tempo, pra economizar a atenção da turma. A primeira foi comigo: durante uma seca violenta, em 2012, logramos capturar uma de 5 metros, atravessando o asfalto da BR 174. Enchemos ela de pancadas, amarramos uma corda no pescoço e levamos para o sítio, bem próximo do local da captura, visando medi-la e extrair sua banha (santo remédio). Amarramos a corda bem curta numa árvore e nos dispomos a estirá-la para medir. Estava ainda viva, apesar das pancadas que levou. Passei uma corda no "rabo" da bicha, passei numa arvorezinha e mandei a turma esticá-la para a medição. Conforme a turma puxava, ela cedia um pouco e eu encurtava a corda, ela fazendo força em contrário. Até que num dado momento, ouvi a arvorezinha estralar rompendo raízes em razão da força de tração extrema do animal, que não media mais que 5 metros, e aqui ouvimos falar em exemplares de 8 a 12 metros, dá pra imaginar a força que devem ter. Emendo essa situação com o que vi acontecer no Rio Alalaú, que divide Roraima e Amazonas. Seguindo viagem de carro pela BR 174, deparei com algumas pessoas olhando o rio e gesticulando. Curioso, fui ver do que se tratava. Ainda deu pra ver um índio da tribo waimiri-atroari embolado com uma sucuriju descendo rio abaixo. Por certo, ela o atacou quando se encontrava lidando com algum barco que a tribo mantém sob a ponte. O certo é que ele foi comer capim pela raiz, disso não há dúvida. O que extraímos de episódios como esse, aliás ocorrentes em várias partes do Brasil, segundo a história, é que sempre que possível devemos evitar a criação de condições para encontros com essas bichinhas. Isso significa nunca entrar n'água em locais onde sabemos que elas habitam e, na dúvida se elas ocorrem ou não noutros locais, é melhor prevenir, ficar no seco. Se tiver de tomar um banho, inclusive para espantar o calor, utilize um balde ou coisa parecida, mas não vacile entrando na água. Se estiver pescando no barranco ou no bote, fique atento: a única coisa que denuncia a aproximação delas são as marolinhas e bolhas que vem em sua direção. Como diz a gauchada, fica "veiáco", tchê, senão o jacaré te abraça.
    Situação 15 - Os Morcegos Hematófagos: Diferentemente do que se vê na maior parte do país, aqui na Amazònia ocorrem morcegos hematófagos que apreciam muito o sangue humano. Vou contar um caso que vivenciei no final de 1999, ano em que criei uma unidade de conservação exclusiva para exploração do turismo de pesca esportiva no extremo sul de Roraima (APA Xeriuini). Interessado em conseguir um empresa para desenvolver operações de pesca na Bacia do Xeriuini, uma das seis da unidade, logrei contato com um empresário do setor instalado em Sampa, o nome é (ou era) Paulo Polimeni, algum de vocês deve ter ouvido falar. Decidimos seguir viagem numa lancha para vencer os 300 quilômetros que separam a comunidade de Terra Preta e a sede de Caracaraí, onde moro até hoje. Nosso piloto, um crioulo de nome Chico Martins, era morador daquela localidade, que há época tinha em torno de 35 famílias. Bacia visitada, Paulo Polimeni empolgado com o potencial do local. À noitinha, fomos jantar e dormir na casa do Chico, uma palafita de madeira de dois andares e dois cômodos bem simples. Embaixo a cozinha, e no andar de cima o quarto coletivo, onde dormiam ele, sua mulher e 4 filhos pequenos. Jantamos ensopado de Piranha com Chibé, que ainda hoje é o básico daquela gente (chibé é água com farinha de mandioca brava), e daí armamos as redes para dormir. Chico e família no andar de cima e eu e o Paulo na cozinha. Lá pelas tantas, percebemos que algo estava nos molhando, o que era estranho, já que além de estarmos no térreo de uma palafita, não estava chovendo. Só no amanhecer é que ficamos sabendo que no quarto não havia banheiro, e a turma do Chico urinava direto sobre o assoalho, daí o que nos molhava era mijo puro, e não água. Mas a coisa não parou por aí. O Paulo Polimeni, fazendo um auto-exame logo cedinho, disse num dado momento: "acho que me machuquei ontem, olha como meu dedão está sangrando!" Aí o Chico caiu na gargalhada e esclareceu: "que nada, foi o morcego que chupou seu dedo". Apavorado, o Paulo pediu urgência no regresso, por saber que esses bichinhos são transmissores do vírus da raiva. Após algumas semanas, exames feitos, o Paulo mandou por correio um amontoado de prospectos sobre a raiva transmitida pelos morcegos, e nunca mais apareceu por aqui. Dito isso, se vier pescar por nessas bandas, se for dormir em camarote, mantenha porta e janela fechadas. Se preferir dormir em rede no convés do barco-hotel, nunca dispense um mosquiteiro, senão você pode ter de visitar um hospital bem mais cedo do que pensa e acabar com a pescaria.
    Situação 16 - A Marvada Pinga: No tópico original, listei duas situações de alto risco envolvendo a navegação sob galhadas baixas em rios e lagos. Providencialmente, um dos membros do FTG deu uma excelente colaboração ao lembrar que situações assim podem também ser causadas pelo álcool, quer dizer, pelo excesso de álcool que eventualmente alguém venha a ingerir nessas ocasiões, que também foram feitas pra gente tomar umas a mais na beira do rio, o que é lógico e compreensível. Porém, ouso dar um acréscimo ao acréscimo, abordando outras situações de risco que o excesso de álcool pode produzir. Antes, creio que todo mundo concorda que o álcool produz diferentes efeitos nas pessoas. Umas ficam chorosas, outras valentes, outras desinibidas e finalmente as que ficam corajosas. Logicamente, as mais ameaçadas estão no grupo das valentes e das corajosas. Umas porque querem brigar com quem que que seja e por qualquer motivo, o que pode acabar com uma pescaria ou até mesmo dissolver um bom grupo de amigos de pesca. Outras porque perdem o senso do perigo, levando-as a fazer o que não deve, a exemplo da condução de barcos de forma imprudente em qualquer lugar. Porém há mais: alguns resolvem nadar em locais perigosos ou desconhecidos, outros decidem caminhar em praias inundadas sem considerar o risco de ser ferroado por arraias, pra ficar no básico. Nesse último caso, creio que ninguém ignora o que significa ser ferroado por uma desses bichinhas. Pra resumir, é o fim da pescaria. O que se extrai, então, é que devemos encher a cara (é opcional) à noitinha, quando nos reunimos pra falar do dia e depois ir pra caminha. Nada de beber em excesso quando estiver pescando, seja dia ou noite.
    Pessoal, reforço uma vez mais que apreciaria bastante conhecer experiências e causus relacionados a acidentes e os modos de preveni-los. Este espaço é comum de todos, e todos devem explorá-lo até o limite de seus conhecimentos, sem dia, hora e tempo para sua definitiva conclusão, ainda porque, como no direito, pescar é também uma ciência da semântica, que evolui sistematicamente ao longo do tempo e dos lugares, ao sabor das regras ditadas pela mãe natureza.
    Deixo um forte abraço a todos da comunidade do FTB.
    Gilbertinho da Amazônia.                                              
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    Gilbertinho recebeu reputação de Fabrício Biguá em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA II   
    Olá pessoal;
    Dias atrás, postei um tópico que aborda aspectos de segurança que a gente pode e deve adotar para evitar a ocorrência de acidentes nas aventuras de pesca, quer enquanto navegamos, quer quando fundeados esperando o peixe bater. Inclui, a exemplo do tópico original, outras particularidades que envolvem animaizinhos problemáticos da Amazônia, onde resido. Recomendo que os amigos que ainda não leram o tópico original, que o façam, visto que a pretensão é transferir e acumular experiências, conhecimentos e situações que devemos ter em conta para nossa própria segurança nas aventuras em que nos metemos e também para a tranquilidade de nossos familiares, que ficam em casa pedindo a Deus para que nada de mal nos aconteça nessas ocasiões. Lembro também que ambos os tópicos não constituem propriedade intelectual de ninguém, gostaria muito de contar com a colaboração dos membros da comunidade FTB, no sentido de que construíssemos um verdadeiro compêndio ou manual de segurança nas pescarias. Dito isso, vamos dar continuidade à lista de situações de risco que listei no tópico original, a começar pelo item 11 (ver anteriores no primeiro tópico):
    Situação 11 - Motores Problemáticos 1: Lá pelos anos 90, em pleno Pantanal Mato-Grossense, me encontrava com amigos pescando no Rio São Lourenço, afluente do Cuiabá. Na época eu morava em Rondonópolis, e minhas idas com a turma ao Itiquira e São Lourenço eram bastante frequentes. Nessa ocasião, chegou uma comitiva de pescadores oriundos da Capital de São Paulo, fazendo-nos antever que haveria algo de interessante pra gente ver, e não deu outra: colocados os botes na água, a galera toda logo acorreu para ligar as máquinas e fazer um tour pelo rio. Com essa turma, veio também um senhor já de meia-idade, pai de um cara apelidado Nenê, que logo convidou o pai para dar uma voltinha no rio. O Velho, todo preocupado e confessando nunca haver entrado num barco, acabou por ceder aos insistentes apelos do filho. Lá foram então o Nenê e o velho para o bote, e a coisa começou a ficar engraçada, porque o velho, como todos os que não tem prática em movimentar-se em barcos, dava passadas bem largas no interior do bote, ora num bordo, ora noutro, e parecia que a coisa iria emborcar mesmo amarrado na margem. Sob orientação do filho Nenê, foi logo para o banco da frente, onde agarrou-se firmemente onde podia, sem mover um músculo sequer a partir daí. Quer dizer, pescoço duro, não olhava para lado algum, só mirava o que via em frente. Bem, o Nenê soltou o barco a deriva, sentou-se no banco da popa e meteu o braço na cordinha. E nada. afogava, desafogava, engatava, desengatava, acelerava, e nada. E o velho firme como uma pedra, só olhando por cima da proa. O Nenê se enervou com a teimosia do antigo Johnson 25 e resolver ficar de frente para o crime: levantou-se e encarou com mais veemência a difícil tarefa de fazer funcionar a máquina. Tudo de novo. Mexe aqui, mexe ali, puxa corda pra valer, até que o "pé de ferro" pegou acelerado e engatado para a frente, saindo disparado rio afora  Como não poderia ser diferente, o tranco fez com que o Nenê passasse por cima do motor e caísse de cara n'água. O bote, à toda, seguiu em frente. O velho gritava "Nenê, tira a força, olha a praia" O Nenê, nessa altura, já ia subindo o barranco da outra margem para buscar socorro. Praia se aproximando cada vez mais, e o velho berrando cada vez mais, até que o bote subiu com tudo praia adentro, arremessando o velho como um estilingue, fazendo-o sair como um tiro praia adentro, catando galinhas, até estatelar-se de cara na areia. De longe ouvimos o velho gritar: "Nenê, seu filho da p..., não te falei pra tirar a força?", até que se apercebeu que estava sozinho no barco e o Nenê já vinha chegando com um colega para socorrê-lo.
    O que se extrai de fatos dessa natureza é que, especialmente nessas circunstâncias, sob hipótese alguma devemos mexer na alavanca de câmbio do motor. Ao contrário, devemos observar se ela está no neutro, e ter em mente que ela nada tem a ver com problemas do motor ligar ou não. Mais ainda, a mesma providência deve ser adotada em qualquer caso, não apenas em motores com problemas de partida.
    Situação 12 - Motores Problemáticos. Acidente fatal: Também em meados de 1990, um cara de prenome Paulo Japonês, morador de Cuiabá e mecânico de mão-cheia, teve o mesmo tipo de problema, desta feita com um motor 15 HP, não sei dizer a marca. Igualzinho ao Nenê, ficou de pé de frente para o motor e fuçou tanto que a cordinha da partida rompeu-se. Daí teve de retirar a cobertura de proteção do volante do motor, enrolando nele a cordinha reserva que vem em seu kit. Do mesmo modo, não checou se o câmbio estava engatado, e estava. Puxa daqui, puxa dali, até que o motor pegou, jogando-o do mesmo modo pela popa. O problema é que como havia retirado a proteção do volante, caiu com o abdome sobre ele em alta rotação. O final não é preciso contar, ainda me dá arrepios até hoje. Desse caso, e na mesma circunstância, extraio que vale demais a pena reforçar a mesma medida preventiva que no caso anterior: Nunca deixe de verificar se a alavanca do câmbio está em Neutro.
    Situação 13 - Jacarezinhos do Amazonas - Perigo: Amigos, vocês já perceberam que eu vivi um bom tempo pescando no Pantanal de Mato Grosso. É verdade, foi até o que me fez me mudar de Sampa para lá, isso no início da década de 1980. Toda hora estava no Pantanal, era programa obrigatório de todo fim-de-semana, a gente deixava pra saber o resultado do futebol quando chegava em casa. Os Jacarés-Tinga do Pantanal eram pra lá de abundantes, a gente saía pelas praias logo cedinho chutando a bunda deles só por diversão, para vê-los saindo com tudo no rumo da água. E diz a poetisa que jacaré não tem cadeira porque não tem bunda pra sentar. Pode até ser, mas pra chutar tem. Mas vamos lá. Quando me mudei para o norte-amazônico, na primeira incursão de pesca que fiz à noitinha vi alguns olhinhos vermelhos sob a luz do holofote. Em meu imaginário, logo deduzi que se tratavam dos mesmos jacarezinhos sub-nutridos do Pantanal. Não os incomodei nem fui incomodado. Com o tempo fui me inteirando do assunto, daí aprendi que aqui na Amazônia o que impera são os jacarés-açu, muito assemelhados aos crocodilos do Nilo, tanto em tamanho e peso quanto em relação ao perigo que representam para animais de grande porte e pessoas (pescadores esportistas inclusos). Tanto é verdade, que há pouco mais de um mês, um pescador artesanal aqui de Caracaraí se meteu em confusão com um bicho desses no Rio Anauá. Resultado: partes de seu corpo foram encontradas dias depois, não dá pra brincar, é coisa séria. Lá pelas bandas do Negro, onde vivi por uns dois anos, de quando em vez via a turma de Novo Airão sair armada até os dentes para matar esses bichos, já acostumados a devorar bezerros e pessoas em certos lugares mais recônditos. O que devemos extrair dessa condição única, já que os açús (jacarés, bem entendido) vivem unicamente na bacia amazônica, não há replay em nenhum outro lugar do Brasil: Primeiro, você deve apagar da memória tudo o que sabe sobre jacarés quando vier para a Amazônia. A coisa é grande e feia e se facilitar o bicho pega. Mantenha uma distância prudente deles, e nunca se atreva a provocá-los, tem alguns que chegam a ter quase um metro de largura na parte central de seu corpo, é jacaré sobrando e risco certo de desastre.
    Situação 14 - Sucuris e Sucurijus: Com certeza, todo já ouviu falar, assistiu documentários e muitos até já viram essas bichinhas em rios e lagos. Uma e outra são a mesma espécie, só muda o nome daí para cá, de Sucuri para Sucuriju. Todos sabem dos riscos que elas representam, assim como as demais serpentes constritoras. Há muitas histórias a respeito, e vou contar duas a um só tempo, pra economizar a atenção da turma. A primeira foi comigo: durante uma seca violenta, em 2012, logramos capturar uma de 5 metros, atravessando o asfalto da BR 174. Enchemos ela de pancadas, amarramos uma corda no pescoço e levamos para o sítio, bem próximo do local da captura, visando medi-la e extrair sua banha (santo remédio). Amarramos a corda bem curta numa árvore e nos dispomos a estirá-la para medir. Estava ainda viva, apesar das pancadas que levou. Passei uma corda no "rabo" da bicha, passei numa arvorezinha e mandei a turma esticá-la para a medição. Conforme a turma puxava, ela cedia um pouco e eu encurtava a corda, ela fazendo força em contrário. Até que num dado momento, ouvi a arvorezinha estralar rompendo raízes em razão da força de tração extrema do animal, que não media mais que 5 metros, e aqui ouvimos falar em exemplares de 8 a 12 metros, dá pra imaginar a força que devem ter. Emendo essa situação com o que vi acontecer no Rio Alalaú, que divide Roraima e Amazonas. Seguindo viagem de carro pela BR 174, deparei com algumas pessoas olhando o rio e gesticulando. Curioso, fui ver do que se tratava. Ainda deu pra ver um índio da tribo waimiri-atroari embolado com uma sucuriju descendo rio abaixo. Por certo, ela o atacou quando se encontrava lidando com algum barco que a tribo mantém sob a ponte. O certo é que ele foi comer capim pela raiz, disso não há dúvida. O que extraímos de episódios como esse, aliás ocorrentes em várias partes do Brasil, segundo a história, é que sempre que possível devemos evitar a criação de condições para encontros com essas bichinhas. Isso significa nunca entrar n'água em locais onde sabemos que elas habitam e, na dúvida se elas ocorrem ou não noutros locais, é melhor prevenir, ficar no seco. Se tiver de tomar um banho, inclusive para espantar o calor, utilize um balde ou coisa parecida, mas não vacile entrando na água. Se estiver pescando no barranco ou no bote, fique atento: a única coisa que denuncia a aproximação delas são as marolinhas e bolhas que vem em sua direção. Como diz a gauchada, fica "veiáco", tchê, senão o jacaré te abraça.
    Situação 15 - Os Morcegos Hematófagos: Diferentemente do que se vê na maior parte do país, aqui na Amazònia ocorrem morcegos hematófagos que apreciam muito o sangue humano. Vou contar um caso que vivenciei no final de 1999, ano em que criei uma unidade de conservação exclusiva para exploração do turismo de pesca esportiva no extremo sul de Roraima (APA Xeriuini). Interessado em conseguir um empresa para desenvolver operações de pesca na Bacia do Xeriuini, uma das seis da unidade, logrei contato com um empresário do setor instalado em Sampa, o nome é (ou era) Paulo Polimeni, algum de vocês deve ter ouvido falar. Decidimos seguir viagem numa lancha para vencer os 300 quilômetros que separam a comunidade de Terra Preta e a sede de Caracaraí, onde moro até hoje. Nosso piloto, um crioulo de nome Chico Martins, era morador daquela localidade, que há época tinha em torno de 35 famílias. Bacia visitada, Paulo Polimeni empolgado com o potencial do local. À noitinha, fomos jantar e dormir na casa do Chico, uma palafita de madeira de dois andares e dois cômodos bem simples. Embaixo a cozinha, e no andar de cima o quarto coletivo, onde dormiam ele, sua mulher e 4 filhos pequenos. Jantamos ensopado de Piranha com Chibé, que ainda hoje é o básico daquela gente (chibé é água com farinha de mandioca brava), e daí armamos as redes para dormir. Chico e família no andar de cima e eu e o Paulo na cozinha. Lá pelas tantas, percebemos que algo estava nos molhando, o que era estranho, já que além de estarmos no térreo de uma palafita, não estava chovendo. Só no amanhecer é que ficamos sabendo que no quarto não havia banheiro, e a turma do Chico urinava direto sobre o assoalho, daí o que nos molhava era mijo puro, e não água. Mas a coisa não parou por aí. O Paulo Polimeni, fazendo um auto-exame logo cedinho, disse num dado momento: "acho que me machuquei ontem, olha como meu dedão está sangrando!" Aí o Chico caiu na gargalhada e esclareceu: "que nada, foi o morcego que chupou seu dedo". Apavorado, o Paulo pediu urgência no regresso, por saber que esses bichinhos são transmissores do vírus da raiva. Após algumas semanas, exames feitos, o Paulo mandou por correio um amontoado de prospectos sobre a raiva transmitida pelos morcegos, e nunca mais apareceu por aqui. Dito isso, se vier pescar por nessas bandas, se for dormir em camarote, mantenha porta e janela fechadas. Se preferir dormir em rede no convés do barco-hotel, nunca dispense um mosquiteiro, senão você pode ter de visitar um hospital bem mais cedo do que pensa e acabar com a pescaria.
    Situação 16 - A Marvada Pinga: No tópico original, listei duas situações de alto risco envolvendo a navegação sob galhadas baixas em rios e lagos. Providencialmente, um dos membros do FTG deu uma excelente colaboração ao lembrar que situações assim podem também ser causadas pelo álcool, quer dizer, pelo excesso de álcool que eventualmente alguém venha a ingerir nessas ocasiões, que também foram feitas pra gente tomar umas a mais na beira do rio, o que é lógico e compreensível. Porém, ouso dar um acréscimo ao acréscimo, abordando outras situações de risco que o excesso de álcool pode produzir. Antes, creio que todo mundo concorda que o álcool produz diferentes efeitos nas pessoas. Umas ficam chorosas, outras valentes, outras desinibidas e finalmente as que ficam corajosas. Logicamente, as mais ameaçadas estão no grupo das valentes e das corajosas. Umas porque querem brigar com quem que que seja e por qualquer motivo, o que pode acabar com uma pescaria ou até mesmo dissolver um bom grupo de amigos de pesca. Outras porque perdem o senso do perigo, levando-as a fazer o que não deve, a exemplo da condução de barcos de forma imprudente em qualquer lugar. Porém há mais: alguns resolvem nadar em locais perigosos ou desconhecidos, outros decidem caminhar em praias inundadas sem considerar o risco de ser ferroado por arraias, pra ficar no básico. Nesse último caso, creio que ninguém ignora o que significa ser ferroado por uma desses bichinhas. Pra resumir, é o fim da pescaria. O que se extrai, então, é que devemos encher a cara (é opcional) à noitinha, quando nos reunimos pra falar do dia e depois ir pra caminha. Nada de beber em excesso quando estiver pescando, seja dia ou noite.
    Pessoal, reforço uma vez mais que apreciaria bastante conhecer experiências e causus relacionados a acidentes e os modos de preveni-los. Este espaço é comum de todos, e todos devem explorá-lo até o limite de seus conhecimentos, sem dia, hora e tempo para sua definitiva conclusão, ainda porque, como no direito, pescar é também uma ciência da semântica, que evolui sistematicamente ao longo do tempo e dos lugares, ao sabor das regras ditadas pela mãe natureza.
    Deixo um forte abraço a todos da comunidade do FTB.
    Gilbertinho da Amazônia.                                              
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    Gilbertinho recebeu reputação de Marcos Ide em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA II   
    Olá pessoal;
    Dias atrás, postei um tópico que aborda aspectos de segurança que a gente pode e deve adotar para evitar a ocorrência de acidentes nas aventuras de pesca, quer enquanto navegamos, quer quando fundeados esperando o peixe bater. Inclui, a exemplo do tópico original, outras particularidades que envolvem animaizinhos problemáticos da Amazônia, onde resido. Recomendo que os amigos que ainda não leram o tópico original, que o façam, visto que a pretensão é transferir e acumular experiências, conhecimentos e situações que devemos ter em conta para nossa própria segurança nas aventuras em que nos metemos e também para a tranquilidade de nossos familiares, que ficam em casa pedindo a Deus para que nada de mal nos aconteça nessas ocasiões. Lembro também que ambos os tópicos não constituem propriedade intelectual de ninguém, gostaria muito de contar com a colaboração dos membros da comunidade FTB, no sentido de que construíssemos um verdadeiro compêndio ou manual de segurança nas pescarias. Dito isso, vamos dar continuidade à lista de situações de risco que listei no tópico original, a começar pelo item 11 (ver anteriores no primeiro tópico):
    Situação 11 - Motores Problemáticos 1: Lá pelos anos 90, em pleno Pantanal Mato-Grossense, me encontrava com amigos pescando no Rio São Lourenço, afluente do Cuiabá. Na época eu morava em Rondonópolis, e minhas idas com a turma ao Itiquira e São Lourenço eram bastante frequentes. Nessa ocasião, chegou uma comitiva de pescadores oriundos da Capital de São Paulo, fazendo-nos antever que haveria algo de interessante pra gente ver, e não deu outra: colocados os botes na água, a galera toda logo acorreu para ligar as máquinas e fazer um tour pelo rio. Com essa turma, veio também um senhor já de meia-idade, pai de um cara apelidado Nenê, que logo convidou o pai para dar uma voltinha no rio. O Velho, todo preocupado e confessando nunca haver entrado num barco, acabou por ceder aos insistentes apelos do filho. Lá foram então o Nenê e o velho para o bote, e a coisa começou a ficar engraçada, porque o velho, como todos os que não tem prática em movimentar-se em barcos, dava passadas bem largas no interior do bote, ora num bordo, ora noutro, e parecia que a coisa iria emborcar mesmo amarrado na margem. Sob orientação do filho Nenê, foi logo para o banco da frente, onde agarrou-se firmemente onde podia, sem mover um músculo sequer a partir daí. Quer dizer, pescoço duro, não olhava para lado algum, só mirava o que via em frente. Bem, o Nenê soltou o barco a deriva, sentou-se no banco da popa e meteu o braço na cordinha. E nada. afogava, desafogava, engatava, desengatava, acelerava, e nada. E o velho firme como uma pedra, só olhando por cima da proa. O Nenê se enervou com a teimosia do antigo Johnson 25 e resolver ficar de frente para o crime: levantou-se e encarou com mais veemência a difícil tarefa de fazer funcionar a máquina. Tudo de novo. Mexe aqui, mexe ali, puxa corda pra valer, até que o "pé de ferro" pegou acelerado e engatado para a frente, saindo disparado rio afora  Como não poderia ser diferente, o tranco fez com que o Nenê passasse por cima do motor e caísse de cara n'água. O bote, à toda, seguiu em frente. O velho gritava "Nenê, tira a força, olha a praia" O Nenê, nessa altura, já ia subindo o barranco da outra margem para buscar socorro. Praia se aproximando cada vez mais, e o velho berrando cada vez mais, até que o bote subiu com tudo praia adentro, arremessando o velho como um estilingue, fazendo-o sair como um tiro praia adentro, catando galinhas, até estatelar-se de cara na areia. De longe ouvimos o velho gritar: "Nenê, seu filho da p..., não te falei pra tirar a força?", até que se apercebeu que estava sozinho no barco e o Nenê já vinha chegando com um colega para socorrê-lo.
    O que se extrai de fatos dessa natureza é que, especialmente nessas circunstâncias, sob hipótese alguma devemos mexer na alavanca de câmbio do motor. Ao contrário, devemos observar se ela está no neutro, e ter em mente que ela nada tem a ver com problemas do motor ligar ou não. Mais ainda, a mesma providência deve ser adotada em qualquer caso, não apenas em motores com problemas de partida.
    Situação 12 - Motores Problemáticos. Acidente fatal: Também em meados de 1990, um cara de prenome Paulo Japonês, morador de Cuiabá e mecânico de mão-cheia, teve o mesmo tipo de problema, desta feita com um motor 15 HP, não sei dizer a marca. Igualzinho ao Nenê, ficou de pé de frente para o motor e fuçou tanto que a cordinha da partida rompeu-se. Daí teve de retirar a cobertura de proteção do volante do motor, enrolando nele a cordinha reserva que vem em seu kit. Do mesmo modo, não checou se o câmbio estava engatado, e estava. Puxa daqui, puxa dali, até que o motor pegou, jogando-o do mesmo modo pela popa. O problema é que como havia retirado a proteção do volante, caiu com o abdome sobre ele em alta rotação. O final não é preciso contar, ainda me dá arrepios até hoje. Desse caso, e na mesma circunstância, extraio que vale demais a pena reforçar a mesma medida preventiva que no caso anterior: Nunca deixe de verificar se a alavanca do câmbio está em Neutro.
    Situação 13 - Jacarezinhos do Amazonas - Perigo: Amigos, vocês já perceberam que eu vivi um bom tempo pescando no Pantanal de Mato Grosso. É verdade, foi até o que me fez me mudar de Sampa para lá, isso no início da década de 1980. Toda hora estava no Pantanal, era programa obrigatório de todo fim-de-semana, a gente deixava pra saber o resultado do futebol quando chegava em casa. Os Jacarés-Tinga do Pantanal eram pra lá de abundantes, a gente saía pelas praias logo cedinho chutando a bunda deles só por diversão, para vê-los saindo com tudo no rumo da água. E diz a poetisa que jacaré não tem cadeira porque não tem bunda pra sentar. Pode até ser, mas pra chutar tem. Mas vamos lá. Quando me mudei para o norte-amazônico, na primeira incursão de pesca que fiz à noitinha vi alguns olhinhos vermelhos sob a luz do holofote. Em meu imaginário, logo deduzi que se tratavam dos mesmos jacarezinhos sub-nutridos do Pantanal. Não os incomodei nem fui incomodado. Com o tempo fui me inteirando do assunto, daí aprendi que aqui na Amazônia o que impera são os jacarés-açu, muito assemelhados aos crocodilos do Nilo, tanto em tamanho e peso quanto em relação ao perigo que representam para animais de grande porte e pessoas (pescadores esportistas inclusos). Tanto é verdade, que há pouco mais de um mês, um pescador artesanal aqui de Caracaraí se meteu em confusão com um bicho desses no Rio Anauá. Resultado: partes de seu corpo foram encontradas dias depois, não dá pra brincar, é coisa séria. Lá pelas bandas do Negro, onde vivi por uns dois anos, de quando em vez via a turma de Novo Airão sair armada até os dentes para matar esses bichos, já acostumados a devorar bezerros e pessoas em certos lugares mais recônditos. O que devemos extrair dessa condição única, já que os açús (jacarés, bem entendido) vivem unicamente na bacia amazônica, não há replay em nenhum outro lugar do Brasil: Primeiro, você deve apagar da memória tudo o que sabe sobre jacarés quando vier para a Amazônia. A coisa é grande e feia e se facilitar o bicho pega. Mantenha uma distância prudente deles, e nunca se atreva a provocá-los, tem alguns que chegam a ter quase um metro de largura na parte central de seu corpo, é jacaré sobrando e risco certo de desastre.
    Situação 14 - Sucuris e Sucurijus: Com certeza, todo já ouviu falar, assistiu documentários e muitos até já viram essas bichinhas em rios e lagos. Uma e outra são a mesma espécie, só muda o nome daí para cá, de Sucuri para Sucuriju. Todos sabem dos riscos que elas representam, assim como as demais serpentes constritoras. Há muitas histórias a respeito, e vou contar duas a um só tempo, pra economizar a atenção da turma. A primeira foi comigo: durante uma seca violenta, em 2012, logramos capturar uma de 5 metros, atravessando o asfalto da BR 174. Enchemos ela de pancadas, amarramos uma corda no pescoço e levamos para o sítio, bem próximo do local da captura, visando medi-la e extrair sua banha (santo remédio). Amarramos a corda bem curta numa árvore e nos dispomos a estirá-la para medir. Estava ainda viva, apesar das pancadas que levou. Passei uma corda no "rabo" da bicha, passei numa arvorezinha e mandei a turma esticá-la para a medição. Conforme a turma puxava, ela cedia um pouco e eu encurtava a corda, ela fazendo força em contrário. Até que num dado momento, ouvi a arvorezinha estralar rompendo raízes em razão da força de tração extrema do animal, que não media mais que 5 metros, e aqui ouvimos falar em exemplares de 8 a 12 metros, dá pra imaginar a força que devem ter. Emendo essa situação com o que vi acontecer no Rio Alalaú, que divide Roraima e Amazonas. Seguindo viagem de carro pela BR 174, deparei com algumas pessoas olhando o rio e gesticulando. Curioso, fui ver do que se tratava. Ainda deu pra ver um índio da tribo waimiri-atroari embolado com uma sucuriju descendo rio abaixo. Por certo, ela o atacou quando se encontrava lidando com algum barco que a tribo mantém sob a ponte. O certo é que ele foi comer capim pela raiz, disso não há dúvida. O que extraímos de episódios como esse, aliás ocorrentes em várias partes do Brasil, segundo a história, é que sempre que possível devemos evitar a criação de condições para encontros com essas bichinhas. Isso significa nunca entrar n'água em locais onde sabemos que elas habitam e, na dúvida se elas ocorrem ou não noutros locais, é melhor prevenir, ficar no seco. Se tiver de tomar um banho, inclusive para espantar o calor, utilize um balde ou coisa parecida, mas não vacile entrando na água. Se estiver pescando no barranco ou no bote, fique atento: a única coisa que denuncia a aproximação delas são as marolinhas e bolhas que vem em sua direção. Como diz a gauchada, fica "veiáco", tchê, senão o jacaré te abraça.
    Situação 15 - Os Morcegos Hematófagos: Diferentemente do que se vê na maior parte do país, aqui na Amazònia ocorrem morcegos hematófagos que apreciam muito o sangue humano. Vou contar um caso que vivenciei no final de 1999, ano em que criei uma unidade de conservação exclusiva para exploração do turismo de pesca esportiva no extremo sul de Roraima (APA Xeriuini). Interessado em conseguir um empresa para desenvolver operações de pesca na Bacia do Xeriuini, uma das seis da unidade, logrei contato com um empresário do setor instalado em Sampa, o nome é (ou era) Paulo Polimeni, algum de vocês deve ter ouvido falar. Decidimos seguir viagem numa lancha para vencer os 300 quilômetros que separam a comunidade de Terra Preta e a sede de Caracaraí, onde moro até hoje. Nosso piloto, um crioulo de nome Chico Martins, era morador daquela localidade, que há época tinha em torno de 35 famílias. Bacia visitada, Paulo Polimeni empolgado com o potencial do local. À noitinha, fomos jantar e dormir na casa do Chico, uma palafita de madeira de dois andares e dois cômodos bem simples. Embaixo a cozinha, e no andar de cima o quarto coletivo, onde dormiam ele, sua mulher e 4 filhos pequenos. Jantamos ensopado de Piranha com Chibé, que ainda hoje é o básico daquela gente (chibé é água com farinha de mandioca brava), e daí armamos as redes para dormir. Chico e família no andar de cima e eu e o Paulo na cozinha. Lá pelas tantas, percebemos que algo estava nos molhando, o que era estranho, já que além de estarmos no térreo de uma palafita, não estava chovendo. Só no amanhecer é que ficamos sabendo que no quarto não havia banheiro, e a turma do Chico urinava direto sobre o assoalho, daí o que nos molhava era mijo puro, e não água. Mas a coisa não parou por aí. O Paulo Polimeni, fazendo um auto-exame logo cedinho, disse num dado momento: "acho que me machuquei ontem, olha como meu dedão está sangrando!" Aí o Chico caiu na gargalhada e esclareceu: "que nada, foi o morcego que chupou seu dedo". Apavorado, o Paulo pediu urgência no regresso, por saber que esses bichinhos são transmissores do vírus da raiva. Após algumas semanas, exames feitos, o Paulo mandou por correio um amontoado de prospectos sobre a raiva transmitida pelos morcegos, e nunca mais apareceu por aqui. Dito isso, se vier pescar por nessas bandas, se for dormir em camarote, mantenha porta e janela fechadas. Se preferir dormir em rede no convés do barco-hotel, nunca dispense um mosquiteiro, senão você pode ter de visitar um hospital bem mais cedo do que pensa e acabar com a pescaria.
    Situação 16 - A Marvada Pinga: No tópico original, listei duas situações de alto risco envolvendo a navegação sob galhadas baixas em rios e lagos. Providencialmente, um dos membros do FTG deu uma excelente colaboração ao lembrar que situações assim podem também ser causadas pelo álcool, quer dizer, pelo excesso de álcool que eventualmente alguém venha a ingerir nessas ocasiões, que também foram feitas pra gente tomar umas a mais na beira do rio, o que é lógico e compreensível. Porém, ouso dar um acréscimo ao acréscimo, abordando outras situações de risco que o excesso de álcool pode produzir. Antes, creio que todo mundo concorda que o álcool produz diferentes efeitos nas pessoas. Umas ficam chorosas, outras valentes, outras desinibidas e finalmente as que ficam corajosas. Logicamente, as mais ameaçadas estão no grupo das valentes e das corajosas. Umas porque querem brigar com quem que que seja e por qualquer motivo, o que pode acabar com uma pescaria ou até mesmo dissolver um bom grupo de amigos de pesca. Outras porque perdem o senso do perigo, levando-as a fazer o que não deve, a exemplo da condução de barcos de forma imprudente em qualquer lugar. Porém há mais: alguns resolvem nadar em locais perigosos ou desconhecidos, outros decidem caminhar em praias inundadas sem considerar o risco de ser ferroado por arraias, pra ficar no básico. Nesse último caso, creio que ninguém ignora o que significa ser ferroado por uma desses bichinhas. Pra resumir, é o fim da pescaria. O que se extrai, então, é que devemos encher a cara (é opcional) à noitinha, quando nos reunimos pra falar do dia e depois ir pra caminha. Nada de beber em excesso quando estiver pescando, seja dia ou noite.
    Pessoal, reforço uma vez mais que apreciaria bastante conhecer experiências e causus relacionados a acidentes e os modos de preveni-los. Este espaço é comum de todos, e todos devem explorá-lo até o limite de seus conhecimentos, sem dia, hora e tempo para sua definitiva conclusão, ainda porque, como no direito, pescar é também uma ciência da semântica, que evolui sistematicamente ao longo do tempo e dos lugares, ao sabor das regras ditadas pela mãe natureza.
    Deixo um forte abraço a todos da comunidade do FTB.
    Gilbertinho da Amazônia.                                              
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    Gilbertinho recebeu reputação de PauloGouveia em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
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    Gilbertinho recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Anderson, o que nos torna mais fortes e preparados são pequenas coisas como as que postei. Fico por demais feliz por suas palavras, e sempre que puder contribuir pra que gente como nós volte sempre são e salvo das aventuras que fazem parte de nossa vida, valerá demais a pena. Loguinho vou dar sequência ao post, como prometido. Há outros perigos na Amazônia que quero abordar para os colegas do Fórum.  
    Muito obrigado e um forte abraço.
    Gilbertinho da Amazônia 
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    Gilbertinho recebeu reputação de Adalberto Magrao em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
  21. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de Tassio Ferreira em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Anderson, o que nos torna mais fortes e preparados são pequenas coisas como as que postei. Fico por demais feliz por suas palavras, e sempre que puder contribuir pra que gente como nós volte sempre são e salvo das aventuras que fazem parte de nossa vida, valerá demais a pena. Loguinho vou dar sequência ao post, como prometido. Há outros perigos na Amazônia que quero abordar para os colegas do Fórum.  
    Muito obrigado e um forte abraço.
    Gilbertinho da Amazônia 
  22. Upvote
    Gilbertinho recebeu reputação de FabianoTucunare em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
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    Gilbertinho recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
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    Gilbertinho recebeu reputação de Fernando Petri em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
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    Gilbertinho recebeu reputação de Fabrício Biguá em CUIDADOS ESPECIAIS NA PESCA EMBARCADA   
    Pessoal, às vezes ouço ou leio narrativas sobre acidentes ocorrentes na pesca, envolvendo na maioria dos casos a pesca embarcada. Daí resolvi provocar a turma visando extrair e assimilar informações e conhecimentos que guardem relação sobre o tema, de modo que cada um conheça as principais causas e soluções para se obter uma boa margem de segurança nas pescarias, o que certamente trará por acréscimo a tranquilidade dos familiares que se preocupam bastante conosco quando nos ausentamos em busca de aventuras.
    Como passo inicial, inicio este painel relatando causas e efeitos de ocorrências fatais que conheço por relatos de terceiros e por experiências próprias, que poderiam ser evitadas com um mínimo de cuidados. Tomo a liberdade de enumerar cada situação abordada, sob pena de acabar me perdendo das digressões, observando que quando me refiro à Amazônia, deve-se entender que falo sobre sua porção ocidental, onde resido. Então vamos ao que interessa:
    Situação 1 - Rota de navegação: mês passado, no Rio Matupiri (proximidades do médio Amazonas e Madeira). o piloteiro de uma operadora de turismo conduzia o bote próximo da margem, deslocando-se para a área onde dois pescadores iriam pescar. De forma negligente, não se ateve a verificar se os passageiros estavam sentados nem os advertiu da proximidade de uma galhada baixa que se estendia sobre o trajeto do barco, nem tampouco dela se desviou. Por estarem de pé, em consequência ambos se chocaram com a galhada. Um deles teve o pescoço quebrado e faleceu. O outro ficou bastante ferido e foi encaminhado a um hospital nas imediações, creio que na cidade de Borba. Não sei dizer se conseguiu se recuperar. O piloteiro, sentadinho e certo de sua segurança, nada sofreu; 
    Apesar de lamentarmos esse episódio trágico, devemos aprender com ele. Afastar esse risco é coisa simples, basta que se adote como regra nunca ficar de pé num barco em deslocamento, mesmo que não existam galhadas visíveis em sua rota de navegação. O efeito pode ser o mesmo caso haja um choque com pedras e troncos submersos.
    Situação 2 - Rota de Navegação: há algum tempo, o mesmo tipo de acidente ocorreu no Água Boa do Univini, em Roraima, é relativamente perto de onde moro. Dessa feita o bote seguia só com o piloteiro em idêntica condição. Não viu uma galhada baixa à sua frente, e apesar de estar sentado, com ela se chocou, vindo a falecer. Extraímos daí um acréscimo aos cuidados que devemos tomar, que é o de evitarmos traçar rotas sob galhadas baixas, quando estivermos no controle da embarcação;
    Situação 3 - Manejo de Combustível: ano passado, no mesmo Água Boa do Univini, um piloteiro da Ecotur transferia gasolina de um tambor para o tanque do motor de popa, já de noite, visto que os pescadores iriam sair para a pesca ao alvorecer. Munido de uma lanterna, executava normalmente a tarefa, até que a carga das pilhas se esgotou, obrigando-o a trocá-las e seguir com a tarefa. Entretanto, ao ligá-la novamente, uma centelha fez com que a gasolina explodisse, provocando queimaduras de terceiro grau no infeliz. Socorrido, ficou internado por um longo tempo e só recentemente voltou à ativa. Como aprendizado, já que muita gente tem o hábito de abastecer à noitinha (e do mesmo modo) para sair bem cedo para pescar, devemos abrir mão desse hábito, executando essa tarefa de dia e longe de qualquer fonte que possa provocar acidentes dessa natureza;
    Situação 4 - Descer ou subir o rio? Essa é uma questão que em geral não envolve risco de vida, embora eu conheça exceção. Trata-se de decisões que tomamos quando estamos na pescaria com outros colegas que têm barcos. Caso resolva descer o rio, seu barco nunca deve seguir desacompanhado, porque se houver uma pane de motor, é uma roubada. Nada melhor que ter um companheiro por perto para rebocá-lo até o acampamento. Subir o rio não dá esse tipo de problema, porque para baixo todo santo ajuda, embora haja a questão do controle da direção do barco. Extraímos desses casos a importância de termos ao menos um par de remos no barco, que viabilizarão o controle da direção e eventualmente movimentar o barco;
    Situação 5 - A importância dos remos: apesar de ter abordado essa questão na situação anterior, gostaria de submeter uma situação hilária que testemunhei por causa de remos, ou melhor, pela falta deles. Por uns dois anos, morei numa lancha no Rio Negro, região das Anavilhanas, mais precisamente nas proximidades da cidade de Novo Airão, onde atracava o barco na boca de um igarapé, situado um pouco a jusante da cidade, para ter mais tranquilidade e segurança por conta das tempestades. Via de regra, comunidades rio abaixo faziam festas em que muita gente da região comparecia para beber, dançar e namorar. Na verdade, em nenhum outro lugar do país vi tanta paixão por festas, é festa religiosa, de torneios de futebol, do Tucumã, do Açaí, do peixe ornamental, do boto cor-de-rosa, do peixe-boi, enfim, qualquer coisa é motivo para festejar, e sempre com muita bebida, muita música do boi e muita dança, muito de tudo. À noitinha, minha esposa e eu ouvimos e vimos várias canoas de madeira descendo o rio, todas tocadas por motores rabetinhas, deduzindo que deveriam estar seguindo para alguma festa rio abaixo. A noite passou, e lá pelas cinco da manhã, o sol surgindo preguiçoso, quando ouvimos um chilep chilep constante, como algo batendo incessantemente na água, subindo o rio bem juntinho do costado da lancha. Olhamos pela janela e vimos uma canoa de uns 7 ou 8 metros, nego vazando pelas bordas, todos remando com as havaianas para chegar na cidade. Só risos. Deduzimos que essa turma deveria estar remando madrugada adentro, já que o dia seguinte era dia de branco, todo mundo ao trabalho. Desse dia em diante, jamais deixei de levar os remos no bote, mesmo que meu deslocamento da lancha fosse de 50 ou 100 metros. Macaco velho não pula em galho seco. Essa foi uma boa lição que aprendi, e recomendo que também o façam, por mais que os remos ocupem espaço e incomodem;
    Situação 6 - Serpentes peçonhentas: pouco tempo atrás, um pescador curioso resolveu fazer uma pequena caminhada por uma trilha na região do Rio Amajaú, sul de Roraima. A intenção era a de tentar a sorte num lago situado atrás da comunidade de Canauini, onde o barco-hotel estava atracado. Orientado por um cara da localidade, entrou mata adentro e ao passar sobre uma árvore caída, foi picado no peito do pé por uma Pico-de-Jaca, a cobra mais peçonhenta da Amazônia, Socorrido e conduzido de avião para a capital do Estado, Boa Vista, ficou internado por vários dias. O estrago foi tamanho que quando deixou o hospital e nos exibiu o local do ferimento, era possível ver o chão através de seu pé, um buraco da dimensão de uma moeda de 1 real. Coisa feia de se ver. Isso ensina que sempre devemos ter um cuidado imenso com incursões na mata. Não basta olhar o chão coberto de folhas onde as cobras se ocultam esperando presas, tampouco troncos caídos que servem de abrigo a elas. Na Amazônia, existem espécies peçonhentas que vivem e caçam em árvores, e é relativamente comum vê-las dependuradas em galhos, do mesmo modo que a cobra Papagaio, não venenosa. Assim, extrai-se o ensinamento que, se adentrarmos a mata ou caminhar junto às margens, devemos observar com cuidado não apenas o chão, mas também por onde todo o corpo vai passar ou possa ser alcançado por um  bote de uma cobra;
    Situação 7 - Insetos voadores venenosos; como muita gente vem para a região amazônica para pescar, vale discorrer sobre os principais insetos voadores venenosos daqui, a começar pelas famigeradas abelhas, fáceis de identificar e totalmente semelhantes às que encontramos no resto do país. As novidades ficam por conta dos cabas (marimbondos) amarelos e os da noite. Em geral têm o corpo avantajado e possuem uma pegada bem dolorida, característica comum dos dois. A diferença é essa "coisa" do caba-da-noite, que só entra em operação quando anoitece, e é bem maior que o caba amarelo, e sua picada injeta mais veneno. As soluções de redução de riscos quanto às abelhas e os cabas diurnos são, no primeiro caso, buscar identificar colmeias em troncos e construções velhas e manter distância, exceto se resolver extrair o mel, aí deve se preparar direitinho, senão...Já os cabas diurnos são preferencialmente encontrados em construções abandonadas, onde instalam suas casas, mas também habitam troncos de árvores mortas em meio à selva, exigindo algum cuidado nesses locais, apesar de ser praticamente impossível evitá-los quando nos visitam. Contra o o caba-da-noite, mais perigoso, só o que resolve e trancar portas e janelas ou se meter sob um mosquiteiro, aí está tudo resolvido;
    Situação 8 - Insetos voadores transmissores de doenças: seguindo a mesma linha da situação anterior, destaco alguns pontos sobre essa questão. Como se sabe, a incidência de transmissores do vírus da malária na Amazônia Ocidental é considerável. A única forma segura de prevenção é evitar o contato com esses caras, e para isso deve ser observado que, diferentemente do que muita gente pensa e diz, o Anopheles spp ataca também durante o dia, em menor intensidade, dependendo do clima. Se chover ou garoar, atacam mais. Porém, costuma-se dizer que o horário crítico é das seis às seis (da noite até a manhã). Uma curiosidade: caso esteja pescando em local onde há moradias de ribeirinhos por perto, observe se suas casas estão fechadas por volta das cinco da tarde. Se estiverem, é certo que a região é infestadas de pernilongos (carapanãs, para os amazônidas). Prevenção: repelente durante o dia e uma rede de dormir grossa e um mosquiteiro de boa qualidade, ou ainda um camarote fechado e vedado e refrigerado, senão irá morrer de calor;
    Situação 9 - Formigas Críticas: diz a lenda que Novo Airão, cidade localizada no curso médio do Rio Negro, antes era denominada simplesmente Airão. Assolada por formigas de todos os tipos, credos e raças, mudou-se tempo atrás para a atual localização, bem a jusante da posição geográfica original, ensejando a denominação "Novo" Airão. Fato ou mito à parte, o certo é que aqui as formigas são de lascar. Não se trata de formigas lavapés ou outras mais comezinhas do país, afinal, quem já não foi ferroado por alguma delas? Mas o fato é que aqui as mais parecidas fisionomicamente com as lavapés são as formigas-de-fogo, amarelinhas e não muito graúdas, mas portadoras de uma ferroada pra lá de dolorosa, queima como fogo, como o nome já diz. Porém, a pior delas é a famigerada Tocandira, bem avantajada, preta e menos comum de ser encontrada, e se for, alguém vai ter uma experiência inesquecível. Em geral, são solitárias em suas andanças pela selva, vadiando pelos troncos das árvores à procura de insetos menores que servem de alimento. Os acidentes com elas ocorrem em situações em que incautos resolvem apoiar as mãos ou o corpo nos troncos das árvores, e aí ela não perdoa, acabou o dia para quem for ferroado. A lição que se extrai é que devemos evitar, no caso das formigas-de-fogo, vacilar perto do formigueiros. Já no caso das Tocandiras, é pra lá de recomendável evitar o contado das mãos e do corpo com troncos de árvores, é sempre onde elas estão;                        
    Turma, já é madrugada e o sono está pegando. Retornarei com novas experiências e aprendizados. Grande abraço e grato pela atenção, lembrando que seria por demais útil conhecer experiências e medidas preventivas da turma do FTB para garantir nossa segurança.
    Gllbertinho, pescador da Amazônia  
      
             
     
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