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MEU PRIMEIRO AÇÚ


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MEU PRIMEIRO AÇÚ

 

                                                              Carlos A. Vettorazzi

 

 

Passava pouco das quatro da tarde de domingo. Era o nosso primeiro dia de pesca da semana e tiramos aquelas últimas horas da tarde para “aquecer os braços”, desestressar da viagem e ajustar o equipamento.

 

 Já havia tido uma ação, mas o peixe, pequeno, foi direto para o pau e a isca voltou sozinha.

 

Arremessávamos em direção a um barranco baixo, sombreado pela mata e com muitas raízes expostas.

 

Até então, nada de ação naquele ponto. Um tronco grande de árvore, caído no leito do rio, chamou-me a atenção. Na cabeça, aquele pensamento que nos vem a todo o momento em que nos deparamos com um ponto promissor:

- Se eu fosse um tucunaré iria estar aí.

 

Arremessei bem próximo ao barranco, quase junto ao tronco. Esperei um pouco, até que a isca se estabilizasse, e dei duas ou três “stickadas” fortes.

 

Assim que comecei o recolhimento, trabalhando a isca, o peixe bateu. Não era grande, mas eu não me importava. O que valia é que seria minha primeira captura em Barcelos. Cinquenta e seis anos até esse momento...

 

Vinha trazendo o peixe tranquilamente, quando o piloteiro alertou:

- O grande vem vindo atrás!

 

Antes que meu parceiro tivesse tempo de arremessar sua isca, na tentativa de pegar o companheiro do meu peixe, sinto um tranco inesperado e a vara quase sai de minhas mãos.

 

O peixe começa a tomar linha... e eu sem entender nada!

 

Ajustei o freio e logo o peixe sobe e mostra a cara. A boca era enorme e a isca parecia bem cravada. Decididamente aquele não era o tucunaré que eu havia fisgado próximo ao tronco! Mas isso agora não importava. Tinha que trazê-lo até o barco.

 

Muitas coisas passaram, então, por minha mente naqueles momentos, principalmente os vários obstáculos que acabaram por dar um gosto especial àquela briga. Foi um ano de muitas incertezas: a questão da demarcação das terras indígenas em Barcelos; o cancelamento dos vôos de carreira à cidade; problemas com minha saúde (o que mais me preocupava); e, por fim, o terrível repiquete que assolou a região e complicou a vida de tantos pescadores naqueles primeiros dias de novembro.

 

Depois de algumas corridas e recolhimentos o peixe estava próximo ao barco. O freio ajustado impediu sua última tentativa de fuga.

 

De prontidão, o piloteiro tentou acertar a boca do peixe com o boga. Não conseguiu na primeira. Tampouco na segunda. Eu já estava “surtando” quando, finalmente, o peixe foi colocado dentro do barco.

 

- Belo peixe, disse meu parceiro, Eduardo Seto, para logo a seguir completar:

- Treze libras!

 

Era um lindo açú, com a coloração típica da plenitude da estação reprodutiva. Treze libras de pura beleza e força!

 

 

Barcelos_2014_13_Relato_zps347c6198.jpg

 

 

O que exatamente aconteceu eu ainda não sei e nunca saberei.

 

Talvez o grande estivesse muito próximo do menor, quando a isca se soltou da boca dele e o maior, de imediato a atacou, sendo fisgado.

 

Talvez o maior tenha dado o bote na isca, ainda na boca do menor, de alguma forma tirando-a dele.

 

Talvez...ah, não importa! O que interessa mesmo é que o peixe foi para a fotografia e agora mora em minha lembrança!

 

Meu primeiro tucunaré-açú!

 

Piracicaba, 16 de novembro de 2014

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Éééé.... meu grande amigo Carlos.

 

Quando contou a história no barco, fiquei impressionado.

 

Esta mesma história sendo contada aqui, com tantos detalhes, me deixou mais emocionado ainda.

 

A pescaria foi muito difícil, mas a amizade foi, como diria Ivete Sangalo, "massa".

 

Parabéns pelo seu primeiro açu.

 

Abs

 

Rodrigo Xingu

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Que beleza, Carlos!

 

Sou de Santa Bárbara, tô perto de você! Haha

 

Senti a ansiedade do meu dia chegar também, cara! 
Não vejo a hora de chegar o dia em que irei rumo à Amazônia. Nunca fui e tenho um sonho enorme de ir.

Obrigado por compartilhar a experiência. Parabéns por esta conquista! E parabéns pelo texto muito bem redigido.
Abraços
 

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É por essas e outras que todo ano desde que começamos  as nossas pescarias ficamos com essa ansiedade e expectativa para voltarmos para a Amazônia ,só naqueles rios é que conseguimos  ter uma história fascinante como esta.Obrigado por nos fazer teletransportar para o local exato da captura  ,consegui ter  uma noção exata  da ação ,sensacional! ::tudo::  ::tudo::  ::tudo::

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