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  1. Transcrição dos registros (anotações) feitos dessa aventura, que foram feitos em papel e entregues aos integrantes do Grupo 4. "Caros companheiros, Na busca de registrar os fatos acontecidos, vou tentar me lembrar daqueles que o tempo não apagou da memória (pelo menos os principais momentos que ficaram). Ainda com saudosas lembranças do ano anterior do "nosso Curuá-Una" e seus lagos e igarapés mágicos, decidimos tentar uma viagem diferente, mesmo que partindo de Santarém, mas com um destino mais distante, atrás de mais fartura e menos civilização ! É claro que as condições mínimas de suporte teriam que ser mantidas, mas o destino final seria outro ! E as "pesquisas" se iniciaram ! Tentamos NOVOS CONTATOS, mas as dificuldade de estar distante foram fundamentais para que encontrássemos a solução de modo semelhante às vezes anteriores, ou seja, com o suporte local do gerente do Banco ! Mais uma vez o rodízio profissional da Organização impedia a repetição da mesma assistência anterior, mas mesmo assim era nossa MELHOR OPÇÃO ! Lembro-me que o gerente principal chamava-se Ricardo, tendo iniciado sua carreira da gerência comigo em Belém, de modo que pelo menos a "boa vontade" haveria de existir ! A coordenação ficou com Marcos Fonseca, que desta feita já havia avisado sua impossibilidade de participar do Grupo ! Era uma ajuda importante, até sob o prisma logístico ! De qualquer modo, tínhamos que superar essas adversidades ! O preparo da viagem começou a ser feito de fato em Julho, pois até então era muita "intenção", mas pouco resultado prático ! O primeiro fato a ser resolvido seria a formação do Grupo, ou seja, definir quem seriam os participantes ! Os APF com certeza estariam presentes - Cecil inclusive estava "seco" ! Também Bill se programara (em termos de férias no Banco). Precisaríamos de seis, mas só tínhamos até então quatro participantes para fechar o programa (em função dos custos). Começamos a formalizar convites, não só junto aqueles que já tinham ido (além de Marcos Fonseca, que já havia se manifestado, Alex se aposentara e estava no exterior e Marco Antônio não conseguira a liberação do Itaú, já que iria substituir alguém nesse período, ou algo que o equivalha), ou mesmo aqueles aqueles que demonstraram algum interesse em "querer ir" (no Banco diversos companheiros foram consultados, mas apenas Luiz Henrique - que havia mostrado desejo, mas optara em viajar para o exterior, e José Damaso - com dificuldades de deixar a área recém assumida, chegaram a gerar uma expectativa). Nesse meio tempo é que uma conversa que pensávamos ser brincadeira, se tornou realidade, já que Osmar, nosso "Doctor", confirmava sua intenção de participar ! Com cinco, já dava para ir tocando e - se necessário - bancar a ausência do sexto participante ! Mas "as buscas" continuaram... Nesse ponto, Agosto já chegara e eu estava profundamente envolvido na negociação do acordo coletivo, participando inclusive da "mesa de negociação" da FEBRABAN ! Mas sempre arranjava um tempo, muitas vezes nos horários dos voos (cansei de de fazer Salvador - São Paulo - Salvador nesse período), mas o fato é que desta feita pude apenas MONITORAR o trabalho de "recrutamento" e "contratação" do barco e tripulação para a viagem ! Marcos Fonseca e o gerente de Santarém é que se encarregaram de todos os detalhes operacionais ! A recomendação que havia feito contudo, era de que fosse procurado - na região - alguém que já tivesse feito isso antes (levado um grupo para pescar naquelas condições). Dessa forma é que chegamos ao "nosso Aguinaldo" ! Intitulando-se "um faz tudo" à bordo, ele assumiu a responsabilidade de levar o Grupo até ORIXIMINÁ, em pleno rio Trombetas, afluente da margem direita do Amazonas ! Segundo informações locais (Santarém), ela tinha alguma experiência nisso, ou pelo menos já havia feito isso antes ! A dificuldade inicial foi com o REGIONAL,ou melhor, com o preço a ser cobrado ! Chegamos a um "meio termo", até porque estendíamos que estaríamos indo - desta feita - com um "guia" (ou algo próximo a isso). O próximo passo foi a definição dos botes e motores (queríamos 3 botes e 3 motores), e o mercado de aluguel estava difícil (nesta época, tudo ficava mais difícil por lá). Mais uma vez o "jeitinho financeiro" funcionou ! Não era exatamente o que queríamos, mas certamente daria para nossas necessidades (estávamos preocupados com a PRECARIEDADE dos motores da região, sempre muito fustigados e desgastados, daí termos uma "reserva" a mão, param uma emergência), vez que dois dos botes acomodavam 3 a 4 pessoas sem maior esforço ! Também as redes de dormir tiveram que ser negociadas, enfim, praticamente todos os itens foram "repassados" (e acrescidos), mas pelo menos ficaram acertados ! Enquanto isso, a negociação sindical se arrastava e os impasse criados eram mais políticos que técnicos ! Mas a data estava marcada e não havia mais como alterá-la ! Tive que fazer um bom trabalho "de bastidor", inicialmente junto à mesa de negociação da FEBRABAN (como Marco Antônio - Itaú - participava da mesma, conseguira um ótimo "aliado" nas conversas com o interlocutor dos sindicados presentes à mesa - Ricardo Berzoini, também chamado de Ricardão pelo seu porte físico). Como existiam diversos outros representantes de outras Instituições financeiras presentes, não foi complicado arranjar um substituto - aceito pelos sindicalistas presentes. Difícil mesmo foi convencer ao Presidente da minha instituição (Angelo Sá) de me liberar naquele período ! Felizmente os argumentos e o estágio em que se encontrava a negociação me foram favoráveis, se bem que a condição do Presidente ser um pescador fominha (de mar), não deixou de contribuir nesse processo ! Afortunadamente já lhe havia comentado sobre o assunto tempos atrás, quando obtive sua anuência "preventiva", mas com a situação da negociação sindical, cheguei a temer que fosse complicar ! Felizmente chegamos a um acordo conciliatório ! Mas foi difícil... Os últimos preparativos estavam em curso e já no início da semana da viagem conseguimos acertar o sexto participante ! Durante todo o período até então, inúmeras tentativas foram feitas a conhecidos distantes (principalmente em SP), mas todas se mostraram infrutíferas ! No final de semana anterior à nossa viagem é que nos lembramos de convidar Angelo Jr (também um "fominha" de pesca). Ele quase foi, mas algo impediu-o de concretizar a intenção (alguma coisa ligada ao trabalho junto a Corretora Aratu, onde era um dos diretores). Deste modo ele nos indicou seu companheiro de pescaria em Salvador, o jovem empresário GERALDO (conhecido por Geraldinho), também um grande "fominha" ! Apesar de só faltarem cinco dias para a partida, a resposta chegou no dia seguinte do convite, CONFIRMANDO sua presença e participação ! As informações - dadas por Angelo Jr - eram de que se tratava de um bom companheiro (e não estavam erradas) ! Ainda tive que ir a São Paulo na semana da viagem, de modo que cheguei para me integrar no Grupo na véspera da partida (literalmente). Felizmente já havia arrumado as tralhas antes de modo que foi só pegar as sacolas e isopor e dar andamento ! As tralhas desta pescaria estavam mais sortidas de "plugs", sem contudo esquecer as "colheres", pois era nossa intenção buscar mais pelos lançamentos do que pelo corrico ! Enfim, não sabíamos o que iríamos encontrar, de modo que o jeito foi levar o que tínhamos (mas tudo dava dentro da maleta de pesca - que já era das "grandes"). Meus dois irmãos haviam feito algum "shopping" desta feita e iriam "inaugurar" equipamentos mais novos, além de iniciarem - também - seus próprios estoques de iscas artificiais ! Apenas o "Doctor" é que estaria viajando sem equipamento próprio ! Havia combinado com o Bill de cedermos a "estrutura básica" de que ele iria precisar nesta viagem (Bill sempre se aproveitava disso para justificar "seus excessos" - que nunca eram pequenos). Quanto ao Geraldinho, ainda era uma incógnita (apenas Bill já tinha estado com ele rapidamente em outras circunstâncias), mas não devia apresentar problemas até por pescar regularmente, daí ser possuidor de "tralha apropriada" ! Os últimos detalhes foram acertados por telefone, e tudo estava pronto para a partida ! O voo para Belém (o "famigerado" RG 300 - que para em todo canto...) saía às 17:30 h, de modo que combinamos nos encontrar no aeroporto - cada qual providenciaria seu próprio transporte - por volta das 16:15 h ! Havia conseguido um contato matinal (repasse) com todos - inclusive Armando, que nos encontraria em Belém - seu voo, com apenas uma escala em Brasília, chegaria antes do nosso - no aeroporto ou no hotel (Vila Rica), e com animação típica daqueles que estão saindo da rotina em direção aos peixes, fechamos os últimos detalhes ainda pendentes (na verdade, REPASSAMOS tudo) ! Terminei indo para o aeroporto com Cecil que, através "Edinho", seu "faz tudo na fábrica", conseguira um transporte adequado - sua PARATI - para levarmos os dois isopores de 80 litros cada, além da bagagem de mão (não tínhamos o "tubo de Bill"). Conseguimos ser os primeiros a chegar (quase 16:30 h) e logo depois chegavam quase que simultaneamente os demais - Doctor na PAMPA do filho Henrique (isopor combinando com a sacola de mão - um "luxo"), Bill na caminhonete dirigida pela esposa Zélia (cheio de tubo e sacolas) e Geraldinho - soubemos quem era ao vermos o tubo, o isopor e UMA MALA ! É preciso um pequeno parêntesis, pois A MALA de Geraldinho era daquelas compradas na viagem de volta do exterior ! Uma "SANSONITE" que dava para esconder um corpo dentro - sem exagero ! E mais, estava cheia ! De que ??? Foi disso que precisávamos para "quebrar o gelo" ! Já no ritmo de viagem, apresentei-me (Bill sempre se esquece do "óbvio"!), assim como os demais integrantes do Grupo, e sem perder tempo, perguntei-lhe se ele estava consciente de que nossa viagem era para o Amazonas, e não para os Estados Unidos em função do tamanho da bagagem ! Isso foi o suficiente para descontrair e enturmá-lo no Grupo ! Daí em diante, A MALA foi o tema de toda e qualquer gozação ! O embarque se deu como esperado, e a aeronave AIRBUS já era minha "velha conhecida"! Como sempre, na ida tudo é festa ! O "sobe-desce" começou e nós conversando sobre nossas expectativas do que iríamos encontrar pela frente ! Foi assim até São Luiz (passando por Recife e Fortaleza), quando tomamos conhecimento de que um dos motores estava apresentando defeito e o voo iria atrasar (na verdade não tinha previsão de saída). Foi um "arraso geral", mas como ainda eram próximo das 22:00 h, havia tempo ! Mas esse tempo começou a passar e nada ! Cadê a peça, o tempo de conserto, e as alternativas começaram a ser estudadas, e cada vez mais ia ficando preocupado, pois não haveria como pegarmos o voo matinal para Santarém (não havia voo cedo pela manhã para Belém). Finalmente a tal peça chegou (veio de Recife) e uma hora depois já estávamos embarcando rumo à Belém ! Chegamos por lá em tono das 02:00 h (encontramos "seu Zé" - meu antigo motorista em Belém - à postos - cortesia do meu amigo Luiz Henrique que me substituíra no cargo), e foi o tempo de desembarcar as bagagens, colocá-las dentro da kombi, e seguir para o Hotel Vila Rica (propositadamente escolhido pela sua proximidade - 5 minutos distante do aeroporto), onde Armando estava à nossa espera (gripado com uma febre de 39°). Foi o tempo de assinar as fichas de entrada, ir para os quartos e desfrutar daqueles últimos instantes de uma cama antes de nos acostumarmos às redes ! Quando nos imaginamos no início do sono - o arcondicionado estava ótimo - já era hora de levantar ! Ainda fomos atrás de um café da manhã (rápido) antes do embarque às 06:30 h. Dessa feita as "articulações políticas" (Marcos Fonseca por trás) haviam sido feitas com antecedência, de modo que pudemos aguardar o embarque na sala VIP do aeroporto (meio sem aparente necessidade, pois o voo estava no horário, mas fundamental para pegar bons assentos na aeronave, vez que inexplicavelmente não se marcavam os lugares no voo - UM ABSURDO !). Com isso não deu para saber como estava nossa bagagem em termos de peso, mas embarcamos tudo que era possível, principalmente A MALA do Geraldinho ! O voo para Santarém é sempre cheio, mas nem por isso menos bonito ! A visão do rio Tapajós na chegada, visto de cima, refletindo em suas águas azuis o brilho do céu é - e será sempre - algo que arrepia quem tem o privilégio de ver ! Para o "Doctor", o "novato", tudo era festa ! Desde ali ele já demonstrava o espírito "mocorongo" essencial para participar do Grupo ! Sempre de ótimo humor, já começava também a arriscar suas primeiras gozações (assim como ser alvo delas também). Com "o ganho" de uma hora do fuso, eram ainda 07:30 h quando desembarcamos naquele solo e já fazia calor ! Retiradas as bagagens e acomodadas numa kombi alugada pelo Ricardo (o gerente da agência estava a nossa espera !) nos permitiu dividir o Grupo e pegar um táxi além do carro do gerente. No caminho até o REGIONAL - estávamos todos ansiosos para vê-lo - as "intermináveis desculpas" prestadas pelo Ricardo, alegando sua inexperiência embora tenha se esforçado para conseguir as solicitações, feitas, etc... Faz parte o agradecimento prévio ! Nossa estratégia desta feita seria a de darmos uma "pescadinha" no rio Tapajós antes de seguirmos para o rio Trombetas, motivo principal para nossa vinda pela manhã ! Imaginamos que iríamos navegar durante a noite (aliás esse fora o acertado com "nosso Aguinaldo" - o guia e responsável pelo REGIONAL), e que parte do dia seria dedicada a "saciar" nossa vontade de pegar logo uns "tucunas" ! É claro que - como de hábito - o REGIONAL não estava "inteiramente" pronto para sairmos ! Desta feita estava faltando um dos motores de popa ! A alegação era que o que havia sido acertado para nosso uso, "quebrara" durante a semana, e pela dificuldade em "garantir" o conserto, a opção escolhida era a de pegar um outro motor (aparentemente coerente o raciocínio, seria ótimo se fosse a "principal verdade" do nosso atraso). Além disso, as redes para dormirmos ainda não haviam chegado (foram lavar e "a moça" ainda não as havia trazido), e os "mantimentos" não havia sido totalmente comprados (passei a entender o porque de "tantas desculpas" quando da nossa chegada !). Que poderíamos fazer ? Aguardar - o que mais ? Mas nem tudo foi ruim, vez que a embarcação possuía um freezer para gelar as cervejas (e peixes) além de todos aqueles itens tradicionais desses barcos REGIONAIS ! O acesso ao nosso andar (2º) era através de um buraco no "deck" (pouco prático), mas serviria a finalidade de nos isolar da tripulação ! Não tinha contudo o chuveiro externo, o que para nós significou uma "perda" em termos de qualidade ! Em compensação, nosso Aguinaldo "faz tudo" demonstrou ser um bom cozinheiro, servindo-nos com frequência uma comidinha que não desapontava ! É claro que a "churrasqueira portátil" (a mesma das viagens anteriores) estava presente - já bem "baleada" e em fase de despedida ! O estoque de cerveja, refrigerante e água mineral estava de acordo com o encomendado, assim como os produtos direcionados à cozinha (haviam contudo sido "ampliados" por solicitação do próprio Aguinaldo). Conseguimos nos acomodar e "negociamos" nossa saída para pescar no rio Tapajós, em troca de um retorno posterior à Santarém, antes portanto da saída definitiva para o rio Trombetas ! Finalmente saímos ! Já eram quase 11:00 h quando nos colocamos na direção recomendada pelo Aguinaldo ! Segundo ele, o único local - por perto - que poderíamos encontrar algum peixinho "desavisado" seria na margem oposta, e quase em frente à Alter do Chão (umas duas horas de marcha). Naquele horário, o que teríamos a perder ? Fomos em frente pois em nome de uma "fominhagem" todo sacrifício seria válido ! Resumindo, colocamos os dois botes na água em torno das 13:30 h ! "Horário propício" para encontrar um tucuna ! Com o calor que estava fazendo, somente um corrico, e foi dessa forma que iniciamos a pescaria ! Um dos botes ia com os 3 APF's e no outro Bill+Doctor+Geraldinho ! Os piloteiros se equivaliam, não havendo maior destaque em qualquer um dos que estariam conosco durante toda a pescaria ! Apesar de sabermos da improbabilidade de alguma captura naquela hora, continuamos a insistir, e lá pelas 15:00 h, Cecil dava a partida embarcando o primeiro tucuna da pescaria ! Afastamo-nos do outro bote, de modo que não deu para ver os acontecimentos, mas apenas saber - posteriormente - que eles conseguiram embarcar 2 tucunas pequenos (Bill) e uma piranha média (Geraldinho). Logo depois de Cecil, também eu conseguia pegar o meu (quase 1 kg), ficando apenas apenas Armando no aguardo de sua oportunidade ! Caprichosamente tivemos mais uma batida, e justamente na isca do Armando (neste momento ele já havia trocado de isca umas 200 vezes...). Mesmo tendo sido o menor dos três, era tucuna de modo que retornamos - 16:00 h - ao REGIONAL, com a "sede inicial" saciada ! A bordo, no meio da alegria dos primeiros embarques, a informação de que "o capitão" - que não era o Aguinaldo - suspeitava de uma peça no motor de arranque, e para ter certeza, somente após "avaliação" em Santarém ! Voltamos a cidade no cair da tarde com um por do sol que é sempre um colírio, e "atracamos" junto a outras embarcações para a "avaliação do problema" ! Nessa hora foi um tal de "entra e sai" no REGIONAL que parecia até uma "junta médica" em torno do paciente ! A pedido do Aguinaldo, não deveríamos interferir, até porque ele havia feito previamente "inúmeras recomendações" para evitar esse tipo de problema, e "eles" que dessem o jeito ! Por outro lado, o tal 3º motor de popa havia aparecido, e dependíamos tão somente da decisão de sairmos na direção acertada ! Por volta das 21:00 h o problema ainda não estava resolvido, mas existia - nitidamente - uma certa má vontade por parte do dito "capitão" em sanar a situação. Pedi providências ao Aguinaldo, pois estávamos "perdendo tempo" e queríamos sair logo ! Foi aí que ele nos disse que o "capitão" estava "roendo a corda", colocando dificuldades para ir, etc... Disse-lhe então que ele providenciasse uma solução, pois o problema passara a ser dele (na verdade eram nosso), nem que para isso ele arranjasse outro barco ! Com essa nova hipótese, o próprio Aguinaldo "foi a luta" a procura de outra embarcação (no íntimo, cada um de nós via "desmoronar" nossas expectativas), e enquanto ele não voltava, nosso Geraldinho resolveu dar uma "verificada" no que estava acontecendo (ele era proprietário de um pequeno barco e gostava de mecânica). Nesse meio tempo chegou Aguinaldo já num outro REGIONAL (menor do que onde estávamos), pronto para iniciar uma "mudança" de embarcações ("um saco", pois o gelo já estava quebrado e guardado, o freezer entupido de bebida, além dos mantimentos na cozinha). Quando estávamos quase autorizando o início da mudança, nos apareceu Geraldinho com as mãos sujas de graxa, mas sorrindo e dizendo que havia consertado o motor do REGIONAL ! Checado com o "capitão", a confirmação de que o REGIONAL estava "viável" era verdadeira e que ele estava "disposto" a iniciar viagem (quase um "rolo", pois o outro REGIONAL já estava "semi-contratado", mas isso passou a ser problema do Aguinaldo). Na verdade, segundo apurado por Geraldinho, existia 30% de defeito e 70% de má vontade por questões financeiras (sanadas por uma promessa de "gratificação" por parte do próprio Geraldinho - era "do ramo", e nem sabíamos). FINALMENTE estávamos a caminho - e nisso já eram 01:30 h da matina ! O importante mesmo é que iríamos para o rio Trombetas ! Navegar contra a correnteza do rio Amazonas é sempre uma tarefa difícil, mas o "capitão" entendia do que fazia e sempre que possível buscava as laterais, próximo às margens, para direcionar o REGIONAL ! Volta e meia tinha uma "troca de margem" (sentíamos isso claramente pela força das águas batendo no casco do REGIONAL) e um balançar mais vigoroso trazia-nos à realidade vivenciada ! Amanheceu e nós continuávamos no mesmo ritmo, mas agora com possibilidade de admirar um pouco as pequenas vilas e vilarejos que surgiam pelo caminho ! Enquanto navegávamos, arrumar a tralha era uma distração naquele cenário de muita água ! O mais importante deles foi inegavelmente o "vilarejo" de Óbidos, onde o rio se estreita muito e se tem a nítida impressão de estar passando numa profunda vala cheia de água (soubemos que ali existem poços com mais de 120 m de profundidade). Algumas encostas (não são comuns na Amazônia). pedras, e o povoado bem ribeirinho, mas com bastante casas - praticamente todas de andares térreo - sempre humildes, mas pintadinhas com cores vivas, e com inúmeras embarcações de todos os tipos e tamanhos margeando seu cais, Um vilarejo bastante bucólico, com crianças (muitas) correndo pela praça / rua principal próxima ao cais ! Muita água já havia passado e ainda navegávamos no rio Solimões (que só vira Amazonas após se juntar ao Tapajós, em frente a cidade de Santarém), em busca da foz do rio Trombetas ! As águas do Solimões são escuras, com muita movimentação de húmus, não sendo portanto - salvo pela imponência - agradáveis de serem vistas ! Tivemos informações (via Agnaldo) de que iríamos pescar em águas ainda mais claras do que as do rio Tapajós ! Se nossa ansiedade já era grande, ficou ainda maior com essas revelações ! Ninguém aguentava mais rearrumar tralha ! Todas, e a de todos, já haviam sido minuciosamente examinadas por todos, principalmente as de Geraldinho, que começava revelar os "segredos" trazidos na sua MALA ! Além de um volume de iscas enorme - mas ainda inferior à quantidade levada por Bill - seu material era mesmo de 1ª qualidade ! Os molinetes e varas (diversos) eram equivalentes aos de Bill, e se dependesse disso, seria um forte candidato a ficar com o título do maior troféu da pescaria ! Existia - na verdade - uma pequena "competição" surda entre os dois (Bill e Geraldinho), mas sadia, sem maiores problemas, pois ambos se tornaram parceiros na maior parte do tempo ! O jeito foi tomar cerveja e "aguardar" ! Deu até para tirar um "cochilo" após o almoço "fabricado" pelo Agnaldo ! Começamos a perceber que nos aproximávamos da foz procurada ! As águas começavam a ficar - ainda que opacas - mais claras, assim como as margens também apresentavam mudanças, aparecendo - cada vez em maior volume - concentração de arvoredos mais densos junto as barrancas ! Ao ser indagado por Geraldinho - nosso interlocutor - o "capitão" anunciava a chegada ao rio Trombetas dentro de até 15 minutos ! Neste momento, mais uma "revelação" da MALA, e eis que me surge uma filmadora completa nas mãos do Geraldinho ! E como se tivéssemos cronometrado, logo após uma curva, deparamo-nos com a foz ! Nada de especial até aquele momento, salvo o fato das águas do rio Trombetas serem bem mais claras, mas ainda bem distantes da transparência e brilho vistos no rio Tapajós ! Como se nossos pensamentos estivesses escritos nas nossas "testas", Aguinaldo complementava a informação de que quanto mais fôssemos rio acima, mais clara a água se tornaria. Como num processo de "boas vindas", começaram aparecer os primeiros botos acompanhando a embarcação. E não eram apenas aqueles de tonalidade cinza (tucuxis - mais comuns), como também diversos "cor de rosa" (anunciados como raridades nas filmagens do mundialmente conhecido Jacques Cousteau), estiveram presentes nadando ao lado do REGIONAL por diversas vezes ! O que não sabíamos até então - e Aguinaldo tirou-nos dessa "escuridão" - é que boto só existe onde tem peixe ! Para que aumentar - ainda mais - a adrenalina existente ?? De estranho mesmo, umas marcações enormes nas margens do rio. Eram - seguramente - marcações para navegação (achamos exageradas - em termos de qualidade - para a região), fato que foi confirmado em seguida pelo "capitão", com o agravante de que eram usados pelas embarcações que desciam o rio com o minério retirado de Oriximiná ! Passei a desconfiar que não estávamos tão distantes da civilização quanto pretendíamos estar, e a certeza disso chegou logo em seguida ao avistarmos parte da cidade. A parte visível - que fica próxima à margem do rio - era muito maior que Óbitos, apresentando casas de dois andares e uma infinidade de antenas parabólicas reluzindo seu prateado contra o céu azul de anilina ! Somente nessa hora é que "descobrimos" que Oriximiná é a cidade satélite do "acampamento da mineradora" onde vivem (no conjunto de ambas) mais de 40 mil pessoas ! Pior ainda, tem aeroporto e para concluir essas "descobertas", POUSA JATO DE CARREIRA REGULAR DA CRUZEIRO ! E nós nessa dificuldade de chegar até lá... Fizemos uma "parada técnica" na cidade ! No fundo, os piloteiros foram "dar um giro" (possivelmente estabelecer encontros para a noite) e "buscar dicas" de onde estava dando peixe ! Pelo cenário que já se descortinava, na nossa opinião, o peixe estaria em todos os cantos ! Na frente da própria cidade, as águas já eram transparentes ! Víamos areia branca e enormes bolsões de água às margens do rio, como se lago fossem (viriam a ser em breve com a baixa das águas). O espetáculo do lugar já nos tinha anestesiado de todo o desconforto da viagem ! Estávamos sim, ansiosos para colocar os botes na água ! Finalmente os "piloteiros" capitaneados pelo "nosso Aguinaldo" retornaram ! Com eles, chegou também "Manuelzinho", pescador de grande renome da região, amigo do "nosso guia", que em troca de uma carona, iria nos mostrar onde estavam os grandes tucunas da região ! Ele subiu armado de uma "zagaia" (um tridente de ferro) que usava para "pescar" (ou seria "caçar") à noite quando arpoava os peixes (principalmente os pirarucus), ou seja, era um "nativo profissional". Mais um para competir à bordo ! Mas no meio de tanto "potencial", haveria de ter peixe para todos ! Diante daquele cenário, IMPUSEMOS aos piloteiros nossa necessidade de colocar os botes na água e dar uma "rodadinha", mesmo que fosse para "molhar as iscas" (terminamos pegando dois exemplares bem pequenos de tucunaré). Com os botes atrelados no REGIONAL fomos em frente, subindo o rio na direção da RESERVA (não sabia que existia uma por lá), onde além de água mais limpa, existia menos presença humana (além dessa "fantasia" nutrida na cabeça de alguns de pescar DENTRO da reserva - LÓGICO que não funcionou e ficamos "barrados" na entrada pela fiscalização). Nesse entardecer passamos por inúmeras lagoas, algumas das quais foram testadas - de forma infrutífera - mas sempre seguindo na direção da "nascente" ! Nesse fim de dia nosso "ranking" era devedor (e muito !), mas não estávamos decepcionados com isso, pois tínhamos certeza de seria IMPOSSÍVEL não encontrarmos os peixes nos locais por onde havíamos passado, ainda mais "com Manuelzinho à bordo" ! O jantar foi rápido, e o que mais demorou foi a conversa com o tal guia, que confirmou nossas expectativas de peixes grandes na região (chegou a mencionar tucunas de mais de 10 quilos). Ele próprio ia dar uma "saída" à noite e nos passaria os melhores pontos para visitarmos durante o dia, vez que à noite os hábitos do tucunaré são de ficarem imóveis - "dormindo" - junto as margens, motivo para serem "marcados" (quando não "arpoados") para o dia seguinte ! Fomos para o repouso noturno com o REGIONAL encostado numa margem do rio, num entroncamento de outros dois outros braços. Contrariamente à expectativa, pouquíssimos insetos à noite, que diminuíram ainda mais após as luzes do REGIONAL terem sido desligadas. Alguns disseram ter ouvido a chegada dos piloteiros - na madrugada - de Oriximiná, mas disso não lembro por ter apagado até o amanhecer ! Acordado pelo barulho dos pássaros voando por cima de nossas cabeças, ainda meio escuro, deu para acompanhar com bastante atenção a evolução do dia que se iniciava ! Uma espécie de névoa ainda estava localizada sobre o espelho da água como se num filme de terror, mas os raios de sol logo se encarregaram de "ir abrindo" brechas em diversos pontos do rio. O REGIONAL ainda semi-adormecido, e já flagrávamos Geraldinho dentro de um bote, mesmo amarrado ao REGIONAL, fazendo lançamentos diversos na direção das "brechas" abertas pelo sol ! Tanto ele fez que acabou tendo uma batida e embarcou um pequeno surubim (na isca artificial de fundo). Isso foi o suficiente para uma verdadeira "correria" a bordo do REGIONAL, e logo outras iscas eram lançadas do próprio "deck" onde nos encontrávamos ! É claro que nada mais foi pego (piranha não conta como peixe - e dessas chegaram a entrar umas duas), até porque não era para pegar mesmo ! De qualquer modo, já era uma bela animada de ânimo matinal ! O café da manhã foi engolido e os três botes já estavam seguindo na direção apontada por Manuelzinho (chegara tarde e ficou dormindo - não soubemos o resultado de suas "andanças noturnas" !), apesar dos protestos dos piloteiros quanto ao horário (pensávamos ser uma desculpa pelo possível - e provável - cansaço da noite anterior) de irmos atrás dos peixes ! Às 08:00 h já estávamos com as iscas dentro d'água ! Lembro-me que chegamos num local onde a descrição de "qualquer sonho" seria pequena diante da potencialidade de estrutura encontrada, com árvores caídas, parcialmente submersas, tocos e profundidade média em torno de 3 metros ! Águas limpas, transparentes, sem qualquer vento - um verdadeiro espelho ! Tratava-se de um lago ainda com ligação - bem pequena - com o braço do rio em que estávamos ! Mas muito grande, daqueles espaços que daria para rodar durante toda a manhã sem sequer retornarmos ao ponto de partida ! Que lugar fantástico era aquele ! Contudo a primeira batida somente aconteceu próximo às 10:00 h ! Já havíamos tentado inúmeras iscas, de superfície, de meia água, colheres, plugs, na maior parte do tempo corricando e o danado do peixe sem entrar ! O que estaria acontecendo ? A primeira ferrada (nem me lembro mais de quem foi só que foi embarcado no ato) era um belo exemplar (mais de 2 1/2 quilos). Foi pego numa Rapala tradicional (cinza com preto) e deu um belo espetáculo para ser embarcado ! Os dois outros botes que se mantinham próximos para juntos fazer uma verdadeira "dragagem" nos locais por onde passávamos, tomaram diferentes rumos, e a partir de então fomos "brindados" por algumas belas batidas (não muito frequentes), e sempre de peixes acima de dois quilos (pelo menos os embarcados). Sob a suspeita de que os "tucunas" não estariam - naquela hora - no lago e sim no rio, mudamos nossa estratégia e fomos para o rio, ou melhor, braço de rio, e por existirem diversos caminhos diferentes a serem seguidos, estabelecemos um horário para encontro no REGIONAL ! Fiquei com o Doctor, sendo nosso piloteiro o próprio Aguinaldo ! Começamos no corrico - até por ser mais fácil para o Doctor - nas principais entradas existentes nos braços do rio em que estávamos ! Essas entradas eram pequenas, mas davam para se ir até o final delas puxando um corrico, fazendo a volta e retornando em poucos minutos ! Essas entradas eram relativamente estreitas, ao ponto de que o corrico ao passar fazia com que um de nós tivesse sua respectiva isca bem próxima de uma das margens e o outro na margem oposta ! Nesses locais tivemos boas ações, com batidas vigorosas, assim como perda de inúmeras iscas (ainda mais pescando do o molinete travado, não tinha remédio). Os "plugs" de meia água e de fundo estavam propiciando a festa ! Doctor não só "desencantara", como já embarcara uns dois peixes com mais de 3 quilos ! Estávamos "entrando" naquilo que havíamos "sonhado", ainda que de corrico (deveríamos ter tentado lançamentos, mas a velha máxima de "se está dando certo, por que mudar ?" prevaleceu), e as batidas se sucedendo ! Nesse local é que as principais capturas acabaram acontecendo ! Lembro-me bem de que se tratava de um local onde o capim avançava sobre a água e as iscas ao passarem sob a sombra projetada eram violentamente atacadas. Numa dessas batidas, a impressão que tivemos era a existência de algum "toco" pela violência com que a linha se partiu ! Se era assim, por que não experimentar uma "Rapala Magnum" que tinha na caixa ? Parecia estar adivinhando pois ao passarmos pelo mesmo local, só que desta feita com mais cautela e atenção, a batida foi firme ! A diferença é que desta feita teve "troco" ! Não me lembro se cheguei a ter linha tirada do molinete (acho que não, pois os freios eram sempre fechados), mas a dificuldade em enrolar a linha era bem grande ! De repente o bruto veio a tona ! Era - seguramente - o maior tucuna que já tinha visto ! Devia ter uns seis quilos ! E a parte pior, só estava preso por um anzol da garateia, ou seja, prestes a escapar ! Para evitar o pior, peguei meu puçá espanhol (que era portátil, dobrável com uma redinha verde) e num pulo passei-o para Aguinaldo, nesta altura já metendo a mão na linha, e tomando as providências para embarcar o peixe ! Surpreendentemente o tucuna estava quieto junto a borda do bote (felizmente), o que deu tempo de "arrumar" o "tal puçá" para uso do Agnaldo ! Me pareceu pequeno, mas poderia ser impressão minha, afinal o material era próprio para aquilo, daí usá-lo ! Quando a rede passou na cabeça do tucuna e o Aguinaldo suspendeu o peixe fora d'água para embarcá-lo, deu para perceber - nitidamente - que dentro da "redinha" só estava a cabeça do peixe, com o corpo todo pressionando a resistência do puçá ! Em questão de segundos (até hoje revejo a cena em "slow motion"), vimos a tal redinha (espanhola) lascar e o peixe escorregar para dentro do rio com toda sua majestade junto ! A isca, que já havia soltado, ficou boiando e os três (no bote) ficaram com uma "cara de babaca". Depois de alguns poucos palavrões (inevitáveis naquela hora) chegamos a conclusão de que só nos restava ir atrás de outro ! Meia volta no bote, e voltamos ao mesmo ponto ! Desta feita a batida veio para o Doctor ! Assim como a que tivera, a dele não deve ter sido diferente ! A "diferença" entretanto foi só de comportamento, pois este tucuna pulava fora d'água seguidamente (foram uns quatro ou cinco saltos, alguns com todo o corpanzil fora d'água). Pelo menos deu para perceber que as garateias estavam bem presas (ambas) e com isso o temor de perdê-lo passou a ser menor ! Mas para quem já havia perdido um daquele tamanho antes, não iria querer perder o segundo ! As recomendações passadas ao Aguinaldo para que não pusesse a mão na linha foram insistentemente repetidas, e finalmente quando conseguimos trazer o peixe para perto do bote, numa posição onde pudesse ser embarcado (sem o puçá - até porque estava lascado) de mão (pelas guelras) pelo Aguinaldo. Ele "não aguentou mais" e se abraçou com o peixe puxando-o à bordo pela cabeça ! Foi uma emoção diferente, não só para o Doctor, mas também para mim, já que aquele exemplar era um verdadeiro "monstro" e estava embarcado ! Pesou seis quilos e se constituiu no troféu da pescaria ! Pegamos outros grandes, alguns até de cinco quilos, mas nada como aqueles que estavam numa "beiradinha" de capim ! Já era próximo de meio dia de modo que voltamos ao REGIONAL ! Na chegada soubemos que todos haviam encontrado peixes, não na fartura almejada, mas com boas capturas, e com uma unanimidade, eram peixes maiores que os que tínhamos costume de pegar ! O almoço foi comido às pressas, pois já queríamos voltar (desta feita TODOS os seis) ao "capinzinho" onde o troféu fora pego ! O sol estava no seu auge e à contragosto tivemos que esperar pelas 15:00 h (acabou sendo 14:30 h). Aproveitamos para trocar idéias com o tal "Manuelzinho" (o afamado "guia") a respeito de não estarmos encontrando os peixes nas lagoas, e as explicações dadas não convenceram a nenhum de nós (em termos de lógica). Tememos que parte do problema foi estarmos usando iscas de profundidade inadequada, pois insistíamos nas de superfície e meia água corricando. Poderia ser que os peixes - por algum motivo desconhecido - estivessem comendo no fundo naquela época (sei lá !). Ele (Manuelzinho) nos disse que a pescaria dele na noite da véspera também não tinha sido boa ! Não vira nenhum pirarucu, e o pior, os tucunas encontrados além de poucos, eram pequenos (ele arpoou uns oito, todos abaixo de 1 1/2 quilos). Parecia que ainda precisaríamos "descobrir" as iscas ! Mas a impaciência foi maior, e partimos na direção dos "bichos" (os MEGAS, na boca do Armando) ! Pescaria tem disso, pois naquele mesmo local não conseguimos ter mais qualquer batida ! E desta feita investimos tempo e material, pois tentamos inúmeras opções (inclusive lançamentos - com iscas de fundo). Bill (com Geraldinho) chegaram a encostar o bote na margem para percorrê-la a pé na sua totalidade, fazendo arremessos variados (acabou que pegaram um com menos de um quilo). Refizemos as duplas e passei a pescar com Cecil, ficando o Doctor com o Armando. Saímos juntos mas logo nos separamos pois havíamos decidido bater em locais diferentes ! Nossa opção nos levou a entrada de outro lago, desta feita com uma densidade de árvores caídas muito maior, e com a navegabilidade muito mais arriscada (já não estava mais com o Aguinaldo). Já eram quase 16:30 h quando "adentramos" o tal lago ! Foi preciso algum conhecimento para encontrar a entrada (e isso nossos piloteiros possuíam, com certeza), pois existia um grande emaranhado de tocos e árvores submersas no caminho, que nos obrigava constantemente buscar passagens estreitas por entre os troncos (alguns deles muito grandes). Como a "fominhagem" era uma marca registrada do Grupo, as iscas estavam quase sempre dentro d'água ! Num desses locais tive a impressão de uma batida, mas pela violência, deveria ter sido um toco submerso, e fomos em frente (não sem antes marcar o lugar), até porque teríamos que retornar por ali mesmo na direção do REGIONAL. Chegamos a um local absolutamente deslumbrante ! Escolhemos o lado sem vento (próximo à margem protegida) para procurar pelos tucunas ! Nesses locais em que passávamos, eventualmente tínhamos uma batida, mas tivemos a convicção de que o problema éramos nós ! Deveríamos estar usando alguma coisa inadequada, já que era IMPOSSÍVEL deixar de ter peixe num lugar como aquele ! Tivemos que nos contentar com umas duas piranhas pretas (elas eram imensas - com mais de dois quilos cada) e uns três ou quatro tucunas com menos de dois quilos ! Mas o visual contudo... (insisto em falar do visual pois para mim é um dos itens mais importantes - talvez igual a pegar peixe - da própria pescaria). Por volta das 17:00 h, talvez um pouquinho mais, resolvemos voltar e por motivos óbvios fizemos o caminho ao contrário. Quando chegamos próximos das redondezas onde pensei ter havido uma batida, fomos alertados pelo piloteiro de que o local era por ali ! Quase que no mesmo momento bateram nas duas varas ! Ambos tucunas (próximos aos dois quilos cada) foram rapidamente embarcados e pelo fato, pedimos para "repassar" o local ! Novamente duas batidas simultâneas ! Fizemos isso por umas 3 vezes, sempre com o mesmo índice de sucesso ! Parecia brincadeira, mas num determinado local - como se fosse uma passagem - entre dois troncos semi submersos, os tucunas estavam insaciáveis ! É claro que os "plugs" (RAPALAS - das grandes) foram sendo perdidos (às vezes pareciam ser verdadeiros "tocos"), e rapidamente mudados, mas a ação durou quase 15 minutos, escasseando depois disso (e já sem sol no céu) comprovando o "famoso horário" do por do sol ! Chegamos a uns 15 exemplares, alguns deles "bem criados" com 3 1//2 quilos, quase sempre "pacas" (todo pintadinho) e bastante violentos na briga após ferrados ! Voltamos certos de ter encontrado um belo "point" para a despedida no dia seguinte ! Na chegada, a constatação de que finalmente encontráramos os peixes ! Alguns mais que outros, mas todos - sem exceção - satisfeitos com a produção da tarde ! Os planos à bordo eram sobre o que faríamos no dia seguinte ! Um parte do Grupo iria "tentar convencer" a fiscalização da RESERVA (estávamos praticamente dentro dela) de que pela nossa procedência quem sabe eles não permitiriam darmos uns poucos lançamentos em "águas proibidas" ? Dentro dessa "crendice", foram escalados para ir a fiscalização o Doctor e Geraldinho, até porque Cecil ficara com Bill e eu com o Armando ! É óbvio que os quatro últimos "correndo atrás de peixe", mas próximo ao local de passagem para a RESERVA (de repente saía a autorização, e não iríamos querer perder a "boquinha" !). Eles acabaram mesmo foi aproveitando o local para um bom banho de rio ! Mas o tempo foi passando e nada deles voltarem, e fomos nos afastando um do outro, rodando as baías próximas onde o REGIONAL estava ! O dia estava com o céu muito azul e sem nuvens, o que consequentemente se traduzia em MUITO CALOR ! A busca pelas "batidas" foi-nos distanciando uns dos outros até que perdêssemos totalmente o contato visual (nessa hora - quase 10:00 h - já supúnhamos da NEGATIVA - óbvia - da fiscalização da RESERVA), e como se combinado fosse, um dos botes quebrou o motor ! Exatamente no que estávamos eu e o Armando (com o tal "Manuelzinho" de guia). Negócio fantástico, pois era nosso último dia de pescaria e estávamos ali, literalmente PARADOS no meio de uma enorme quantidade de pequenas baias, sem qualquer movimentação de figuras humanas para mandar um recado de socorro para o REGIONAL ! O sentimento não era de "receio", pois cedo ou tarde seríamos procurados, mas de RAIVA pelo desperdício do tempo disponível ! Com o "projeto de remo" existente a bordo, "nosso Manuelzinho" fez um esforço de uns dez minutos de remo para colocar o bote numa posição que ficasse NA PASSAGEM (só se fosse de "peixe", mas nem isso era !), encalhando o bote numa praia de areias alvas. Nada a fazer além de procurar um abrigo debaixo de alguns arbustos em função do calor, ou tentar pescar da margem - o que poderíamos encontrar em águas tão cristalinas ? Desnecessário dizer quem foi para debaixo dos arbustos e quem foi atrás dos peixes ! Como previsto, foi uma trabalheira inútil - em termos de peixes - mas ótimo para ver o trabalho das iscas (remanescentes) naquelas águas absolutamente transparentes ! Para não dizer que o trabalho foi totalmente improdutivo, consegui pegar uma traíra (menos de um quilo), mas em compensação num dos enroscos havidos - mais um - consegui quebrar a vara que estava usando (uma telescópica de 3 metros). Não precisava de mais nada para "amainar" o humor daquela manhã ! Finalmente passou alguém "perdido" e se prontificou a levar um recado ao REGIONAL, e com isso fomos resgatados (mas eram quase 13:30 h, quando nosso bote foi rebocado). Encontramos Aguinaldo ainda com "promessas" (com base nas informações do Manuelzinho) de que num "lago próximo" (uma hora de motor do REGIONAL) existia um local "imperdível" ! Para quem passara a manhã parado em companhia do "Manuelzinho", tudo que queria era DISTANCIA do "afamado" (não me lembro de "dica" nenhuma que tenha dado certo - não preciso acrescentar que já não estava acreditando no tal "guia", afinal tudo tem um limite). Encontrei parceiros (Armando e Bill) dispostos a NÃO IR nesse local "imperdível", e em função disso esquematizamos uma alternativa de retornarmos àquele local mágico da véspera, exatamente no mesmo horário, ou seja, no por do sol ! Ficou então acertado que um dos botes iria para o local da véspera, enquanto que o outro seguiria com o REGIONAL ainda mais rio acima, na direção do "tal lugar" ! Só não ficou MUITO CLARO contudo como é que nos encontraríamos posteriormente ! Mas isso não nos preocupou na hora, pois os piloteiros conheciam os lugares onde estaríamos pescando (de ambos os botes) e era o ÚLTIMO DIA ! Antes porém, u,m mergulho para tirar a "nhaca" e refrescar o corpo daquele calor escaldante ! Mas é claro que foi por pouco tempo ! Foi o tempo de comer uns sanduíches, reorganizar a tralha, descansar um pouquinho, e "liberar" o REGIONAL, até porque nessa altura já estávamos controlando a gasolina, embora tivéssemos nos "beneficiado" com a quebra (definitiva) do 3º motor ! Separamo-nos por volta das 15:30 h e nos dirigimos para o mesmo local de antes ! Até às 17:00 h havíamos conseguido embarcar uns seis ou sete tucunas (sempre na faixa dos 2 1/2 quilos) e mesmo assim após muito trocar as iscas ! Com o começo do por do sol, a "mágica" se reiniciou ! As batidas se tornaram constantes ! Estávamos desta feita pescando em três, e as ações se repetiam, com uma predileção especial pela cor verde (apenas para registro), e depois para as tradicionais douradas e cinzas ! As de maior efeito eram as RAPALAS MAGNUM (entendemos posteriormente que pelo peso, trabalhavam mais a meia água), que foram muito exigidas e funcionaram bem até que foram perdidas (todas as que tínhamos). Mas foi uma verdadeira festa ! Estávamos usando linhas relativamente grossas (em torno de 25/30 lb), mas as corridas dos peixes eram tão violentas que por várias vezes sentíamos a fisgada e a linha se partindo pelo esforço da corrida inicial dos tucunas ! Acredito que se os freios estivessem mais soltos poderíamos ter tido menos perdas, mas ainda estávamos iniciando nosso aprendizado então ! Tenho a impressão que alguns exemplares de mais de 5 quilos andaram pegando nossas iscas, mas de fato nenhum do porte daqueles pegos no início da pescaria ! Nem por isso deixamos de ter emoção ! Um tucuna paca de uns quatro quilos é peixe para ninguém botar defeito, e desses embarcamos vários ! Como no dia anterior, a "magia" durou 30 minutos, e depois do sol se por - mesmo com bastante claridade - deixamos de ter ação ! Nem por isso deixamos de ficar cansados, pois foram 30' de ADRENALINA ! Um dos motivos do desejo de retorno do piloteiro era um grupo compacto de nuvens visto no horizonte (aparentemente distante), na direção onde estaria o REGIONAL com o pessoal ! Atendendo aos seus apelos, até por conta do "trauma matinal", resolvemos suspender a pescaria (devíamos ter embarcado mais de 30 peixes no total) e ir atrás do REGIONAL. Haviam duas teses, sendo a que defendia era aquela em que o encontro seria num determinado ponto próximo de onde já estávamos, enquanto que a outra era que deveríamos ir na direção do REGIONAL - não fazia sentido IR para VOLTAR, pois estávamos na passagem ! Não houve muita discordância, pois o REGIONAL já deveria estar vindo na nossa direção e certamente nos encontraríamos no "meio do caminho" ! Dessa forma fomos na direção indicada que era, coincidentemente, a das nuvens, que insisto estavam "próximas do horizonte", mas já ocupavam um enorme espaço no céu... Após nos livrarmos dos tocos e passagens que nos levaram aquele local próximo ao "sonho de qualquer pescador", encontramo-nos com um dos braços do rio Trombetas, e com o MOTOR ABERTO, disparamos na direção desejada pelo piloteiro (aparentemente é o que mais gostam de fazer, navegar em disparada...). Ainda com claridade, "adentramos" num enorme lago, daqueles em que uma das margens fica "pequena" pela distância, e ainda com o motor a toda, começamos a enfrentar um "ventinho" que assoprava na direção inversa a que nos dirigíamos. No princípio não prestamos sequer atenção, mas surpreendeu-nos a rapidez com que aquela massa de nuvens, antes no horizonte, se deslocava na nossa direção ! O motor deu uma "'pifada" (nada que preocupasse o piloteiro) e nesse momento de silêncio e solidão do lago, pudemos ouvir os primeiros trovões que se avizinhavam (os relâmpagos já acompanhávamos). Hora de fazermos uma avaliação da situação ! Nenhum sinal do REGIONAL que procurávamos (não esquecer que estávamos num lago de enorme visibilidade), e sem chance de encontrar um abrigo para passarmos a chuva (as margens do lago eram planas - de algo próximo à areias - sem qualquer tipo de árvore que pudéssemos aproveitar). Decidimos voltar ao ponto de partida, até porque no local onde havíamos saído nesse braço do rio, existia uma casa de ribeirinho que poderia nos servir de abrigo ! Assim sendo, e FUGINDO da chuva cada vez mais próxima, iniciamos nosso retorno em busca daquele ponto de abrigo ! O problema era que as nuvens se deslocavam mais rapidamente que nós, e a preocupação maior era a de que poderíamos servir de "para raios" num lago daqueles ! Conseguimos entrar no braço do rio antes da claridade se dissipar, mas a escuridão já começava se mostrar presente, intercalando os lampejos dos clarões dos raios com a percepção das margens (isso tudo sem chover) ! Finalmente avistamos o ponto desejado para prendermos o bote ! Ficava distante do local onde estávamos cerca de 500 metros, mas se tornaram difíceis de serem completados, pela chuva que começou a cair ! Era daquelas que não dava para ver nada em volta (coisa de filme). Mas por estarmos perto, não demorou a encostarmos num pequeno barco regional propositadamente encalhado, onde amarramos o bote com dificuldade (pura lama que dificultava até andarmos !). Passamos para dentro do barquinho regional (teoricamente teria uma cobertura), onde estaríamos mais abrigados, mas a impressão que tivemos foi de que chovia mais dentro do barco do que fora ! Pelo menos estávamos mais protegidos do vento ali do que no nosso bote ! Mas era chuva ! A casa que havíamos visto ficava logo acima do ponto onde encontramos o barquinho regional preso, mas o acesso de terra (lama) tornou a chegada "inacessível" ! Resolvemos esperar a chegada do nosso REGIONAL ! Nesses momentos o tempo parece ser maior que a realidade, e tudo isso aconteceu antes das 18:30 h ! Foi fácil guardar isso, pois foi nesse horário, no meio da chuva - forte e intermitente, assim como os relâmpagos e trovões - que enxergamos um faixo de luz vasculhando as margens, certamente à nossa procura ! Para evitar "desencontros", decidimos ir na direção da luz que cortava o breu, mas ao chegarmos ao bote encontramos tanta água dentro dele que foi necessário um "mutirão" para colocá-lo em condições de funcionamento (passamos a entender o porque do barquinho regional estar "encalhado"). Quando terminamos, o nosso REGIONAL já nos havia localizado com a luz, o que FACILITOU nossa ida ao encontro dos demais companheiros - certamente preocupados com nossa segurança ! Como previsto, o sempre consciente (embora NOVATO) Doctor estava agoniado com a situação ! Depois de içados a bordo, já tendo tomado umas duas para esquentar o corpo do frio que estávamos sentindo e com roupas secas é que pudemos relaxar (todos) da aventura vivenciada ! Para minimizar a situação (não houve qualquer imprudência - salvo a de termos ficado separados), fomos apurar o resultado de nosso último dia naquelas paragens, e COM ALEGRIA verificamos que também o outro grupo havia tido sucesso na sua empreitada ! As descrições evidenciaram uma praia onde puderam ser feitos arremessos e onde existiam diversos tipos de peixe (assim como de tamanhos) a serem trabalhados ! Geraldinho, pela experiência, pegou inúmeros, enquanto Cecil disse ter aproveitado bastante se lamentando contudo pela perda de um belo exemplar (seguramente de mais de 5 quilos - segundo ele) no final da tarde. O próprio Doctor chegou a pegar alguns exemplares nos arremessos, o que não deixou de ser um bom aprendizado ! Mais uma vez estaríamos retornando com os isopores cheios ! Era hora de iniciarmos a VIAGEM DE VOLTA ! Passamos pela cidade de Oriximiná por volta das 22:00 h, onde foi feita uma parada (a última) para deixar "Manuelzinho" e pegar alguma "carga" para levar "de carona" para Santarém. Ficamos parados cerca de meia hora, mas acertados que iríamos viajar durante a noite, até para evitar algum contratempo "adicional". Finalmente o "DÉBORA" (era assim que se chamava nosso REGIONAL) se colocou em marcha pelo rio Trombetas ! Antes que me esqueça, o TEMPORAL já havia acabado há tempos (deve ter durado - no seu total - umas três horas) e navegávamos sob um belíssimo céu estrelado ! Estávamos num ritmo mais veloz que a vinda, afinal a favor correnteza, e ao passamos por Óbidos - cedo pela manhã - tivemos certeza de que chegaríamos com tempo de sobra em Santarém ! Durante a manhã aproveitamos para arrumar as "tralhas" (ou o que sobrou dela), conversar as últimas impressões e aproveitar o "passeio de barco" pelo rio Solimões, desta feita bem mais relaxados e sem as expectativas e ansiedades da ida ! Como previsto, visualizamos Santarém antes do meio dia, e como o horário estava "folgado" (pela primeira vez), solicitamos - e fomos atendidos - uma parada próximo à Alter do Chão, onde pudemos tomar um banho de rio no Tapajós, com suas águas transparentes sempre convidativas ! Paramos por volta das 13:30 h e sob "um sol amazônico", pudemos desfrutar de um refrescante banho, acompanhado por um descanso - com cerveja e tira gosto (os últimos) de quase uma hora ! O saldo final havia sido positivo e algumas "lições" foram incorporadas ao nosso conhecimento a fim de que não se repetissem no futuro ! Mais uma vez se evidenciou a necessidade de utilizar "gente do ramo" como de fundamental importância para o sucesso da empreitada ! Por maior que seja a "boa vontade" (e ela está sempre presente) dos piloteiros, comandante do barco, tripulação, o risco de NÃO FUNCIONAR é permanente ! Precisamos - dentro da realidade de cada um, principalmente a financeira - buscar uma nova alternativa, onde possamos usufruir SEM SOBRESSALTOS, de todo o tempo investido nesse período dedicado ao convívio e pesca ! Nesses momentos de tranquilidade, aproveitamos para tirar algumas fotos, dividir os peixes - sempre na "sadia bagunça" de ver quem levaria as "diversidades" para casa (entenda-se como "diversidade" as diversas qualidades de espécies encontradas), além de - é claro - os magníficos troféus capturados ! Os tucunas dessa feita estavam tão "graúdos" (na média) que não deu nenhuma "discussão" à respeito do assunto ! Todo mundo voltou mais que "bem aquinhoado" e com seus respectivos isopores cheios ! Tenho a impressão que foi a mais "produtiva" pescaria (em termos de tucuna) que fizemos pelo norte até então ! Não apenas em quantidade, mas principalmente nos tamanhos capturados ! O registro de maior peixe capturado pertenceu ao Doctor (sem chance de questionamento), com seu tucunão de seis quilos, mas o segundo lugar foi muito embolado ! Acredito que todos os demais pescadores conseguiram seus exemplares acima dos cinco quilos ! O importante contudo é que estávamos muito satisfeitos com o resultado final alcançado ! Mas já era hora de retornarmos "a civilização", e contrariados tivemos que nos despedir daquelas águas límpidas e belas, trocando nossas bermudas por calças compridas (apenas para exemplificar a "perda de liberdade"), e pacientemente aguardando o retorno ao cais de desembarque. Essa operação levou cerca de uma hora, de modo que chegamos à Santarém dentro do horário previsto e planejado para o embarque com destino à Belém ! No fechamento das contas, alguns pequenos problemas surgiram, quase sempre ligados ao montante pactuado, e o que estava (ou não) incluso, dentro das despesas efetivadas. A cota de combustível acertada fora "insuficiente", e outros "detalhes" desse tipo, típicos de um "aproveitamento" de última hora (sempre utilizando como pressão, o horário de embarque). Felizmente Ricardo, o gerente do Banco, estava presente e ficou encarregado de verificar os pleitos e me passar um "fax / telex" no dia seguinte para Salvador, historiando mo assunto ! Não tivemos dúvidas de que se tratava de uma "artimanha" para um "faturamento adicional", e talvez por causa disso é que nossos comentários de buscar uma estrutura mais profissional para a próxima viagem tomaram ainda mais força ! Finalmente nos despedimos de todos (com a falsa promessa" de retorno no próximo ano, para uma pesca no rio Juruena, onde segundo Aguinaldo, tucunas abaixo de 5 quilos eram devolvidos para não ocupar espaço dos maiores !) O voo para Belém estava cheio - como de hábito - mas conseguimos pagar POUCO EXCESSO nesse trecho ! A expectativa contudo seria o embarque do dia seguinte ! No aeroporto, à nossa espera, encontravam-se Marcos Fonseca, Luiz Henrique e nosso tradicional "seu Zé". Estávamos bem dispostos mas nem por isso menos cansados que das vezes anteriores, de modo que TODOS estavam mesmo a fim de uma CAMA e um AR CONDICIONADO ! Fomos para o já conhecido HOTEL VILA RICA, onde pudemos - graças ao relacionamento comercial do proprietário com o Banco - colocar nossos peixes na câmara frigorífica até a madrugada seguinte. Apesar do esforço de Luiz Henrique que queria nos recepcionar de alguma forma, jantamos no próprio hotel e nos recolhemos relativamente cedo (o cansaço de todos era evidente). Saímos cedo - às pressas, pois todos estavam profundamente adormecidos no horário combinado - para pegar o "tradicional RG 301" - exceto Armando que estava indo para BH, cujo voo sairia um pouco mais tarde - e na chegada ao aeroporto, a tradicional visão de uma interminável fila de embarque, nos deu a certeza de que o voo estaria cheio (nada de novo). Com isso, a dificuldade de embarque - sem pagamento de excesso - foi evidente ! Tivemos que recorrer a ter bagagens de mão e diminuir a quantidade de tralha embarcada, o que motivou Cecil pegar uma "carona" no tubo plástico de Geraldinho (fato que fez com que acabasse se despedindo dessas varas), pois "nosso parceiro" SUMIU depois disso - refiro-me chegando em Salvador, Depois de muito dialogar e pressionar, conseguimos uma pequena redução (pouco expressiva naquela altura) e sem outra alternativa pagamos essa diferença (rachada entre os viajantes de Salvador) e fomos para o embarque, onde sequer tiramos qualquer proveito da sala VIP, pois além do voo estar no horário, os passageiros já tinham sido chamados... Complicado encontrar locais próximos uns dos outros, pois a "balbúrdia" já estava estabelecida... Uma lástima não implementarem os lugares marcados junto do "check in" ! Na chegada em Salvador estávamos - como era previsto - exaustos, mas nem por isso menos felizes e confiantes de que a próxima pescaria seria AINDA MELHOR !
  2. Para os que estão acessando esse tópico, é importante que saibam ser esta a nossa 3ª pescaria como Grupo Mocorongos ! As anteriores já foram postadas, e continuo nesse processo por mais algumas, até como forma de registrar esse passado em meio magnético (ele está impresso em papel). Não deixem de levar em consideração que mais do que um "relato", esses registros são fruto de um propósito mais modesto que foi o de lembrar aos que dela participaram, o quanto de pitoresco e engraçado enfrentamos juntos... Espero que - como nós integrantes - vocês possam aproveitar essas lembranças. Data Base : Outubro 1991 - Rio Curuá-Una - Turma nº 3 - Mocorongos Caros Companheiros, Grupo formado por mim, Armando, Bill Queen, Marcos Fonseca, Marco Antônio (Itaú) e Alex (Itaú) Desta feita os tempos eram outros e apesar de não mais estar com minha base no Norte (já havia retornado à Salvador), não havia perdido os contatos na região, de modo que a estruturação do Grupo (em termos de providências locais) ficou a cargo de Marcos Fonseca - ainda Assessor da Diretoria (trabalhando agora com Luiz Henrique Barreto, que me substituiu), que terminou se juntando ao Grupo - coisa que sempre quis, mas não fora possível... Na composição desse Grupo, a ausência de Cecil (em viagem pela Europa), mas com a presença de Bill (com um mundo de tralhas), e de dois companheiros do Banco Itaú - Marco Antonio e Alex, ambos da área de RH (como estava atuando desde meu retorno à Matriz / BA). O sexto integrante ficou sendo Marcos Fonseca, que também era chegado a uma pescaria (e já estava próximo do local) ! Convencer a Luiz Henrique de liberá-lo pelo fim de semana não se constituiu qualquer problema, até porque o próprio Luiz quase que embarcava conosco (também é chegado a "pegar um peixinho"), além do tempo de ausência não ser tão grande assim ! Em função do "dissídio coletivo" da categoria bancária (área em que "militava" conjuntamente ao Marco Antônio), a pescaria não poderia ser no início de Setembro como no ano anterior, de modo que tivemos que programá-la para OUT, quando o processo do acordo coletivo já estaria resolvido. Não deixamos de ter um pequeno susto com o atraso das negociações, mas felizmente e finalmente as partes chegaram a um acordo e pudemos nos liberar dos afazeres de rotina e nos concentrar nos últimos preparativos para a ida (o retorno) ao "nosso Curuá-Una" ! Nas minhas andanças por SP, que não foram poucas antes da celebração do acordo coletivo, acompanhado por Bill, que também era um interessado, andei passando por inúmeras "casas de pesca", onde pude "incorporar" um número expressivo de iscas ao meu material (cheguei a comprar uma caixa nova de pesca - naturalmente a maior disponível, apesar de não ser importada), até pela experiência tida no ano anterior ! Desta feita no meu "arsenal", não estava APENAS com as colheres (claro que também tinha), mas um bom número de opções que se mostraram muito eficazes na prática ! As RAPALAS, pelos preços cobrados, eram um "luxo" que me permiti ter em três ou quatro exemplares (mesmo assim por "extravagância"). Consegui agrupar alguns modelos similares nacionais por preços bem mais em conta (a diferença de preço se refletiu também num índice menor de capturas) ! Conversar com Bill (residente em SP) sobre equipamento de pesca é um verdadeiro "martírio", pois além do seu profundo conhecimento (teórico) do tema, o volume de iscas que ele já possui era mais que um "exemplificador / balizador", e a tentação de "gastar" após essas conversas era muito grande (não apenas para mim, mas principalmente nele, que invariavelmente ia "às compras" e trazia mais alguns exemplares). De qualquer modo ainda não me havia "viciado" (como ele) na fartura de opções, me limitando a COMPLEMENTAR o meu material existente ! Mesmo assim foi um considerável "material agregado" à já não pequena bagagem ! Em contra-partida, Armando, que já estava pescando em Minas - onde estava morando - tinha comprado o início de sua tralha (também com base nas experiências do ano anterior), que se constituía fundamentalmente num equipamento padrão (também tinha levado um de reserva), além de inúmeras iscas e colheres ! Os dois "novos integrantes" do Itaú nos eram uma incógnita, mas como eram "afamados" na pesca de Dourados, Pintados e "assemelhados" no rio Paraná, haviam sido informados do que havíamos usado - como equipamento básico - no ano anterior, de modo que eles haveriam de se preparar adequadamente (seria a primeira vez que iriam tentar o Norte). Por fim, no caso de Marcos Fonseca, mais uma vez tivemos que "apelar" para Bill, que não criou nenhum problema (acho até que foi bom para ele justificar o exagero de suas opções). Com a situação dos que iam sob controle, importante era estabelecer o contato com "o REGIONAL" e os "botes" (com respectivos motores) que nos levariam ao "nosso rio Curuá-Una". Apesar da tenttiva não foi possível pegarmos os mesmos REGIONAL e botes do ano anterior, mas as informações recebidas do Gerente da Agência de Santarém (estrategicamente coordenado pelo Marcos) nos davam conta de que o REGIONAL arranjado era até "melhor" que o anterior, embora não possuísse os botes com motor, o que também não seria problema ou que nos preocupássemos com isso, pois ele já havia conseguido os botes (3) com os respectivos piloteiros (que também conheciam a região), através de outra pessoa ("Janguito") que seria o responsável pelos botes e iria conosco e que terminou nos ajudando a encontrar os peixes... Mas estruturar uma pescaria dessas à distância não deixava de ser preocupante ! Felizmente a ação presente do próprio Marcos (que chegou ir à Santarém antes, ver os "preparativos") nos permitiu ter poucos problemas ao longo dos dias que se seguiram ! Os preparativos foram se concluindo, as últimas providências sendo tomadas, os vôos sendo confirmados, de modo que TUDO ESTAVA SOB CONTROLE ! Como estratégia, marquei minha saída de São Paulo pois apenas eu era oriundo de Salvador ! Após uma reunião matinal de trabalho em São Paulo, fiquei "liberado" para pegar o voo para Belém (RG 250). Na saída para o "aeroporto", e após passar na casa do Bill para pegar suas "tralhas" (previamente empacotadas - tubos, sacolas, caixas, etc...), ainda deu tempo de uma parada na "Wessel" para levar umas "picanhas" (além de outros "tico-ticos") para fazermos na churrasqueirinha do REGIONAL (no caso, a mesma aproveitada do ano anterior que ficara devidamente "armazenada" na Agência...). Parecíamos estar indo para uma "aventura" - a julgar pela bagagem - ao chegarmos ao aeroporto (dentro do horário estabelecido com os dois outros companheiros de viagem). Chegamos primeiro e quando estávamos acomodando as "tralhas" nos carrinhos, eles chegaram numa cabine dupla (de Marco Antonio) cheia de tubos e correlatos ! Parecíamos até que éramos pescadores ! Teve gente com essa impressão no aeroporto (acho até que visualizei - entre os presentes - alguns olhares de "inveja" ! Se a situação fosse inversa, com certeza os olhares iriam existir). Feitas as apresentações (eu não conhecia o Alex e Bill a ambos), já nos descontraímos na conversa inicial dos equipamentos que estavam sendo levados e temas dessa natureza ! Não havia como esconder a grande excitação que tomava conta de cada um de nós naqueles instantes ! Fomos ao embarque e as "tralhas" quase pagaram excesso - na opinião do Bill, deve ter sido a parada na "Wessel" ! O voo foi absolutamente tranquilo, com apenas uma escala no Rio e a chegada em Belém se deu por volta das 23 h ! Armando já estava a nossa espera - o voo dele chegara mais cedo e já havia ido ao hotel para se "recuperar" da viagem ! Marcos também estava no aeroporto para das as "boas vindas" e nos confirmar que tudo estava pronto para o dia seguinte ! Fomos para o Hotel Vila Rica (pela proximidade do aeroporto - sairíamos para Santarém cedo no dia seguinte), onde pernoitamos sem maiores problemas (véspera de viagem é sempre problemático dormir...). Cedinho já estávamos nos movimentando atrás de café e de transporte para o aeroporto (não me lembro com certeza, embora acredite que tenha sido providenciado por Marcos, com a Kombi do Banco), já que o voo sairia cedo - por volta das 07:00 h ! Ninguém deixou de perceber que a noite não havia sido bem dormida, mas também ninguém estava preocupado com isso ! Fomos para o aeroporto onde pela primeira vez os seis juntos pudemos embarcar no voo - sempre lotado - para Santarém. O dia amanhecia quando seguimos para a aeronave, e felizmente - graças as providências de Marcos - pela prioridade de embarque VIP, conseguimos lugares próximos um dos outros ! Finalmente o avião LOTOU, e antes que alguém fosse em pé no corredor, foi dada ordem de partida e decolamos rumo aos tucunas ! A chegada em Santarém foi - como sempre - emocionante, com toda aquela água azul piscina em volta da cidade, e o sol num céu ainda mais azul, cujo calor não causaria inveja a qualquer nordestino ! No aeroporto, um "séquito" nos esperava ! As recomendações para que nada desse errado foram fielmente levadas ao pé da letra, de modo que tudo estava sob controle para "zarparmos" ! No cais uma primeira verificação que nos causou uma certa preocupação ! O volume de água existente no rio fez com que o embarque no REGIONAL se desse através de uma caminhada pela areia da margem, quando no ano anterior estivera coberto de água ! Mau presságio ! Já sabíamos que as condições não eram as ideais, mas nunca poderíamos imaginar que o nível das águas estivesse naquela situação ! Nesse momento, tanto eu quanto Armando tivemos a certeza de que desta feita não iríamos rever "nosso igarapé" ! Mas passadas as primeira impressões, fomos todos a bordo, até como forma de "acelerar" a partida ! O REGIONAL era de fato maior que o utilizado no ano anterior, mas com uma infra-estrutura bastante similar (acredito inclusive que essa "infra-estrutura" seja algo "padronizado" nesses REGIONAIS), embora oferecesse um item que se tornou um "must" para todos, que era um chuveirão no "deck superior", onde ficávamos isolados de "Janguito e sua turma de piloteiros". Mas como sempre acontece, os "últimos preparativos" estavam "se concluindo", de modo que pudemos dar uma voltinha de "despedida" pela cidade (até para que os "paulistas" a conhecessem). Com o sol / calor que já estava fazendo, essa "city tour" foi bastante rápida e novamente estávamos a bordo, "pressionando pela saída" ! E ela acabou acontecendo por volta das 10:00 h (horário local = menos uma hora), quando nos pusemos em marcha pelo rio Amazonas rumo ao rio Curuá-Una. Já de saída um braseiro acesso, um cheirinho de carne assando, algumas cervejas a menos no estoque e a identificação entre os integrantes do Grupo já estava perfeita, parecendo que todos se conheciam há anos, e que na vida só faziam isso ! Foi nesse clima que distribuí as camisetas ! Elas fizeram "furor", pois ficaram de fato muito expressivas e apropriadas, até porque o termo "MOCORONGO" era típico do lugar (embora fosse usado como forma pejorativa pelos demais paraenses para os nascidos nessa bela cidade de Santarém). Foram preparadas pelo pessoal do Marketing do Banco, onde o "desenhista principal" (Ivan Merces) foi "rabiscando" padrões, e evoluindo no traço até atingir este modelo, que passou a ser adotado como a logomarca do Grupo, acompanhado do já utilizado escudo APF. As "tralhas" foram saindo das malas, caixas e tubos, e os equipamentos abertos mostravam que o grupo não viera para fazer feio ! Além de Bill, que estava sobrecarregado, tanto Marco Antonio quanto Alex haviam comprado material zerado e os estariam estreando naquela pescaria (material caro inclusive BG60 - me pareceu um tanto "pesado" para nosso tipo de pescaria, mas...). O "preparar" do equipamento tem um gosto todo especial e nisso (além de bisbilhotar nas diversas iscas artificiais alheias), consumimos quase uma hora de viagem ! Foi o tempo da carne assar ! A conversa estava tão animada que só notamos ter chegado à foz do rio Curuá-Una quando o barco praticamente se preparava para estacionar ! O nível das águas estava tão baixo que a entrada para os lagos existentes nesta região teria menos de meio metro de profundidade (teríamos que sair dos botes em alguns lugares). Mas nosso objetivo daquela tarde era exatamente "bater" por todos os locais existentes - que conhecíamos - por ali. Certamente que apesar de pouca água, haveria PEIXE à nossa espera ! Desta feita os botes estavam preparados e tivemos apenas esperar o sol amainar para sairmos a procura dos peixes. O combinado era que - pelo horário - iríamos dormir ali, nos locomovendo ao longo do rio até o outro lago (nosso objetivo principal) durante o segundo dia. O sol estava de rachar e por volta das 15:30 h não deu mais para segurar a ansiedade e "fomos a luta". Como imaginado, o nível das águas estava lá em baixo e os locais que no ano anterior haviam se apresentado como excelentes - próximos às margens - estavam reduzidos a uns dois palmos de profundidade. Tivemos que buscar alternativas e o que melhor funcionou foi o corrico pelo centro da "lagoa" (já havia deixado de ser lago). Isso contudo apresentou um inconveniente até então discreto, que foi a presença de um enorme número de piranhas ! As danadas atacavam nossas iscas artificiais para valer, e quando não eram ferradas (e pegamos muitas), os "peixinhos" voltavam marcados pelos seus dentes (diversos ficavam inutilizados). Mas nem por misso deixamos de pegar alguns tucunas (poucos e pequenos - como manda a tradição - típicos de um primeiro dia de pescaria). No entardecer alguma movimentação maior, mas nada de expressivo ! Uns dois exemplares de 1 1/2 quilos para dar o gosto, e foi só ! Voltamos para o REGIONAL com o que foi pego, mas inegavelmente frustrados com os tamanhos encontrados ! Confesso que minhas preocupações aumentaram com os níveis de água encontrados, mas já estávamos ali e o melhor a fazer era "relaxar e aproveitar". A comida da noite - mais um "churrasco" - foi acompanhada por um "cantarolar" de Marco Antônio, que retirou músicas de um "baú", de tão antigas que eram ! Mas todos estávamos felizes mesmo com os peixes não corresponderem às expectativas. O papo correu solto até que de repente tomamos um susto, pois num em que se fez silêncio por alguns minutos (talvez uns dois, no máximo) ouvimos um barulho grave e alto emanado da rede onde estava "nosso Alex" ! Nossa preocupação foi minorada pelo aviso de Marco Antonio de que não nos preocupássemos pois aquilo era APENAS um ronco do Alex ! Mas seria mesmo verdade ? E o pior e mais grave, é que era mesmo ! E isso não acontecia apenas à noite, pois muitas vezes ao longo de conversas ele encostava a cabeça nas mãos e aí, "já era" ! Nunca havíamos visto algo parecido ! Vivendo e aprendendo ! Fomos para nossas redes, devidamente armadas no "deck", e entre os roncos existentes (Bill e Marcos não deixavam "barato") conseguímos tirar um "cochilo". Mas de qualquer forma, a noite no rio é algo muito bonito. A majestade das águas serenas, os barulhos noturnos da mata e a brisa fresca sempre eram um convite a uma vigília interminável às estrelas cadentes de um céu estrelado e sem qualquer tipo de nuvem ou luz que não as do céu ! Tenho a impressão que por volta das 22:30 h todos já haviam adormecidos (apesar dos roncos - ressalva válida para até o último dia), embalados no sabor das carnes "Wessel" e da cerveja bem gelada ! O amanhecer no local foi uma experiência que se renovou a cada dia ! Uma névoa matinal indicava que o sol estava a caminho com força e que teríamos mais um dia de calor. No acordar, as diversas pessoas buscando suas prioridades, e dentre elas o destaque para o "gole de café" de Marco Antonio, que só sabia fazer alguma coisas após esse "gole de café" (fumante). Alguns deixavam de fazer a barba (Bill) enquanto outros insistiam em se manter barbeados (Alex e Marco Antonio). O fato em si é que amanhecemos (todos) com fome, muita fome ! Como os estoques de víveres haviam sido propositadamente elevados, apareceram no "café da manhã" ; ovos mexidos, bacon, pães, biscoitos diversos, margarina, presunto, queijo, mortadela, etc... que nos permitiu fazer uma boa forração de estômago para esperar pelo "almoço" ! Após isso, hora de "irmos a luta" ! Mais uma vez saímos nos três botes corricando as margens do próprio Curuá-Una. O REGIONAL nos encontraria por volta dos meio dias num local pré-determinado, até por conta do almoço ! Nas margens do rio existem inúmeras entradas (braços) que iríamos explorar nessa nossa subida. Batemos praticamente todas as margens da subida até o REGIONAL e apenas uns três tucunas (pequenos) se apresentaram além de algumas piranhas, e só ! Mas o que estaria acontecendo ? Mudamos - seguidamente - de iscas, alternando cores, modelos, profundidades e nada de maior ação ! Pensamos que pudesse ser alguma coisa relacionado ao calor, mas os piloteiros não concordaram com essa tese. Enfim, o que teria acontecido com os peixes do Curuá-Una ? Marco Antonio não conseguira pegar nada além de piranhas, enquanto que os demais não conseguiam preencher os dedos de uma das mãos com suas respectivas capturas. Desalentador ! Mas ainda existia a expectativa do lago, mas pensando bem já deixara de ser "expectativa" e se tornar um "temor" ! Viajar tanto pára aquele "fiasco" ? Mas esse ainda era o segundo de quatro dias, e haveríamos de encontrar os peixes ! O almoço até que foi silencioso (relativamente às refeições anteriores) e antes mesmo de chegar às 15:30 h já estávamos de volta no rio, com os botes a caminho do lago (o REGIONAL nos encontraria lá no anoitecer). Vez por outra dávamos uma "diminuída" na marcha para testar um ou outro local promissor, e graças a isso conseguimos embarcar alguns exemplares "animadores" (Bill pegou um com quase dois quilos). Armando também conseguira alguns, eu em menor quantidade, Alex uns pequenos e os dois Marcos praticamente se igualaram na "pouca sorte" (deve ser coisa do nome). O por do sol foi chegando quando estávamos na beirada da entrada do lago (no ano anterior era um "braço de rio", e desta feita apenas um "riacho"). Pelo horário e local conseguimos ter alguma ação ! O destaque foi Bill que conseguiu pegar um surubim de uns 4 quilos com uma colher. Por aí já dá para se ter uma noção do nível da água ! O REGIONAL não conseguiu chegar ao local combinado pois o nível das águas não permitiu, estacionando uns 15 minutos antes (tempo de bote). Na noite voltamos ao churrasquinho (até como forma de "fugir" da comida do "cozinheiro" - de fato MUITO RUIM), desta feita tendo peixe como protagonista ! Com os conhecimentos adquiridos no ano anterior, assumi a grelha e em pouco tempo estávamos apreciando um tucuna no laminado, feito no azeite de oliva (doce) e com muito tempero. Pela ausência de reclamações e as "bocas" mastigando "direitinho", fiquei com a sensação de ter sido aprovado como cozinheiro, ainda que daqueles bem modestos. Diante da "presença" de surubim na região (embora a impressão que tinha era de que havíamos pego o "descuidado" que passava por ali no momento), a fominhagem persistiu ao longo do início da noite, com algumas varas de espera (acho que funcionavam como "força de hábito") enquanto beliscávamos os tira-gostos e bebíamos o que havíamos levado ! Uns cerveja, outros uísque, e Bill vodca ! As quantidades há muito deixaram de ser moderadas, e aparentemente parecia que estávamos bebendo água ! Algumas poucas batidas, quase sempre de piranhas inclusive com a captura de algumas menores, que Bill insistia em manter a bordo para "iscar uma viva" para deixar na espera do "bruto". A ideia em si era boa, ruim mesmo foi ele ter se confundido de isopor ao querer renovar o gelo de sua vodca colocando a mão no reservatório (também um pequeno isopor) onde estavam as piranhas vivas ! A porrada foi que nem "choque elétrico" ! Ele sentiu algo mas não conseguiu identificar o que fora até tirar a mão do isopor e exibir o sangue esguichando ! Tomamos um susto, e ele anestesiado pelo álcool - felizmente - pouco sentia dor, apenas - segundo ele - um "comichão" no dedo atingido ! Na verdade a mordida da piranha havia praticamente decepado a parte do dedo indicador superior direito, chegando até o osso ! Um quadro feio com sangue jorrando a vontade ! Garrote nele e gelo em cima ! Miséria pouca nunca chega sozinha, de modo que além do gelo estar terminando (difícil mantê-lo com aquele calor), também não havia qualquer tipo de medicação apropriada à bordo ! Esse foi um item que passou desapercebido - claro que havíamos levado alguns, mas nada para uma situação como aquela ! O que fazer ? Mesmo com o "torniquete" apertado e sangue controlado, era necessário aplicar algo no local, além da gaze levada... Felizmente havia um local (relativamente próximo - na amazônia as distâncias são grandes) onde havia um pequeno vilarejo, uma comunidade de pesca, ou algo assim para onde Marcos com dois piloteiros embarcaram atrás dos itens que estavam faltando (além do gelo e remédios para o dedo de Bill). Não demoraram muito retornando com gelo, víveres, mas nada de remédio adequado (não tinham farmácia), sendo que o máximo encontrado foram umas pílulas de sulfa (acho que era Bactrin), que muito pouco ajudariam nessa situação, pois desejávamos colocar algo no local do corte (risco de infecção) ! A recomendação passada - no vilarejo - à Marcos foi de usarmos as pílulas reduzidas a pó e para isso fora trazido também um "língua de pirarucú", que "ressecada" - como era aquela - atua (com eficiência) como se fosse uma lixa ! Conseguimos (apesar dos protestos de Bill - já com elevado índice etílico após a garrafa de vodca que tomara) colocar o "pó branco" no corte, e enfaixar o dedo com gaze e esparadrapo que felizmente leváramos ! Aparentemente tudo em paz e Bill emborcado na rede a sono solto... Acreditávamos que a pescaria acabara para ele... Foi nessa mesma noite que - passado o susto com o "evento Bill x piranha" - que Armando e Marco Antônio "se encontraram" no estilo "country" e juntos nos castigaram com inúmeras modas populares, além de "Chitãozinho e Xororó", dentre outros ! Tinha um tal de "Pense em mim, liga pra mim..." que era música recorrente ! Não bastasse o ronco, tínhamos também uma "dupla sertaneja" ! Deprimente ! O Grupo já fora melhor composto... Esta noite (sexta feira) foi bem movimentada ! Além do acidente com o dedo de Bill, a corajosa saída noturna de Marcos (que aproveitou o telefone existente na comunidade para mandar notícias para nossas famílias), havia a inquietude geral, talvez pelos fatos ocorridos, pela ausência dos peixes, pelo jantar e bebidas em excesso, mas o fato é que não dormimos bem, e pela manhã tivemos algumas reclamações (tá pensando que dormir em rede é algo fácil pra gente civilizada ?). O dedo de Bill, já sem o efeito anestésico do álcool, incomodava mas ele não se fez de rogado e mudando o lado de recolhimento das manivelas de seus molinetes, manteve-se na pescaria caracterizando sua "fominhagem" radical ! Enfiou a outra mão (a do dedo machucado) num saco plástico para proteger da umidade, e tocou em frente... O café da manhã se tornou uma marca registrada dessa turma, onde os sanduíches de ovo, com queijo, presunto, mortadela eram montados de acordo com o desejo de cada um ! O fato é que saíamos - sempre - bastante alimentados e com a esperança renovada de que o dia seria melhor que o anterior ! Afinal havíamos chegado ao nosso destino principal que era o lago ! Não poderia deixar de ser diferente ! O nível das águas havia transfigurado inteiramente os locais onde havíamos nos dado "bem" no ano anterior. As águas desta feita estava, confinadas no centro do lago e as margens que haviam sido nossas conhecidas eram praticamente secas. Avaliamos (eu e o Armando) que o nível havia baixado quase um metro. A "nossa entradinha" para o igarapé estava completamente seca (talvez uns 30 metros - envolto em mato - até o começo de água outra vez - "rasinha"...). De novidade mesmo, a outra entrada que no ano passado estava tapada pelo mato, apresentava-se "convidativa" desta feita. Nessa altura já estávamos em apenas dois botes (o 3º motor já pifara). Entramos nessa pequena foz com um pouco de dificuldade, pois o calado pesado encontrou uns bancos de areia, mmas foi uma coisa ligeira e superamos rapidamente essa situação. Dentro do igarapé começou a ação ! Um dos botes (o nosso) ainda se livrava dos bancos de areia e o outro já estava com um peixe (até razoável) ferrado na linha e uma outra batida perdida ! Ao passarmos pelo local, "o couro voltou a comer", e desta feita batidas nos três anzóis ! Embarcamos um tucuna médio e uma piranha preta de mais de dois quilos. Continuamos seguindo o igarapé, numa velocidade de corrico, e as batidas acontecendo ! Estávamos indo no sentido contrário à correnteza e na verdade explorando aqueles cinco metros (na parte mais larga) de água, embora houvesse lugares que passávamos numa largura de dois metros entre margens e 1 1/2 m de profundidade (nesses locais a correnteza ficava muito rápida). As águas não eram transparentes, apenas limpas, de modo que se não tínhamos a visão dos peixes, eles seguiam atacando nossas iscas até a borda do bote. O final desse curso d'água, como não poderia deixar de ser, era o retorno ao rio Curuá-Una, num local onde a largura do rio (entre margens) devia ter aproximadamente uns 30 metros. Nesse local também conseguimos encontrar um filão bem razoável de batidas ! Para nós parecia um verdadeiro sonho e por conta disso passamos a "investir" naquele igarapé ! Descíamos a sabor da correnteza (controlado pelo remo do piloteiro), fazendo arremessos para as margens (nosso bote era composto por mim, Armando e Marcos - ambos com varas inadequadas para lançamentos, e o outro bote com Bill que pescava de arremesso e os outros dois também sem versatilidade nos equipamentos) e voltávamos no corrico (com todas as linhas na água). Foi uma festa ! Até o Marco Antonio - que estava azarado - embarcou uns bons tucunas e se livrou da "alcunha" de "pé de freezer". As batidas eram sempre muito violentas de modo a termos (no processo de corrico) muitas iscas de madeira "destroçadas" pelas mordidas das piranhas pretas (a maior - e foram diversas capturadas - chegou a pesar uns três quilos). O sol foi esquentando e as batidas diminuindo ! Afinal houvera mais ação naquela manhã do que em qualquer dia anterior. E aquela história de um fazer lançamento e os outros dois olharem, não ficava legal até porque eles não estavam pescando por limitação de equipamento ! Mais uma lição apreendida ! Fomos em frente pois "Janguito" (nosso piloteiro) disse conhecer um pesqueiro próximo dali ! Na verdade fomos a uma encosta de "morro" (deviam ter uns 25 m de altura, que acabavam abruptamente no rio) onde chegamos a ter alguma ação (pouca) e sempre no corrico, que apelidamos de "pedreira" ! Ficamos "enrolando" entre uma corricada e outra, afinal era a véspera da partida ! Não voltamos para almoço pois estávamos relativamente distantes do REGIONAL e a gasolina já passara a ser um "problema" a ser administrado (justo no final da pescaria, já pensou faltar ?). Na parte da tarde fizemos revezamento (inclusive dos grupos de cada bote) entre a pedreira e o igarapé ! Os que preferiram tentar os lançamentos (Bill, Armando e eu) foram mais vezes no "sobe e desce" no igarapé, enquanto que os demais (Marcos, Alex e Marco Antonio) em função do próprio equipamento em uso, ficaram mais no corrico ! Combinamos nos encontrar na "pedreira" por volta das 17 h, para então os dois botes voltarem juntos para o REGIONAL. Assim sendo fomos tirar proveito do "nosso igarapé" ! Com algumas capturas realizadas ao longo do dia, tivemos a oportunidade de pescar com mais calma, e talvez em função disso, aprimorar as capturas, algumas das quais memoráveis ! Pudemos também experimentar a maior parte das iscas levadas e comparar sua eficácia, e até mesmo escolher as cores que entendíamos ser as melhores para o momento. Nesse período o menos usado foram as colheres, pois preferimos testar as demais ! E como deram certo ! No processo de "ir batendo" as margens aprimoramos bastante a precisão dos lançamentos e no final do dia já colocávamos a isca com mais ou menos 90% de precisão no local pretendido e isso gerou muito peixe ! Um dos mais belos lances foi a captura de um tucuna numa "popper" ! No local eu já havia ferrado um belo tucuna de uns três quilos (usando uma RAPALA de meia água) e disse a Bill que lançasse no mesmo local pois poderia ser um cardume ! A precisão do lançamento fez com que a "popper" caísse a poucos centímetros de onde havia lançado a minha isca momentos antes ! Por ser uma isca de superfície, o trabalho dela é muito visual, e não é que aos primeiros movimentos dados vimos surgir dentro d'água uma "boca" vermelha, sugando a isca inteira ! Que bela ferrada ! Coisa de arrepiar até hoje quando lembro ! Mas horário marcado é horário marcado, e às 17:00 h nos encontrávamos com o outro bote ! Também eles estiveram com bastante sorte e haviam embarcado uns 15 peixes (de bons tamanhos), e o mais importante, haviam descoberto um braço de rio onde as "batidas" eram constantes ! Tivemos que ir conhecer o local (como se isso significasse algum sacrifício !) apesar dos apelos dos dois piloteiros ! Fizemos um trato de que não ultrapassaríamos as 17:20 h para sairmos todos na direção do REGIONAL (claro que SE o peixe não estivesse "batendo" - afinal já estaríamos voltando no dia seguinte...). No bote onde estava, tentamos as iscas de peixinhos ("plugs" de superfície e meia água) enquanto que o outro bote permaneceu nas colheres. Enquanto não tivemos nenhuma batida, eles embarcaram 3 ! Pergunta se alguém ainda insistiu nos "plugs" ? Ainda estávamos nesse "troca troca" quando ouvimos um grito partindo do Marco Antonio ! Não estávamos próximos mas numa distância visual que deu para perceber que ele havia - finalmente - pego seu troféu ! O bote deles fervilhava de movimentação e até nós - à distância - acompanhamos o embarque de um tucuna de uns 4 quilos (definido como o maior da pescaria). Os sinais de peixe comendo eram evidentes, contrastando com o horário de retorno estabelecido. Foi negociada uma "nova prorrogação" de 10 minutos (que foi respeitada) e nesse meio tempo conseguimos embarcar de 5 a 7 peixes de um bom tamanho, mas ainda distantes do que fora embarcado por Marco Antonio (que até parou de pescar para "amansar a adrenalina"). Na volta ao REGIONAL o que era visto como um risco, terminou se tornando realidade, pelo término da gasolina num dos botes (o nosso), cujo piloteiro vinha à frente com o motor mais aberto... Alguns engasgos de aviso e a paradeira depois disso ! Felizmente não estávamos distantes do nosso destino (paramos nas lagoas - antes eram lagos - ainda distantes da foz do Curuá-Una), e nem 5 minutos depois do fato apareceu o outro bote que jogou uma cordinha e arrastou-nos até o REGIONAL (menos de 10 minutos naquela baixa velocidade). Felizmente a gasolina faltara apenas no reservatório do bote, pois ainda que pouca havia disponível no REGIONAL. Chegamos ao REGIONAL certos de que a antiga "máxima" de que "o último dia é sempre o melhor" ! Acontece contudo que para "fominhas" como nós, deveria ter sido o último dia, MAS NÃO FOI ! Convencemos os piloteiros (a despeito dos problemas da pouca gasolina que restava), de na manhã seguinte retornarmos àquele ponto e re-encontrarmos o REGIONAL no caminho da foz do Curuá-Una ! Foi um custo essa negociação, mas certamente valeu a pena ! À noite, na finalização das carnes remanescentes do "Wessel" na churrasqueira, ninguém aguentava a alegria (justificada) de Marco Antonio, que bebeu, cantou, enfim extravasou a vontade que tinha de pegar um belo troféu na Amazônia (e terminou como "campeão" - sob os protestos de Bill, com seu "surubim", mas a pescaria era de tucuna). Falando em Bill, estávamos todos preocupados com a situação do seu dedo, que inchara bastante, e o incomodava ! Os sinais de que havia algum "problema não resolvido" eram evidentes, e os analgésicos que tomava eram insuficientes para passar a dor (mas nem por isso ele deixou de pescar ou de tomar sua vodca). Chegou ao ponto de não mais conseguirmos renovar o curativo, pois a gaze havia se "colado" na pele inchada. O aspecto não era nada bom... Na manhã da "despedida" o café da manhã foi "engolido" e nos pusemos a caminho mais cedo que o padrão normal (queríamos estar no pesqueiro no horário certo) e navegamos rio acima - contra a correnteza - por uma boa meia hora (nem cortamos caminho pelo lago, pois o trecho levaria mais tempo) e quando deram 08:00 h já estávamos com as linhas na água ! Naquele mesmo local onde na tarde do dia anterior havíamos pego bastante, só entraram três peixes nos dois botes, como é que pode ? Não desistimos e fomos avaliar os locais "próximos", e então descobrimos "os bichos" num pequeno braço do rio, cuja percepção era impossível ! Foi um mero acaso, pois passávamos corricando (com colher) e num determinado local (junto a dois "toquinhos" que ficavam uns 5 cm acima d'água e 50 cm da margem) as três iscas deram sinal de vida simultaneamente ! Não deu nem para pestanejar e na segunda passagem, mais três peixes embarcados ! Pena que já eram mais de 09:00 h e teríamos que sair dali, daquele "paraíso sonhado" pelo menos meia hora antes das 10:00 h (conseguimos adiar por até 15 minutos) ! Mas os peixes (que não eram grandes, talvez em torno 1 1/2 quilos) continuavam ativos ! Teve um momento inclusive que ME CANSEI de puxar peixe e cedi meu equipamento para o Marcos, que até então estava usando um material emprestado por Bill. A mudança (para ele - pelo menos) surtiu efeito, e com um equipamento mais leve, também ele fez a festa, embarcando seguidamente (fazendo inúmeros "dublês" com Armando, que nesta hora estava se sentindo igual ao momento da pescaria anterior onde não precisava nem ferrar). A grande ausência era do irmão Cecil, de quem volta e meia falávamos, principalmente no meio daquela fartura onde havia peixe para todo mundo ! Aproveitei aqueles momentos - considerados mágicos - para filmar em vídeo cassete a movimentação do "puxa puxa". Sob protestos de todos os pescadores (certamente que não dos piloteiros) tivemos que nos render ao horário e saudosamente nos despedirmos daquele "recanto do paraíso". Linhas recolhidas, distribuição do peso rearrumado nos botes, alguma preocupação com o combustível e lá fomos nós na direção da foz do Curuá-Una, atrás do RECREIO que nos levaria de volta à Santarém. O sol já estava quente (eram quase 10:00 h) e não fosse pelo vento provocado pelo "andar" da embarcação, teríamos sofrido naquelas 2 1/2 h de perseguição ao RECREIO. Quando o alcançamos, ele já estava a nossa espera na foz. Na verdade ele estava (contrariando a vinda) a favor da correnteza e com isso facilitou muito sua navegação até aquele ponto. Desta feita sim, iríamos navegar contra a correnteza do rio Amazonas (é mole ou quer mais), e o tempo gasto até Santarém seria maior. De qualquer forma nosso voo estava marcado para a tardinha, mas mesmo com uma pequena folga prevista, não era bom facilitar ! No dia seguinte já teríamos "o outro trabalho"... À bordo as últimas brincadeiras, o último churrasco (os estoques já próximos de zero), as inevitáveis fotos, as conversas, as "mentiras", as gozações, enfim tudo como mandava o figurino. A única preocupação real que tínhamos era mesmo a situação do dedo do Bill, completamente deformado de inchaço, causando-lhe dor e um pouco de febre ! Seria - com toda certeza - a primeira coisa a fazer chegando em Santarém, levá-lo a um pronto socorro para o devido cuidado. O aspecto era muito ruim e eu estava com medo de alguma infecção (lembrando sempre a "minha erisipela" pega na pescaria anterior... mas como a mão ficou envolvida e quase sempre dentro de um saco plástico amarrado, não deveria ter tido qualquer contato com lodo ou algo similar que pudesse causar uma situação dessas, mas isso, só após uma avaliação médica). Além disso, apenas para não acharmos que tudo foram alegrias, e bastante lamentável mesmo, foi o desaparecimento do canivete de Bill (daqueles tipo "Bom Bril" - 1001 utilidades da Swiss Army), que certamente virou "troféu" de um dos tripulantes (haviam suspeitos inclusive, mas...). O ritual de ter que desfazer os equipamentos e guardar as tralhas - que oficializa o término da pescaria - foi cumprido (que é sempre "chato") e sem maiores pertubações - exceto para Bill, que tinha um "mundo de providências" a tomar (mas justiça seja feita, ele assume o assunto sozinho - embora desta feita cada um deu uma cota de ajuda no que pode, face seu estado febril e sem destreza em uma das mãos - a principal para quem é destro). O clima de satisfação era tamanho que nem nos demos conta de que a viagem estava próxima de se concluir ! Os banhos eram tomados no chuveirão externo (aliás é preciso que se diga que foi um dos "ganhos" relacionados ao REGIONAL da pescaria anterior), que nos possibilitava um conforto adicional e permanente (com o calor, volta e meia nos refrescávamos com uma "chuveirada" revigorante). Pois foi nesse clima que o último a tomar banho foi Marcos (já estávamos com a roupa de embarque para o voo até Belém), que pelo horário - já bastante próximo à Santarém - causou uma involuntária cena de nudez ao cruzarmos com outro REGIONAL que vinha em sentido contrário. Felizmente nada além de "fiu fiu" e gozações do outro REGIONAL e risadas no nosso ! Chegamos no mesmo cais, onde Edson, o gerente do banco - dentro do seu padrão normal de tranquilidade - nos esperava com o transporte para o aeroporto. Foi ele quem terminou indo com Marcos levar Bill ao pronto socorro, enquanto os demais providenciavam a retirada dos pertences do REGIONAL. Não demoraram a retornar, e desta feita encontramos Bill assustado com o parecer feito pelo médico que lhe assegurou que mais 24 hs ele teria perdido o dedo ! Foi feito uma drenagem (estava infectado) e depois um curativo com as medicações adequadas, além - é claro - de antibióticos para a regressão do machucado. Felizmente o curativo ficou bem feito e tudo acabou (posteriormente) bem, sem sequelas. Mas retornando ao tema principal, felizmente havia uma caminhonete pick up para transportar toda aquela bagagem ! O percurso (quase uns 30 minutos) foi feito sem problemas e chegamos dentro do horário de embarque. Apesar da "lábia", "conhecimento", "favores", "diretor de banco", etc... tivemos que pagar excesso ! Mas é claro que teríamos que ter excesso, já que os isopores estavam repletos e ainda tinham as "tralhas" ! Deu para dar uma "aliviada" (pequena, quase simbólica) mas não havia como deixar de pagar e mesmo assim ainda levamos uma bagagem de mão "vergonhosa" (de pesada), até porque carregamos conosco tudo que foi possível levar nas mãos. O voo de volta surpreendentemente não estava lotado (como de hábito), tão somente cheio e foi tranquilo e rápido (o cansaço coletivo deve ter ajudado - e muito). Ficamos mesmo no Hotel Vila Rica - bem próximo ao aeroporto "Val-de-Cãns" - pois a viagem seria bem cedo. Embarcamos todos na manhã seguinte (segunda feira) cedo ! Bill, Marco Antonio e Alex com destino à São Paulo, Armando para Belo Horizonte e eu para Salvador (no famigerado RG 301, com paradas nas principais capitais do nordeste - com risco de querer descer também nos "campos de futebol" ao longo do caminho - uma verdadeira "lotação"). Marcos permaneceu em Belém, onde estava sediado, e cabe a ele o nosso reconhecimento e agradecimento por toda a preparação prévia da pescaria ! Só quem já preparou algo do tipo é que entende a dificuldade que é buscar algo "coerente" e "de confiança" para ser usado numa empreitada dessas ! REGIONAL, piloteiros, motores de popa, alimentação, etc... são coisas que parecem simples (e são) quando se tem um mínimo de profissionalismo, o que na região Norte, é uma utopia ! Tem que ser "na amizade" (no caso - o Gerente de Santarém) para não embarcar numa "canoa furada" - literalmente. Tenho certeza de que os "paulistas" gostaram muito do programa (embora não acredite que voltem a repeti-lo), principalmente das batidas fortes dos tucunas ! Aliás, "o primeiro tucuna, ninguém esquece" ! O retorno para casa com os peixes, tralhas e tudo mais sempre é motivo de alegria, pois a curiosidade e expectativa dos que ficaram sempre motivam as explicações e detalhes dos fatos e das reações dos demais integrantes do grupo no período de convivência em que estivemos juntos. Acredito que essa tenha sido a temática em cada uma das residências, e certamente uma unanimidade em todos os relatos, ou seja, VALEU A PENA ! Mas a PRÓXIMA será ainda melhor !
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