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Carlos Vettorazzi

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Histórico de Reputação

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    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em ALEGRIA, DECEPÇÃO...E OUTRAS EMOÇÕES   
    Meus amigos, segue minha primeira contribuição a esta nova "sala" do fórum.
    Trata-se de um texto, escrito há "alguns poucos" anos, sobre meu primeiro embate com um "peixe grande".
    Espero que gostem.
    Abraços!
     
     
     
    ALEGRIA, DECEPÇÃO...E OUTRAS EMOÇÕES
     
     Carlos A. Vettorazzi
    Piracicaba, dezembro de 1981
     
     
    Como de costume, os primeiros raios de sol traziam consigo a movimentação geral na Pensão Moraes, na pequena cidade de Tesouro, no estado do Mato Grosso.
     
    Após um ligeiro café-da-manhã, todos se voltavam para a aprontação das tralhas, iniciando mais um dia de pescaria.
     
    O copo de café preto, fumegante, logo de manhãzinha, tem um poder extraordinário sobre meu organismo. O dia realmente só inicia, para mim, após o primeiro gole de café.
     
    Ao sair da pensão encontrei meu pai, completando a gasolina do tanque do motor de popa. Geraldo, primo de meu pai e meu parceiro naquele dia, também já estava em pé, mas Tonho Boi, o piloteiro, ainda não havia dado as caras.
     
    Faltava pouco para as seis e meia e, enquanto o pirangueiro não chegava, tratei de fazer uma checagem em meu equipamento, no que fui acompanhado pelo Geraldo.
     
    Eu sentia que, finalmente, o dia tão sonhado havia chegado. Esperava ter a oportunidade de fisgar um grande peixe e dominá-lo com meu material predileto à época, vara e molinete, nesta minha primeira pescaria no Mato Grosso, mais precisamente no rio das Garças, afluente do famoso Araguaia.
     
    Eu não havia feito aquela viagem, de quase mil e quinhentos quilômetros, para voltar para casa sem ter sentido o prazer de um duelo justo e esportivo com aquele peixe tão sonhado e esperado desde os tempos de infância.
     
    Enfim o Tonho chegara, mas pediu-nos permissão para prestar ajuda a um grupo de pescadores que teimava, já há algum tempo, sem sucesso, em fazer funcionar o seu motor. É claro que não podíamos recusar, contanto que não demorasse muito, pois minha ansiedade já estava no limite.
     
    Como o material já estava arrumado, aproveitei para adiantar o trabalho, carregando o tanque de combustível e parte da tralha para o barco. Meu pai e o Geraldo levaram o restante.
     
    Não demorou muito para que os dois chegassem ao pequeno porto, próximo à ponte. Logo atrás vinha o Tonho Boi.
     
    Nosso motor funcionou na primeira tentativa e a fumaça branca subiu aos ares, para logo em seguida dissipar-se. Geraldo e eu já estávamos acomodados em nosso banco. Com acenos e as últimas recomendações, meu pai, da margem, despediu-se de nós.
     
    Agora, o ar frio da manhã parecia gelado de encontro a nossos rostos, obrigando-nos a baixar a aba do boné e a fechar bem a gola do casaco. Estávamos em meados de julho. Segurando a borda do bote com a mão direita, era até gostoso sentir aquela água morna do rio, contrastando com o ar gelado.
     
    A descida do Garças, naquele trecho, era particularmente difícil, mas vencidas as cinco primeiras corredeiras, chamadas regionalmente de “travessões”, tornava-se mais tranquila.
     
    Em uma curva do rio, após o quarto travessão, encontramos dois pescadores em um bote. Pescavam com linhadas de mão e já haviam fisgado dois pintados.
     
    - Podem ir se preparando que, mais à frente, vamos parar para uma primeira tentativa, disse-nos lá da popa o Tonho.
     
    Passado mais um travessão, o piloteiro foi diminuindo a aceleração do motor, até “matá-la” de vez. O bico do bote enterrou-se na areia da margem e, de pronto, desci para puxá-lo um pouco mais. Era uma pequena praia, com alguns metros de largura, terminando numa ponta que acompanhava, por curto trecho, um paredão alto de arenito. Esses locais são chamados por lá de “costelões”. São paredões verticais, muito altos, que existem em abundância na região, onde as águas do rio resvalam a grande velocidade. São pontos profundos e bons para a pesca de peixes de couro.
     
    Eu ia ficar naquela praia, enquanto os dois desceriam com o bote um pouco mais, pescando sob o mesmo “costelão”, após a próxima curva, o que representava menos de cem metros.
     
    Seguindo orientações do Tonho, cortei um pedaço de muçum, de aproximadamente um palmo, e o prendi ao anzol. Sangrando e ainda contorcendo-se, arremessei-o para o meio do rio. A linha acompanhou a correnteza e logo estava esticada, quase encostada ao paredão.
     
    -É aí mesmo que ela tem que ficar, disse-me o Tonho.
     
    -Fique atento para a arrancada do peixe. O pintado normalmente dá duas batidas e, na terceira, dispara com a isca na boca. Aí é fisgar e não se afobar. Não tenha pressa em trazer o peixe.
     
    Logo eu estava só.
     
    Fazia muito frio, pois o sol ainda não havia batido naquele lado do rio.
     
    Numa árvore próxima, um tucano vocalizava e a resposta ao seu chamado vinha do outro lado do rio. Que ave bonita!
     
    Na areia, perto dos meus pés, o restante do muçum ainda se contorcia, manchando de vermelho, com seu sangue, a areia da praia.
     
    Comecei a bater os dentes, mas confesso não saber ao certo se era pelo frio ou por aquela pontinha de nervosismo ante o imprevisto, que se inicia no “toco do rabo” e vai até o último fio de cabelo, marcando seu trajeto pela espinha com um arrepio danado.
     
    Passaram-se talvez uns dez minutos e a linha permanecia imóvel. A descrença chegava devagar. Recolhi a linha e examinei a isca. Tudo certo. Ela ainda se contorcia um pouco, embora o sangue já tivesse sido lavado.
     
    Fiz novo arremesso e esperei que a linha chegasse ao lugar certo.
     
    O tucano atendeu ao chamado do companheiro, na outra margem, e com seu jeito característico de voar – três batidas de asa e uma planada; mais três batidas e nova planada – atravessou o rio.
     
    Olhei para baixo. Meus calçados estavam afundados na areia úmida e eu já podia sentir as meias molhadas.
     
    Quando mudava de posição, senti o primeiro tranco na linha e antes que minha mente se reorganizasse e meu corpo se preparasse veio o segundo tranco e logo em seguida senti-me arrastado, tendo que dar um passo à frente para restabelecer o equilíbrio. O que fazer agora? O peixe estava lá. Dalí para frente o negócio era comigo.
     
    O receio de a linha partir logo acabou, pois soltei um pouco a fricção do molinete, deixando que o peixe levasse a linha que pudesse.
     
    De início ele correu muito, mas fui fechando aos poucos a fricção, até que a linha parou de correr e a vara vergou, formando um arco com a fisgada que apliquei.
     
    A pressão da correnteza fez com que o peixe aflorasse dezenas de metros à frente, tirando a cabeça fora d’água, como que querendo cuspir o anzol que o estava machucando. Nesse momento é que percebi a grandiosidade da situação. O coração estava “a mil”. O pintado não era pequeno não! Devia passar dos dez quilos!
     
    Coisas as mais diversas começaram a passar por minha mente.
     
    Sentia-me um intruso, incomodando aquele belo animal em seu ambiente.
     
    Também senti pena do peixe que, no momento em que se mostrou, parecia tomado de muita ira, como se isso fosse possível.
     
    Mas eu não podia fazer mais nada a não ser tentar trazê-lo para mim, pois era isso que meu instinto de pescador ordenava. E, assim, em movimentos ritmados com a vara, entremeados com o recolhimento da linha, fui trazendo o peixe que, até aquele momento, tentava fugir rio abaixo.
     
    Repentinamente senti a linha afrouxar e notei que ele tentava uma carga, agora rio acima, em minha direção!
     
    Enrolei a linha o mais rápido que pude, pois havia aprendido que não devia deixá-la frouxa, sob pena de o peixe conseguir livrar-se do anzol. Senti, então, que ele já estava cansado e com movimentos mais calmos. Continuei enrolando a linha.
     
    Já antegozava o momento de exibi-lo ao meu pai e ao meu avô, que também estava nessa pescaria.
     
    O peixe estava agora bem próximo a mim e o problema, então, passou a ser como tirá-lo da água, pois não tinha comigo um bicheiro ou um puçá.
     
    Percebi que podia dirigi-lo de encontro à vala que havia entre o paredão e a ponta de praia onde me encontrava. Ali, a profundidade tornava-se gradativamente menor e, com calma, poderia trazê-lo no seco.
     
    Com esse pensamento na cabeça fui dirigindo o peixe até a entrada da vala.
     
    Estava dando tudo certo. Ele estava calmo e, aparentemente, entregue, pois até parecia que se dirigia sozinho até o canal.
    Subitamente meus pensamentos foram interrompidos.
     
    Parecia que a vara queria fugir-me das mãos.
     
    A água, espirrada pelo violento golpe do peixe, molhou-me o corpo quase todo.
     
    O restante foi uma sensação de...vazio. O peixe havia conseguido escapar!
     
    Por um tempo fiquei sem entender nada, querendo dizer “Isso não vale! Volta aqui e vamos começar tudo de novo!”.
     
    Parado, ali, com a vara na mão e a água respingando de meu rosto, só depois de vários segundos é que consegui proferir o primeiro palavrão!
     
    Enrolei o pouco de linha que, até então, me separava do peixe, querendo não acreditar que o anzol voltaria “limpo”.
     
    Contudo, passados os minutos iniciais de raiva, os pensamentos alegres voltaram. Afinal de contas, não era a sensação da briga com um peixe grande que eu queria sentir? Pois então, isso eu tive...e com uma intensidade até então inimaginável! A “briga” havia sido fantástica. Inegavelmente.
     
    Naquele mesmo dia consegui capturar vários peixes, inclusive um pintado de bom tamanho, talvez até maior do que aquele perdido. Mas, o que realmente marcou minha alma de pescador, de forma que nunca conseguirei esquecer, foi esse encontro com meu primeiro “peixe grande”.
     
     
    Obs.: Pescaria realizada no rio das Garças, MT, em julho de 1981. Equipamento utilizado: vara de fibra de vidro Mazzaferro 136, molinete Paoli, linha de nylon 0,50mm, anzol Mustad 8/0, iscado com pedaço de muçum.
  2. Upvote
    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de Marcelo Pupim em ALEGRIA, DECEPÇÃO...E OUTRAS EMOÇÕES   
    Meus amigos, segue minha primeira contribuição a esta nova "sala" do fórum.
    Trata-se de um texto, escrito há "alguns poucos" anos, sobre meu primeiro embate com um "peixe grande".
    Espero que gostem.
    Abraços!
     
     
     
    ALEGRIA, DECEPÇÃO...E OUTRAS EMOÇÕES
     
     Carlos A. Vettorazzi
    Piracicaba, dezembro de 1981
     
     
    Como de costume, os primeiros raios de sol traziam consigo a movimentação geral na Pensão Moraes, na pequena cidade de Tesouro, no estado do Mato Grosso.
     
    Após um ligeiro café-da-manhã, todos se voltavam para a aprontação das tralhas, iniciando mais um dia de pescaria.
     
    O copo de café preto, fumegante, logo de manhãzinha, tem um poder extraordinário sobre meu organismo. O dia realmente só inicia, para mim, após o primeiro gole de café.
     
    Ao sair da pensão encontrei meu pai, completando a gasolina do tanque do motor de popa. Geraldo, primo de meu pai e meu parceiro naquele dia, também já estava em pé, mas Tonho Boi, o piloteiro, ainda não havia dado as caras.
     
    Faltava pouco para as seis e meia e, enquanto o pirangueiro não chegava, tratei de fazer uma checagem em meu equipamento, no que fui acompanhado pelo Geraldo.
     
    Eu sentia que, finalmente, o dia tão sonhado havia chegado. Esperava ter a oportunidade de fisgar um grande peixe e dominá-lo com meu material predileto à época, vara e molinete, nesta minha primeira pescaria no Mato Grosso, mais precisamente no rio das Garças, afluente do famoso Araguaia.
     
    Eu não havia feito aquela viagem, de quase mil e quinhentos quilômetros, para voltar para casa sem ter sentido o prazer de um duelo justo e esportivo com aquele peixe tão sonhado e esperado desde os tempos de infância.
     
    Enfim o Tonho chegara, mas pediu-nos permissão para prestar ajuda a um grupo de pescadores que teimava, já há algum tempo, sem sucesso, em fazer funcionar o seu motor. É claro que não podíamos recusar, contanto que não demorasse muito, pois minha ansiedade já estava no limite.
     
    Como o material já estava arrumado, aproveitei para adiantar o trabalho, carregando o tanque de combustível e parte da tralha para o barco. Meu pai e o Geraldo levaram o restante.
     
    Não demorou muito para que os dois chegassem ao pequeno porto, próximo à ponte. Logo atrás vinha o Tonho Boi.
     
    Nosso motor funcionou na primeira tentativa e a fumaça branca subiu aos ares, para logo em seguida dissipar-se. Geraldo e eu já estávamos acomodados em nosso banco. Com acenos e as últimas recomendações, meu pai, da margem, despediu-se de nós.
     
    Agora, o ar frio da manhã parecia gelado de encontro a nossos rostos, obrigando-nos a baixar a aba do boné e a fechar bem a gola do casaco. Estávamos em meados de julho. Segurando a borda do bote com a mão direita, era até gostoso sentir aquela água morna do rio, contrastando com o ar gelado.
     
    A descida do Garças, naquele trecho, era particularmente difícil, mas vencidas as cinco primeiras corredeiras, chamadas regionalmente de “travessões”, tornava-se mais tranquila.
     
    Em uma curva do rio, após o quarto travessão, encontramos dois pescadores em um bote. Pescavam com linhadas de mão e já haviam fisgado dois pintados.
     
    - Podem ir se preparando que, mais à frente, vamos parar para uma primeira tentativa, disse-nos lá da popa o Tonho.
     
    Passado mais um travessão, o piloteiro foi diminuindo a aceleração do motor, até “matá-la” de vez. O bico do bote enterrou-se na areia da margem e, de pronto, desci para puxá-lo um pouco mais. Era uma pequena praia, com alguns metros de largura, terminando numa ponta que acompanhava, por curto trecho, um paredão alto de arenito. Esses locais são chamados por lá de “costelões”. São paredões verticais, muito altos, que existem em abundância na região, onde as águas do rio resvalam a grande velocidade. São pontos profundos e bons para a pesca de peixes de couro.
     
    Eu ia ficar naquela praia, enquanto os dois desceriam com o bote um pouco mais, pescando sob o mesmo “costelão”, após a próxima curva, o que representava menos de cem metros.
     
    Seguindo orientações do Tonho, cortei um pedaço de muçum, de aproximadamente um palmo, e o prendi ao anzol. Sangrando e ainda contorcendo-se, arremessei-o para o meio do rio. A linha acompanhou a correnteza e logo estava esticada, quase encostada ao paredão.
     
    -É aí mesmo que ela tem que ficar, disse-me o Tonho.
     
    -Fique atento para a arrancada do peixe. O pintado normalmente dá duas batidas e, na terceira, dispara com a isca na boca. Aí é fisgar e não se afobar. Não tenha pressa em trazer o peixe.
     
    Logo eu estava só.
     
    Fazia muito frio, pois o sol ainda não havia batido naquele lado do rio.
     
    Numa árvore próxima, um tucano vocalizava e a resposta ao seu chamado vinha do outro lado do rio. Que ave bonita!
     
    Na areia, perto dos meus pés, o restante do muçum ainda se contorcia, manchando de vermelho, com seu sangue, a areia da praia.
     
    Comecei a bater os dentes, mas confesso não saber ao certo se era pelo frio ou por aquela pontinha de nervosismo ante o imprevisto, que se inicia no “toco do rabo” e vai até o último fio de cabelo, marcando seu trajeto pela espinha com um arrepio danado.
     
    Passaram-se talvez uns dez minutos e a linha permanecia imóvel. A descrença chegava devagar. Recolhi a linha e examinei a isca. Tudo certo. Ela ainda se contorcia um pouco, embora o sangue já tivesse sido lavado.
     
    Fiz novo arremesso e esperei que a linha chegasse ao lugar certo.
     
    O tucano atendeu ao chamado do companheiro, na outra margem, e com seu jeito característico de voar – três batidas de asa e uma planada; mais três batidas e nova planada – atravessou o rio.
     
    Olhei para baixo. Meus calçados estavam afundados na areia úmida e eu já podia sentir as meias molhadas.
     
    Quando mudava de posição, senti o primeiro tranco na linha e antes que minha mente se reorganizasse e meu corpo se preparasse veio o segundo tranco e logo em seguida senti-me arrastado, tendo que dar um passo à frente para restabelecer o equilíbrio. O que fazer agora? O peixe estava lá. Dalí para frente o negócio era comigo.
     
    O receio de a linha partir logo acabou, pois soltei um pouco a fricção do molinete, deixando que o peixe levasse a linha que pudesse.
     
    De início ele correu muito, mas fui fechando aos poucos a fricção, até que a linha parou de correr e a vara vergou, formando um arco com a fisgada que apliquei.
     
    A pressão da correnteza fez com que o peixe aflorasse dezenas de metros à frente, tirando a cabeça fora d’água, como que querendo cuspir o anzol que o estava machucando. Nesse momento é que percebi a grandiosidade da situação. O coração estava “a mil”. O pintado não era pequeno não! Devia passar dos dez quilos!
     
    Coisas as mais diversas começaram a passar por minha mente.
     
    Sentia-me um intruso, incomodando aquele belo animal em seu ambiente.
     
    Também senti pena do peixe que, no momento em que se mostrou, parecia tomado de muita ira, como se isso fosse possível.
     
    Mas eu não podia fazer mais nada a não ser tentar trazê-lo para mim, pois era isso que meu instinto de pescador ordenava. E, assim, em movimentos ritmados com a vara, entremeados com o recolhimento da linha, fui trazendo o peixe que, até aquele momento, tentava fugir rio abaixo.
     
    Repentinamente senti a linha afrouxar e notei que ele tentava uma carga, agora rio acima, em minha direção!
     
    Enrolei a linha o mais rápido que pude, pois havia aprendido que não devia deixá-la frouxa, sob pena de o peixe conseguir livrar-se do anzol. Senti, então, que ele já estava cansado e com movimentos mais calmos. Continuei enrolando a linha.
     
    Já antegozava o momento de exibi-lo ao meu pai e ao meu avô, que também estava nessa pescaria.
     
    O peixe estava agora bem próximo a mim e o problema, então, passou a ser como tirá-lo da água, pois não tinha comigo um bicheiro ou um puçá.
     
    Percebi que podia dirigi-lo de encontro à vala que havia entre o paredão e a ponta de praia onde me encontrava. Ali, a profundidade tornava-se gradativamente menor e, com calma, poderia trazê-lo no seco.
     
    Com esse pensamento na cabeça fui dirigindo o peixe até a entrada da vala.
     
    Estava dando tudo certo. Ele estava calmo e, aparentemente, entregue, pois até parecia que se dirigia sozinho até o canal.
    Subitamente meus pensamentos foram interrompidos.
     
    Parecia que a vara queria fugir-me das mãos.
     
    A água, espirrada pelo violento golpe do peixe, molhou-me o corpo quase todo.
     
    O restante foi uma sensação de...vazio. O peixe havia conseguido escapar!
     
    Por um tempo fiquei sem entender nada, querendo dizer “Isso não vale! Volta aqui e vamos começar tudo de novo!”.
     
    Parado, ali, com a vara na mão e a água respingando de meu rosto, só depois de vários segundos é que consegui proferir o primeiro palavrão!
     
    Enrolei o pouco de linha que, até então, me separava do peixe, querendo não acreditar que o anzol voltaria “limpo”.
     
    Contudo, passados os minutos iniciais de raiva, os pensamentos alegres voltaram. Afinal de contas, não era a sensação da briga com um peixe grande que eu queria sentir? Pois então, isso eu tive...e com uma intensidade até então inimaginável! A “briga” havia sido fantástica. Inegavelmente.
     
    Naquele mesmo dia consegui capturar vários peixes, inclusive um pintado de bom tamanho, talvez até maior do que aquele perdido. Mas, o que realmente marcou minha alma de pescador, de forma que nunca conseguirei esquecer, foi esse encontro com meu primeiro “peixe grande”.
     
     
    Obs.: Pescaria realizada no rio das Garças, MT, em julho de 1981. Equipamento utilizado: vara de fibra de vidro Mazzaferro 136, molinete Paoli, linha de nylon 0,50mm, anzol Mustad 8/0, iscado com pedaço de muçum.
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    Carlos Vettorazzi deu reputação a Luis Caiani em Nó 50 Voltas   
    Pessoal, bom dia,
    Estava dando uma vasculhada em nós para união da multi com o leader esses dias e encontrei o vídeo abaixo:
     
    Achei o nó muito bom, resistente e fácil de fazer, testei algumas vezes e ele quando bem feito, realmente não enrosca nos passadores.
    Porém, agora vem a minha dúvida, alguém aqui já utilizou esse nó com um açuzão na ponta da linha e sabe se ele realmente "guenta"?
    Valeu!!!
    Abs.
  4. Upvote
    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de João Neto em FERIADÃO NO LAGO DO PEIXE COM MUITO PEIXE   
    Beleza de peixes João!
    Abraço!
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    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de Anderson Luis Ribeiro Blas em RODANDO NO JAURU   
    O texto que hoje apresento a vocês foi escrito há muito tempo, lá no começo dos anos de 1980.
    É uma crônica em homenagem a um grande pescador e caçador, já falecido, que me ensinou várias coisas na pesca, dentre elas a rodada com varejões de bambu.
    Seu nome era Eduardo, mas não sei por que motivo era chamado por todos de Léo.
    Teimoso, sarrista, músico, professor, mas acima de tudo: pescador!
    A pescaria relatada a seguir foi realizada no rio Jauru, afluente do Coxim, no Mato Grosso do Sul. À época, as pescarias eram fartas em grandes pacus, pintados e jaús.
    Boas lembranças!
     
    RODANDO NO JAURU 
     Carlos A. Vettorazzi


     

     
    O bote descia lentamente o rio Jauru, controlado com maestria pelo remo de Léo Olitta, naquele tempo já com seus setenta e tantos anos.

    Tal era o silêncio estabelecido no barco, que podíamos ouvir os piados do jaó, lá nas encostas dos morros, bem distantes do rio.

    - “Eu sou...o jaó”, parecia querer ele dizer.

    As linhas eram mantidas a prumo, “caçando” o fundo do rio de vez em quando, para se ter noção da profundidade. No anzol, filézinho de curimbatá “azedo” (tirado na véspera e deixado ao relento).

    Sempre passando com o bote pelos pontos pegadores, coube ao Léo o primeiro peixe. Era um belo pacu e levara uma ferrada “de braço”, com o anzol cravando com perfeição em sua boca dura.

    Alguns minutos de luta e lá estava ele dentro do bote. Infelizmente, para ele, seria nosso jantar, no rancho.

    A rodada continuava e o dia já ia se aproximando de seu final. Casais de araras cruzavam o céu a caminho do pouso. Ave fiel. Dizem os entendidos que, uma vez estabelecido, o casal só se separa quando da morte de um deles. Coisa rara hoje em dia tamanha fidelidade...

    Do cerrado, partiam chamados frequentes de perdizes.

    A ornamentação das margens ficava por conta das árvores-de-pomba, em plena floração.

    Tanto eu quanto Antônio Fernando, filho do Léo, ainda não havíamos embarcado nosso peixe, embora ele já tivesse perdido uma fisgada. Provavelmente alguma piraputanga, ou douradinho, tentando roubar a isca.

    Deslizávamos em direção a uma corredeira, na cabeceira de uma pequena ilha de cascalhos, quando senti o peixe bater.

    -Peixe! Falei em voz baixa, com o ritmo cardíaco já alterado.

    O pacu abocanhou a isca com firmeza e tratou de nadar logo para próximo da margem, onde poderia digerir seu “jantar” em águas mais calmas.

    A linha seguia lenta e decididamente e eu acompanhava o movimento com a ponta da vara, na espera do momento mais adequado para a fisgada.

     Quando o ângulo formado entre a vara e a linha me pareceu o melhor, apliquei violenta ferrada, desencadeando uma das lutas mais emocionantes que até então tivera com os “parceiros de guelras”.

    A força de um pacu na água corrente é descomunal e a sensação que se tem é a de estar com um boi bravo na ponta da linha. O fato de rodarmos com varões de bambu, de quatro metros de comprimento, também colaborava para que tivéssemos que usar o “muque” para segurar o peixe.

    -Não tente embarcar já, aconselhava o Léo. Espere ele cansar mais.

    E lá ia o peixe. De lá pra cá e de cá pra lá, até pranchar ao lado do bote. Estava entregue...e eu ofegante, parte pela força que fizera, parte pela emoção da vitória. O “norueguês” havia cravado bem no canto da boca do peixe, no “canivete”. Sem chance.

    -Você fisgou bem, disse o Léo. “De braço” e na hora certa. Mas ferrou meio brando. Se fosse um dourado talvez você não tivesse embarcado.

    Deus do Céu, se aquela ferrada tinha sido branda, eu só imagino a força que ele devia por no braço para ferrar os seus peixes!

    O sol já ia baixo no horizonte.

    Fim de pescaria.

    A subida do rio, na volta ao rancho, foi alegre, mas o braço ainda estava “sentido” pelo trabalho com o peixe.
     


    Piracicaba, novembro de 1983

  6. Upvote
    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de Ricardo A. em RELATO - Familia + Amazonia = realização de um sonho   
    Ricardo, beleza de relato, parabéns!
    Que impressionante essa paixão do Ricardinho pela pesca.
    Tenho uma ideia de como ele esteja se sentindo, pois também tive a felicidade de poder pescar com meu pai e meu avô. São lembranças e ensinamentos que se carregam pela vida!
    Grande abraço ao trio!
  7. Upvote
    Carlos Vettorazzi recebeu reputação de Thiago Roberto Martins em Tucunaré nas artificiais.   
    Thiago, como já foi comentado, o negócio é persistência.
    Uma hora dessas você começa a acertar a mão, pode ter certeza.
    O João é um excelente pescador e sempre disposto a ajudar os colegas. Com certeza, vai ajudá-lo com dicas valiosas.
    Grande abraço!
    P.S. A título de curiosidade, eu já ouvi algumas vezes a história de que em lugar onde se pesca muito com isca viva, e se pratica o pesque e solte, fica difícil capturar o tucunaré na artificial. Não acredito que seja o caso da represa de Capivara, mas, em todo caso...
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