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Wilson Jurupoca

Mocorongos
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Histórico de Reputação

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    Wilson Jurupoca recebeu reputação de Evandro P. F. de Camargo em CHUVEIRINHO DE TUCUNARÉ   
    Caros companheiros,
    Tomo a liberdade de escrever a vocês e expressar minha opinião em relação ao tema. Esclareço que não sou um estudioso da reprodução dos tucunarés, sou apenas um pescador amador apaixonado pela pesca esportiva desse peixe espetacular. O que pondero nessas linhas é fruto de algum tempo de pesca esportiva, muita conversa com piloteiros e ribeirinhos, com outros pescadores e alguma lógica natural.
    Vamos aos fatos;
    Normalmente um pescador que sonha em travar um duelo com belos exemplares de tucunarés fica muito contente e apreensivo quando naquele belo lago, sem vento, com a água totalmente espelhada, se depara com o famoso “chuveirinho”. Aquela porção de água geralmente arredondada, onde claramente se percebe o “fervilhar” da superfície em função da agitação dos peixinhos logo abaixo. Todos sabem que uma isca lançada naquele espaço vai render uma captura quase garantida, uma briga violenta, normalmente num local limpo com pouca possibilidade do peixe se livrar usando as estruturas naturais e um belo exemplar para ser fotografado (para não dizer abatido, mas vamos considerar puramente pesca esportiva).
    Ocorre que tudo acima é verdade, porque o “chuveirinho” é um cardume de alevinos sendo transportado, normalmente pelo pai, para outra região provavelmente por melhores condições de proteção e alimentação.
    Digo que normalmente é o pai que empreita essas mudanças, já que conversei alguns observadores e li matérias que dão conta que o pai permanece mais tempo protegendo a prole do que a mãe. Não sei se verdade ou não, mas dizem ser exatamente esse o motivo dele desenvolver o cupim que é uma reserva extra de gordura já que ficará mais tempo sem se alimentar do que a fêmea, que deixará os filhotes antes.
    Mas voltando ao chuveirinho, nessa empreitada o pai está disposto a tudo para proteger a prole, já que estará “comboiando” aos filhotes sem nada que possa garantir a proteção a não ser sua própria agressividade. É claro também, que somente os grandes tucunarés se arriscam a essas jornadas, pois os menores, mesmo que já em idade de reprodução, não empreitam tais “migrações” porque eles próprios não têm tamanho suficiente para se defender dos predadores.
    Sendo assim, está montado o cenário que o pescador se depara. Localização do peixe facilmente identificada pelo “chuveirinho”, normalmente livre de enroscos o que facilita sobremaneira a apresentação na isca no local certo. E a certeza de que ali existe um grande espécie com extrema agressividade.
    Praticamente irresistível.........................
    Mas gostaria de propor um minuto de reflexão se não devemos frear nosso ímpeto quando nos deparamos com essa situação e deixar que a natureza siga seu rumo sem nossa interferência. Isso porque, por melhor que sejam as intenções do pescador esportivo, por menor que seja o tempo de briga com o peixe, por menor que seja o tempo para devolvê-lo a água, terá sido tempo demais para os alevinos. Todo o processo, o ataque à isca, a batalha, o pânico, tudo que envolve a captura acaba dissipando os alevinos e mesmo que o pai seja devolvido rapidamente para a água ele, estressado, assustado, extremamente cansado, não tem condições de juntar novamente a prole, que indefesa, certamente vira refeição dos predadores de plantão.
    Portanto, cada vez que capturamos um tucunaré de “chuveirinho” estamos sentenciando a morte toda sua prole.
    Muitos pescadores dirão que então não se deve pescar também no período de reprodução, quanto os tucunas estão aos casais, protegendo seus ninhos, sua desova, etc... Até creio que existam prejuízos também na captura nessa situação, mas depois de solto, um peixe capturado nesse período, tem condições de se recompor, retornar ao ninho e voltar a rotina normal. Além disso, quando não são capturados os dois peixes (casal), um deles (normalmente a fêmea) fica no ninho cuidando do espaço até que o macho retorne. Situação que no “chuveirinho” é totalmente diferente, pois normalmente existe um único representante do casal fazendo a travessia e não existe um ponto fixo para retornar depois que ele for solto pelo pescador.
    Isto posto, gostaria de propor aos amigos que resistam à tentação de uma captura fácil de um tucunaré de “chuveirinho”. Costumo comparar isso a tirar os pais de qualquer filhote que ainda seja indefeso, sentenciando-o à morte. Vamos pensar no tucunaré como qualquer animal silvestre que tenhamos mais familiaridade, pensemos, por exemplo, nos pássaros. Certamente não teríamos coragem de separar os pais de seu ninho deixando os filhotes a disposição dos predadores. E se não fazemos isso com pássaros, porque faríamos com peixes? Será que é porque não conseguimos ver a aflição e vulnerabilidade dos filhotes, então não ficamos sensibilizados?
    Porque fazer isso justamente com o animal que nos dá tanto prazer ao pescar? Tão nobre combatente. Tão duro oponente. Mas tão frágil como qualquer outro animal.
    Amigos entendam que meu objetivo é tão somente convidá-los a visualizar o “chuveirinho” de outra forma, não tenho o objetivo de criticar ninguém porque no passado eu fui um pescador que vibrava ao localizar um “chuveirinho”. Hoje também vibro, só de forma diferente. Mais ou menos da mesma forma que vibrava quando abatia um grande peixe para levar para casa e hoje vibro soltando esse mesmo grande peixe para deixar que ele viva a vida.
    Não existe pesca sem peixe.
    No meu caso, não imagino pesca esportiva sem o tucunaré.
    E não existe tucunaré sem reprodutores que protejam suas crias.
    Pensem nisso..............
    Um grande abraço a todos.
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