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As transformações e a velocidade com que avançam...


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As pessoas que já acumulam algumas (muitas) dezenas de anos deverão entender melhor essas "considerações" que faço a seguir...

Não interessa marcar "o ano" e sim falar "da época", já que essas situações são difíceis de serem definidas em termos de tempo.

Quando ainda bastante jovem, a "meca da pescaria" era o Pantanal, com sua piscosidade exuberante e relatos próximos da "mentira"...

O grande problema (nessa época) era o acesso e os serviços de operadores (aí inclusos as estruturas de apoio). Mas a "fartura" superava tudo...

Chegaram as indústrias de pescado, e com elas o "exagero" do peixe entrou em declínio e as pescarias de então foram ficando "fracas"... e as enormes estruturas de apoio (cada barco hotel maior que outro - estou me referindo a locais para até 80 pescadores) foram ficando cada vez mais vazias de clientes, proporcionalmente ao que os rios do Pantanal ofereciam de emoção e captura... peixes pequenos, muita piranha, e até mesmo insucessos de nem sequer uma batida...

Nessa época o rio Araguaia foi o novo destino dos então "aventureiros de barrancos", ou os que levavam seus botes, motores, tendas, etc...

Também havia um volume de pescado inteiramente absurdo ao longo do leito do rio em todo o seu percurso ! Lisos e escamas à escolher...

Fui (fomos) diversas vezes, muitas delas focando a captura de tucunarés - também abundantes, mesmo sem serem muito grandes !

Dessas idas, uma aconteceu em início de maio, época em que os cardumes subiam em milhares de indivíduos e na sequência de predadores, ou seja, os papa-terra, depois os piáus, depois os matrinxãs, os surubins e caranhas, pirararas e filhotes... e os botes emparelhados (contei 200 deles) e sequenciados ao longo do rio, levantavam as poitas quando diminuíam os ataques e remanejam mais para cima do rio e recomeçavam a pescar ! Eram 3 pescadores por bote pegando no cair da chumbada (isca branca morta pega com tarrafa nas beiradas...). Uma loucura ! Porto Luis Alves era o local de nossa base... que se estendia até o rio Cristalino. Sempre teve piranha, mas os jacarés davam conta e os botos ainda não estavam tão assanhados como hoje... 

Voltamos a frequentar a selva amazônica, hora na bacia do Madeira, mas predominantemente nas águas do rio Negro ! Época em que haviam poucos operadores e menos ainda barco-hotéis, alguns dos quais operavam em outras áreas e eram trazidos para Barcelos por conta de algum grupo... Não havia nem necessidade de ir muito distante da cidade de Barcelos, pois os tucunas apareciam em todo lugar, ora em cardumes enormes, ora em pequenos grupos (paca) e até mesmo em estágio solitário (os desejados Açús). Época em que as mãos ficavam inchadas ao final da semana por tanto esforço em embarcar peixes... coisa fantástica esse tempo !

Fomos também em outros pontos de pesca como Nhamundá (2), Trombetas, Tapajós, Curuá-Una, Marmelos, e outros, sempre com resultados dentro da expectativa (às vezes melhores e outras vezes piores), mas as semanas sempre foram fantásticas e inesquecíveis com pessoas até hoje presentes nas nossas reuniões...

No rio Negro, palco de nossas últimas idas ao Norte, a situação já deixara de ser a inicial ! Nem mesmo os "peixes ornamentais" geravam mais trabalho para os piloteiros na época de "baixa estação" (acabou o mercado comprador...). Também encontrei um "engarrafamento" de barco-hotéis em Barcelos (SIRN não ficou fora disso também...) aguardando para abastecimento tanto de víveres como de combustível e uma "horda de pescadores" ávidos a lançar as tralhas trazidas atrás "dos brutos"...

Peixe começou a rarear e não fosse a ausência de um padrão de chuvas (como até então existia), a situação estaria ainda pior ! Não menos nocivos se tornaram as "malditas geleiras" que vinham encher seus porões com tucunarés (de todos os tamanhos) para abastecimento de cidades como Manaus e de menor porte ! O poder municipal sempre fez "olho grosso" para isso, talvez até pelo relacionamento entre os poderosos da região. Vieram as hipocrisias das "licenças ambientais" do município, estabelecidas inicialmente pelo próprio prefeito, e posteriormente relançadas após lei municipal promulgada. Temo que pouco tenha sido feito com esses recursos...

Passamos a querer "disputar" economia de mercado com os pescadores americanos que eram trazidos pela força do dólar, achando que tínhamos "reserva de mercado"... Teríamos sim que fiscalizar a forma de operação e pagamento de impostos dos operadores, independente de serem (ou não) americanos. Vieram também os "índios" reivindicar sua parte (?) apoiados por ONG's que até loteamento de rios implementaram... Tudo muito triste de ver...

Falamos sempre no crescimento da pesca esportiva no nosso país, mas pouco fizemos para nos habilitar a fomentar essa atividade que gera bilhões de dólares anualmente. Pouco nos sobra, ou melhor cada vez menos peixe nos é ofertado nos rios antes tão piscosos... Falar em "pescar & soltar" é o começo (quase um "bê-a-bá") de ações que precisam ser implementadas ! "Zero de retirada de peixe" também é positivo, mas nessa só acredito quando houver proibição de comercialização de peixe silvestre (venda tem que ter certificado de procedência), e não falo dos que são praticados pelos ribeirinhos, pois isso é uma gota d'água no todo...

Vou concluir lembrando que as "transformações" não precisam necessariamente semear o "ruim" ! Podem (e devem) trazer soluções para nossos problemas. A questão básica que temos que enfrentar é nosso estado de "inanição cultural" e a absoluta falta de horizontes para transformar essa realidade. Algo precisa acontecer (e com velocidade) para quebrar esse paradigma em que nos encontramos, pois poderemos enxergar que a questão de nossos eco-sistemas precede qualquer outra preocupação de nos mantermos (inclusive e principalmente nossos descendentes) com uma melhor perspectiva de futuro. Gostaria que meus netos levassem seus netos para pegar um tucunaré numa aventura que os lembre das tantas que pude realizar... ::fishing

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Lendo este maravilhoso texto, voltei no tempo!!! engraçado que vivemos estes momentos "juntos", porém o amigo em loco e eu ainda criança com minhas revistas Aruanã (a que mais gostava), Pesca & Companhia, Bíblia do Pescador... danca::

Acredito que estamos aos poucos no caminho certo. Tudo o que foi vivido na época da "fartura de peixes" a minha a geração jamais verá, más quem sabe a dos meus sucessores se é que o mundo tecnológico permitirá às futuras gerações gostar de pescaria. seila::

Obrigado por fazer relembrar aqueles momentos nas folhas das revistas joia:::  não tive o prazer de conhecer, más com toda certeza pesquei mentalmente nos locais citados!

:amigo:

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Ainda acredito que a proteína animal a custo zero de produção sempre irá impedir nossa evolução.

Também vi o apogeu e derrocada do Pantanal, às vezes sentado em frente ao Zero Hora em Miranda só pra ver as caminhonetes transformadas, era infindável

a fila.

É curioso como precisamos zerar a coisas pra poder recomeçar, o Pantanal começa a dar sinais desta recuperação e só basta saber se os garimpeiros de otários

vão reaparecer. 

Hoje a moda é falar na indústria 4.0, ou seja a quarta revolução industrial (vapor-eletricidade-computação-automação), e quando isto vai chegar pra acabar com o extrativismo

cruel. Muitos não entendem bem como estamos com muito mais de 14 milhões de desempregados, falta coragem de dizer que uma boa parcela destes empregos não existem

mais, se tornaram obsoletos e extintos assim como muitas profissões.

Assim como não sou contra cortar arvores, sou contra não as replantarem, sou contra a captura de peixes para comercialização. Ninguém tem o direito de extrair algo sem o trabalho

de cuidar antes.

Há manejo sustentável que nunca chega a pesca, é cota é bolsa defeso e o pobre pescador predador é mantido na miséria saciando alguns espertalhões.

Já vi muitas desculpas em função das criações em cativeiro, mas vamos ter que correr riscos se quisermos evoluir, criar empregos e vagas novas e mudar a vida do extrativista 

na raça.

Só pra alegrar a vida, ainda bem que as novas gerações tem medinho de limpar peixes e suas esposas detestam sujar os fogões com frituras. kkkkkkkk A salvação esta próxima.

Só por curiosidade: Nas regiões de pesca existe o Bolsa Prostituta na época do defeso?

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Muito bom o texto e as considerações Kid. Nada como a experiência para nos dar sabedoria.

Já estou com bastante anos nas costas e sei o quanto isso representa.

Porém, tenho uma colocação que sei que vai desagradar a muitos, mas é o que eu penso.

Tenho verdadeiro ódio de pensar o que "pescadores" (predadores, fizeram com muitos rios do Pantanal, entre outros lugares), levando toneladas de peixe para apodrecer nos freezeres ou para fazer bonito (na época essa era a prática)..

Entretanto, não sou favorável a "cota zero" ABSOLUTA. Acho bem eficiente equilibrada a regra do Araguaia: pode se comer um peixinho (desde que não sejam espécies em extinção) na beira do rio, mas não pode se levar nada, a não ser fotos e boas lembranças.

Nunca mato uma matriz, nem fico com o peixe 3 horas fazendo foto, nem pego além de um peixe para comer na beira do rio.... Mas se formos levar tudo ao extremismo, vamos cair naquela ladainha de quem não gosta de pescar: "Por que fisgar o peixe? Machucar o coitado? " Ou então: Só pesco de artificial, para não usar um pobre peixe como isca.

Acho que tudo na vida carece de equilíbrio.

Se vou uma vez por ano para o Araguaia e como um peixe na barranca por dia, são 7 peixes no ano. E não é pelo custo zero. Todo mundo sabe que pescaria é uma "brincadeira" de alto custo. O que se gasta daria para comprar uma infinidade de peixes no mercado.... Mas não é isso... É aquele contato com a natureza... e saborear o peixinho que você mesmo pescou, enquanto assiste o rio correr...  e isso não tem preço.

Acho muito pior (e hipócrita), não comermos um peixe sequer na beira do rio e depois comer nas pousadas ou bares do lugar aquelas porções de peixe, jacaré, etc... que todo mundo sabe de onde vem... (essa sim uma matança predatória, na base da rede, sem respeito a espécies ou medidas)

Acho que com bom senso, dá para se divertir, para preservar e para curtir a vida de forma mais leve, respeitando e preservando a natureza, mas sem radicalismos que façam de coisas simples como a pescaria algo chato...

Politicamente correto: sempre; politicamente "mala": nunca.

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37 minutos atrás, Falcão disse:

Acho bem eficiente equilibrada a regra do Araguaia: pode se comer um peixinho (desde que não sejam espécies em extinção) na beira do rio, mas não pode se levar nada, a não ser fotos e boas lembranças.

Prezado Falcão,

Desculpe-me por não ter sido mais claro nas minhas considerações sobre "essa coisa" de comer um peixinho no barranco !

Claro que isso é da pescaria e como tal é de vital importância para o sucesso do programa !

DSC04566-1.jpg  DSC04579-1.jpg arrow:: "tucuna à mocorongo" fome:: joia:::

Tudo que consumirmos será inferior ao "estrago" de um simples boto... particularmente não dispenso uma fogueira na barranca !

Hipocrisia é querer entender que isso não é possível (ou passível) de ser feito ! Sem esquecer o "tira gosto" servido com a gelada...

Levar peixe para casa (ainda que "poucos") é algo que cada vez se faz menos na pescaria esportiva consciente ! Já foi o inverso...

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Kid, sou eu quem peço desculpas por não ter sido claro.

Quando falo em hipocrisia, me refiro a alguns pescadores, como alguns grupos que tenho em minha cidade, que ficam fazendo um dramalhão se vc posta uma foto assando um peixe...

Outro dia, postei uma moqueca de pintado que fizemos na beira do rio, num grupo de whats app, e um cara que veio me questionar se era de cativeiro ou se eu tinha tirado do rio. É esse tipo de coisa que eu quis dizer... 

Para você ter uma idéia, esse foi o único peixe que comemos lá em dias.... no mais, fizemos churrasco, feijoada, dobradinha...

Aí estamos em 8 na beira do rio, usamos UM pintado na medida para matar a lombriga e o cara me pergunta se é de cativeiro? Não respondi, mas pensei: simmmm, é de cativeiro... sai daqui do meio do mato, atravessei dois estados e fui no supermercado em Bauru buscar kkkkkkk

Abraço. Espero ter explicado. 

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17 horas atrás, Falcão disse:

Kid, sou eu quem peço desculpas por não ter sido claro.

Amigo Falcão,

Estamos ambos a favor do mesmo propósito:amigo:

E uma "moqueca de pintado" sempre terá seu lugar garantido ! fome::

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Temos no sangue a herança do extrativismo. Fomos criados com a ideia de retirar o máximo possível, pois amanhã pode faltar.

Adicione aí o q foi dito pelo Angelo: "É curioso como precisamos zerar a coisas pra poder recomeçar".

Somos um País jovem, q passou apenas por pequenas guerras, e q nunca precisou recomeçar.

Temos uma extensão continental, não valorizamos nossa história, e somos, na grande maioria, filhos de "Zé Ninguéns"...q passaram a vida toda lutando para sobreviver. Boa parte da região Norte e Nordeste ainda é formada por miseráveis, filhos e netos de miseráveis, q nunca tiveram oportunidade.

Nosso Legislativo é o mais "populista" do mundo.

Pergunto a todos: - Como esperar q fosse diferente?!?!

Do ano de 1500 até 1969, tínhamos 93 milhões de habitantes. Demoramos 469 anos para destruir o Brasil de 1969. Este, repleto de peixes, aves, matas, selvas e etc.

Ocorre q de 1969 até 2019 se passaram apenas 50 anos, e a população saltou de 93 para 210 milhões de habitantes..rsrs....

Concordo com tudo o q foi dito acima, por todos os amigos.....mas vamos voltar lá no Angelo.

"precisamos zerar as coisas pra poder recomeçar". 😪

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